|Talking To The Moon|

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"Quando se tem uma certa moral de combate e poder, é preciso muito pouco para se deixar levar e passar ao excesso."
                             |Marguerite Duras.

|23:00, Rua desconhecida.

Fui uma das últimas funcionárias a sair do café, e para a minha infelicidade a chuva decidiu cair naquele exacto momento, era uma conspiração do destino contra mim. Apressei os meus passos, e praguejei os céus  quando senti o meu cabelo encolher e ficar ainda mais volumoso, teria um enorme trabalho para o desembaraçar. Ligar para o Aidan estava fora de cogitação, ele estava em outra cidade para um workshop.

As minhas roupas estavam cada vez mais molhadas, não seria uma péssima ideia parar em algum lugar para me abrigar da chuva, se eu não tivesse medo de ser assaltada naquela rua que eu nem sequer conhecia. Os faróis de um carro desconhecido iluminavam o meu rosto com agressividade me impedindo de ver quem era o suposto condutor, temia que fosse algum homem perigoso.

-Maryah!- chamou abrindo a porta do carro.

Pode soar cliché, mas o meu coração parou por breves segundos ao vê-lo tão próximo de mim, com as roupas molhadas e o seu olhar enigmático, ficava ainda mais encantador molhado com a água de chuva.

-sr. Melendez.- respondi me aproximando dele. No fundo do meu coração agradecia por ser ele e não um psicopata.

-entra no carro eu levo você para casa.

Eu poderia ter negado, mas não tinha tanta certeza de que algum táxi passaria aquelas horas da noite. O carro dele cheirava a canela e café, era o seu cheiro particular impregnado naquele lugar, a estas horas me arrependia de ter aceitado o convite,  era como ser convidada para o inferno, não tinha mais volta.

Durante o caminho até casa nos mantinhamos em silêncio, no rádio tocava uma música melancólica. Aproveitei a oportunidade de estar tão perto dele para poder observar os detalhes dele, como o jeito que ficava sedutor com aquela barba, ou o seu semblante sério que eu tanto gostava. Poderia passar horas a observa-lo por mais errado que aquilo fosse.

-sr. Melendez obrigada por se dar ao trabalho de me levar a casa, apesar de moramos de frente um para o outro, claro.- disse-lhe olhando para as minhas unhas mal feitas.

-por favor Maryah, pare de me chamar de senhor.- pediu suspirando em seguida.- somos vizinhos, e eu acho que pelo jeito que você olha para mim todos os dias...

-O QUÊ?- gritei assustada.- você olha sempre para mim, eu nunca olhei para você.

-eu sei que você está interessada em mim menina.- sorriu discretamente.

-você é louco?! Eu nunca me interessaria por você.- respondi exaltada.

O sr. Melendez parou o carro bruscamente me deixando ainda mais assustada com as suas atitudes. O seu corpo se aproximou do meu, fazendo com que não existisse mais espaço entre nós, era apenas uma camada invisível que nos separava da loucura.

-é isso que veremos.- sussurrou próximo a minha boca.

Seus lábios sugavam os meus com urgência, devoravam a minha boca como um animal faminto que não se alimentava a bastante tempo. O seu beijo era muito melhor do que poderia imaginar, muito mais viciante do que qualquer outra droga no mundo. Suas mãos puxaram o meu corpo de encontro ao seu me obrigando a sentar no seu colo. O seu beijo me deixava excitada, principalmente quando as suas mãos me apertavam ainda mais contra si. Mas foi o meu gemido que me fez recobrar a sanidade e me afastar dele com pressa. Não conseguia raciocinar tudo que tinha ocorrido em tão pouco tempo. E por mais errado que pareça, eu tinha gostado de tudo, e queria tudo o que poderia oferecer.

-você não pode fazer isso!- vociferei. Os meus nervos estavam a flor da pele.- você é casado e meu vizinho.

-calma Maryah.- segurou as minhas mãos com delicadeza.- nós vamos conversar.

-não! Eu vou para a minha casa.

Tentei sair do carro, mas as suas mãos grandes e fortes me obrigaram a ficar.

-eu entendo que você esteja assustada e que precise de um tempo. Por isso apenas a deixarei em casa.

O resto do percurso até nossas casas foi feito em completo silêncio, Melendez conduzia calmo concentrado na estrada e eu aqui  baralhando a minha mente com o recente beijo. A lua era testemunha de toda a confusão que habitava dentro de mim.

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|12:23, Casa dos Gubler.

Estava sentada na mesa com o resto da família, tinha uma hora de almoço antes de voltar para a cafeteria. Brincava com o brócolos no meu prato enquanto ouvia o meu amado pai falar sobre o nível de marginalidade na cidade, minha cara de cansaço não desfarçava a minha noite mal dormida , aquele beijo me atormentava, eu não conseguia parar de pensar nele.

A campainha foi tocada despertando a nossa atenção. Wendy foi abrir sem muita paciência. Para o meu espanto era o sr. Melendez trajado com mais um dos seus fatos feito sob medida, o seu olhar cruzou com o meu me fazendo lembrar novamente do quão intenso ele era.

-sr. Melendez bem vindo!- disse papai o cumprimentando.- espero que não tenha acontecido nada de grave.

-obrigado sr. Gubler, mas infelizmente preciso de algumas informações que apenas o senhor como capitão da marinha, me pode fornecer.

-claro.- respondeu papai prestativo.- sente e almoce connosco.

-não quero incomodar.- respondeu o sr. Melendez olhando para mim.

-sente por favor.- pediu mamãe indicando um lugar para ele.- hoje eu preparei a comida favorita da Maryah.

O sr. Melendez se sentou sem tirar os olhos de mim nem por um segundo, me sentia desconfortável dentro daquele espaço ao lado dele, tendo que fingir que não tinha acontecido nada. Levantei decidida a voltar para o trabalho mais cedo.

-eu vou voltar para o trabalho.- comuniquei para o meu pai que aguardava por uma explicação quando me viu ficar  em pé.

-ainda é cedo Maryah.- disse mamãe consultando as horas no seu relógio de pulso.

-ah! Papai quase me esquecia, hoje pedi que Maryah me ajudasse com o vestido do baile do colégio.- disse Wendy.- peço perdão por não ter informado com antecedência.

-tudo bem.- respondeu papai desconfiado.- podem ir.

Nos despedimos de todos, até mesmo do sr. Melendez e saímos de casa.

-obrigada por ter me ajudado.- agradeci sacudindo o cabelo dela.

-nada por isso, mas você fica me devendo uma.- respondeu audaciosa como sempre.

-o que você quer?- perguntei revirando os olhos.- dinheiro?

-não, quero que você convença o papai a me deixar ir a festa de pijama da Jennifer.

-OK. - respondi derrotada, seria um longo trabalho árduo pela frente.

Entrei na cafeteria depois de deixar Wendy na casa de uma de suas amigas da escola. Estava agitado, mas nada que não pudesse contornar, o dia seria longo e exaustivo.

Love On The BrainOnde histórias criam vida. Descubra agora