|Empty Space|

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"Donde pode nascer o amor? Talvez de uma súbita falha do universo, talvez de um erro, nunca de um acto de vontade."

|Marguerite Duras.

|22:50, Casa dos Gubler.

Gritos, lagrímas e vasos sendo quebrados parecia ser tudo rotina do nosso dia-a-dia como família "normal, que tentavamos ser todos os dias. Várias eram as vezes em que nos escondiamos debaixo da cama em completo silêncio, para não sermos abordados pela fúria do capitão da marinha de Greensville Matthew Gubler que na qual chamavamos de pai, um adjetivo com um significado tão forte para um homem tão cruel. Desde pequena que encarava-o como o meu herói, era tudo que uma criança poderia desejar, o pai perfeito que chegava a casa sempre com presentes nas mãos e amava demais a sua família... Mas as coisas mudaram após o nascimento de Wendy e Alex, as agressões se tornaram constantes mamãe mal conseguia esconder os hematomas espalhados pelo seu corpo, era tudo a base de aparências para não chegar a decadencial, que na qual já se encontrávamos, mesmo fingindo não saber. Viviamos como uma família exemplar, até os surtos começarem, deixou de ser o meu herói e passou a ser um monstro de que temíamos, mas para toda a cidade era o bravo Capitão Gubler, um herói de guerra bastante destemido,inspiração para toda a cidade. Mamãe um ser tão dócil e delicado que aguentava tanto sofrimento dia apos dia, era uma típica mulher negra com um passado bastante sofredor que lhe deixara várias cicatrizes na alma. Apesar de papai ser uma pessoa bastante conhecida viviamos uma vida simples em um bairro de classe média de Greensville. Mamãe cuidava da casa como uma verdadeira dona de casa, todo mundo admirava a bondade que Charlize Gubler exalava, cuidava de todos e estava sempre desposta a ajudar, era um anjo para todos que tinham o prazer de passar pelo seu caminho.

O silêncio se instaurou em toda a casa, Alex olhava para mim com medo estampado em seus olhos negros como a noite, apesar da pouca idade era um grande observador. Levantei sendo seguida por Wendy que durante todo o momento manteve-se calada, peças de objectos que mamãe gostava estavam quebradas e jogadas por todos os cantos da casa. Wendy deu um grito que logo foi abafado por suas mãos pequenas que cobriram sua boca em susto, mamãe estava jogada no chão gelado da cozinha, seu rosto ensaguentado causava-nos pánico não imaginava que pudesse chegar ao extremo, sua crueldade não tinha limites, e a sua família era o seu saco de pancada. Ajudei mamãe a caminhar até ao seu quarto, seu rosto se contorcia a cada passo que dava, apesar da dor era possível avistar resquisios de vergonha no rosto por presenciarmos seu momento de fraqueza, apesar do medo Wendy arrumava toda a bagunça que habitava na casa, resmungando alguns improperios em tamanha indignação.

-quando vai acabar mamãe? Até quando teremos que suportar?

O silêncio era a respota que sempre recebia quando tocava no mesmo assunto, apesar do sofrimento ela amava-o da maneira mais insana e incompreensível que poderia existir. mesmo relutante beijei o seu rosto e deixei-a só, ainda existia em mim uma pontada de esperança de que mamãe pensasse melhor e pudéssemos sair daquele inferno. Alex dormia na cama de wendy que ainda sussurrava a sua canção de ninar que tanto gostava desde pequeno, e como todas as noites de "inferno"demorariamos para encontrar o sono.

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Como se nada tivesse acontecido na noite anterior mamãe colocava o pequeno almoço na mesa com ajuda de Wendy que trajava o uniforme da escola. O o vestido laranja deixava-a ainda mais linda apesar dos hematomas que eram mal cobertos pela maquiagem, continuava sempre elegante e tradicional. Papai tomava o seu café como se nada tivesse ocorrido, trajava mais um de seus fatos da marinha emoldurados por medalhas de honra que tanto ostentava com orgulho. Sentei ao lado de Alex que se esforçava para terminar os cereais e não chegar atrasado a escola, beijei o seu rosto arrancando-lhe sorrisos de felicidade. Wendy se jogou na cadeira proxíma de mamãe recebendo um olhar repreendedor de papai, que se mantivera calado durante todo o momento. O silêncio se acomodou na mesa apenas se ouvia ao fundo o barulho do desenho animado que apresentava na TV.

Um camião de mudanças se encontrava estacionado em frente a antiga casa dos Apatow uma família de advogados que abandonou o seu ambiente após a morte do senhor Apatow o patriarca da família, eram todos muito simpáticos e religiosos. Continuamos a caminhar em direção ao ponto de autocarro ignorando a curiosidade que nos habitava de quais seriam os possíveis inclinos da casa, concerteza mamãe com toda a sua bondade arranjaria um jeito de dar-lhes as boas-vindas da melhor forma possível, esquecendo-se sempre dos vários problemas que já acarretava em suas costas.
O campus da universidade estava cheio de estudantes enturmados nos seus grupos e outros espalhados por si só. Molly tagarelava sobre uma das festas da hirmandade que seria organizada no final de semana e que segundo as suas ideas nada lúcidas deveríamos fazer parte. Seu cabelo recentemente cortado em um Channel esvoaçava a medida que o vento se intensificava, seus olhos se iluminavam sempre que falava do nosso curso de medicina nossa verdadeira paixão. Ainda lembro da forma especial e clichê que nos conhecemos e nos tornamos melhores amigas a típica estória da menina negra e da menina branca, que sofriam bullying e encontraram uma na outra a valvula de escape de que tanto procuravam como um "Alter Ego".

-vamos Mariya!- insistiu, enquanto tentava prender o meu cabelo desobediente em um "Afro Puff" mais estiloso. 

-não Molly, tenho que trabalhar.-resmunguei.- preciso muito desse trabalho.

Mesmo desapontada continuou a tagarelar sobre um episodio da sua serie favorita que não me importava nada em fixar o nome. Seus pais eram os melhores cirurgiões de Greensville, dedicavam a maior parte do seu tempo ao trabalho eram verdadeiros "workhoalic" fazendo de Molly a filha ignorada pelos pais ricos. As horas não demoraram a passar obrigando-me a caminhar mais rápido em direção a cafeteria em que trabalhava. Papai se encarregou de pegar Wendy e Alex na escola para o espanto de mamãe, que ainda não despunha de forças suficientes para abusar da sorte...

Love On The BrainOnde histórias criam vida. Descubra agora