Suas roupas estavam molhas, e a respiração tensa; o breu intenso cobria quase tudo, o pouco que se via era iluminado pela lua que reinava soberana sobre céu bordô; as ruas ainda estavam vazias, não havia como sabe se era dia ou noite, o breu tomou tudo subitamente e sob sua tutela cada instante durava um século, o imenso silêncio preenchia a noite que parecia não ter fim.
Nuvens carregadas começavam a se juntar novamente, com ela o vento forte o suficiente para arrancar galhos inteiros e até mesmo derrubar as árvores secas de Crinson.
A janela começa a ficar embaçada com o calor da cabana, que por pouco não havia sido arrancada do chão com a rajada anterior, partes da palha do telhado se perdeu com o vento e o interior da choupana estava completamente encharcado; no pequeno quarto dentro da choupana grudado a janela, ali estava Telfos, assistindo os homens de Dália – a rainha Carmesim – marchando para fora do castelo; a tempestade denunciava: a inclemente monarca estava furiosa; o estrondo de um trovão então rompeu o silencio acompanhado de um raio que dividiu o céu em e em seu encalço a chuva voltou ainda mais impiedosa; a madeira rangia e se curvava tentando resistir a força do vento, a palha do telhado não teve a mesma sorte e voou por inteiro, o habitante da cabana estava à mercê da sorte dos deuses.
somada ao barulho da chuva a marcha dos soldados tornava-se ainda mais assustadora – os Antúrios como era chamado o exercito de Dália eram os homem e mulher mais assombrosos já vistos, cavaleiros, caçadores, magos, feiticeiros e paladinos todos treinados para praticar o terror – o pavoroso som da marcha enfim anunciavam a chegada do exercito dos Antúrios à cidade.
Correu para fora do quarto enquanto ainda terminava de vestir a armadura, o clérigo de Inópia – Deusa Protetora dos miseráveis – nunca em toda a sua vida havia visto algo tão terrível, ungiu a maça com o pouco óleo que tinha pegado no templo; espiou mais uma vez pela janela, e viu que a pequena guarda da cidade comandada pelo nobre da vila estava sendo completamente massacrada; Telfos sabia que como clérigo teria que passar por momentos difíceis mais enfrentar o Exercito Carmesim parecia loucura.
O som de magias sendo lançadas e o tilintar de espadas havia tomado a cidade junto com o medo, não sabia ao certo por que do ataque apenas que era necessário defender aos aldeões; os mercenários a que estavam a comando do nobre da vila estavam empenhados em conter o avanço do inimigo, enquanto monges e clérigos resgatavam os feridos e os levando para a catedral que ficava na praça central.
—"Ó grande Inópia, protetora dos miseráveis, tende piedade desse povo que me incumbira de cuidar, fortifique as nossas armaduras e fortaleça aos nossos músculos para que possamos proteger a esse povo humilde, abençoe nossas armas e não permita que nenhuma morte seja em vão ou que qualquer vida seja desperdiçada, Pace" — Telfos havia acabado de terminar a sua prece que a cabana enfim começou a ceder; a rajada soprou ainda mais que as anteriores, arrebentando o trinco e a dobradiça da porta arremessando-a contra o clérigo que estava se levantando; antes que a porta o atingisse Telfos a esmigalhou com apenas um golpe que sua maça; pelo brilho que ela emitia suas preces haviam sido ouvidas.
As ruas antes vazias agora encontravam-se no mais completo caos; membros, corpos dilacerados e vísceras estavam espalhados por todos os cantos, corpos de membro do clero haviam sido empalados e deixados em frente as casas aterrorizar os aldeões, dessa vez os ataque foi ainda mais pesado que nas outras.
Mal havia passado pelos batentes de sua porta e a primeira ameaça já vinha em sua direção; dois homens empertigados em suas armaduras de ferro forjado vinham correndo em sua direção, o primeiro usava um elmo com um chifre negro e brandia uma espada com o tamanho de sua envergadura enquanto o outro carregava um lamina grossa para estoca-lo; ambos atacaram simultaneamente, o clérigo desviou o ataque do homem com a espada longa com um golpe de sua maça, lançando com toda força o soldado para o lado fazendo-o perder o equilíbrio, rapidamente usou o antebraço da armadura para aparar o segundo golpe – sentiu os ossos rangerem com o impacto da lamina pesada – disposto a seguir em frente para descobrir o motivo do ataque Telfos se viu obrigado não perder muito tempo lutando contra os dois soldados, o clérigo então se concentrou em uma prece, dessa vez o primeiro ataque partiu do homem da lamina pesada, o soldado vinha novamente com a ponta da lamina apontada para o servo da protetora dos miseráveis que dessa vez não se conteve em responder o ataque, ergueu a maça e com o mesmo brilho que estilhaçou a porta agora ela estraçalhava os ossos do braço do soldado inimigo, Telfos esquivou do golpe com o balanço do corpo e desceu a maça contra os braços estendido de seu algoz com toda a força concedida a ele por Inópia, ao ver a ferocidade e violência com que o clérigo havia atacado o seu companheiro o soldado com a lamina longa não titubeou e com ainda mais ódio correu para atacar o clérigo, Telfos apenas repetiu o movimento anterior e desviou o golpe de seu inimigo, contudo dessa vez ao vê-lo perder o equilíbrio avançou para perto de inimigo e segurou seu pescoço como se fosse enforca-lo –"Pace"– disse o servo da deusa concluindo a sua prece e então o rival urrou desesperado, arrancando o seu elmo mais rápido que pode e ao tocar a sua face sentindo pústulas se formarem e a carne apodrecer rapidamente; ao final do combate Telfos partiu em direção a praça central, não se esqueceria de que incluir as almas dos soldados em suas orações.
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Crônicas do Viajante
AdventureHistória de um jovem que resolveu sair em buscar de novas e velhas historias para contar.