TRÊS

823 114 59
                                    

capítulo iii.
❝ your wife. ❞

Quando Zeus percebeu que sua crise de ódio havia originado uma tempestade gigantesca na cidade, ele viu que era hora de parar.

Seu quarto no hotel estava completamente destruído, mas ele poderia dar um jeito, e ninguém sequer perceberia que algo havia acontecido.

O deus olhou para os seus próprios punhos. Feridos, graças ao espelho quebrado. Para aquilo, teria que comprar algo para ajudá-lo.

Zeus lavou o excesso de sangue nas mãos, vestiu uma roupa e saiu do quarto, quase esbarrando em um homem no processo. O loiro o encarou, claramente desconfiado. Afinal, alguém sair de um quarto com os punhos gravemente feridos não poderia ser considerado algo comum.

— Olá. — Ele murmurou, fixando o olhar nas feridas, que Zeus fez questão de esconder dentro dos bolsos do moletom.

— Oi. — Zeus respondeu-lhe, passando os olhos pela figura musculosa que o homen era. Os olhos azuis dele entregavam todo o medo e insegurança que sentia, fosse lá o motivo. — Hóspede novo?

O loiro assentiu, e o deus aproveitou a deixa para, simplesmente, acenar com a cabeça e sair. Mesmo se afastando, ele podia sentir os olhos do homem cravados em suas costas, analisando-o e esperando por qualquer movimento suspeito.

Zeus pensou na possibilidade de ser alguém enviado por Hera — a causa de todo a sua raiva, graças a uma visita um tanto inesperada —, mas logo afastou a ideia. Aquele homem não parecia sequer saber quem Zeus era. Então, ou o loiro era um ótimo ator, ou o deus realmente estava enxergando coisas onde não havia nada.

O moreno caminhou de cabeça baixa pelas ruas da pequena cidade, notando o estrago que a tempestade havia deixado. O porto havia se transformado em um verdadeiro caos, haviam pequenas árvores caídas e plantas menores completamente destruídas.

Quando entrou na farmácia, viu Rachel parada ao lado do caixa, conversando com a dona do estabelecimento.

— Zeus, minha nossa, o que aconteceu com as suas mãos? — A ruiva se aproximou do mais alto, pegando instantaneamente as mãos do mesmo. O deus mordeu o lábio quando notou que o sangramento ainda não havia parado.

— Eu gostaria de ter um modo simples para explicar. — Ele murmurou, observando a mulher pegar todo o material para fazer os curativos das prateleiras, falando para a atendente que pagaria depois.

— Assim como não saberia explicar sobre a sua mulher? — Ela rebateu, de forma quase inaudível, mas de modo que ele pudesse escutá-la claramente, o que fez seus músculos se enrijecerem. — As conversas fluem rápido por aqui, Zeus. É uma cidade pequena, deveria saber disso.

— Eu-

— Você não me deve explicações. — Ela o interrompeu, apertando as faixas sobre os ferimentos do mesmo um pouco além do que seria necessário. — Nem mesmo chegamos a ter algo. Quero dizer, o mais longe que fomos foi um selinho. Na frente dela, aliás.

Zeus não tentou dizer nada. Sabia que Rachel não o ouviria. Ela não seria do tipo que cedia apenas com um pedido de desculpas e uma promessa de mudança — exatamente como Hera.

Talvez, fosse melhor daquele modo. Se relacionar com uma mortal — mais uma vez — em um momento como aquele, onde Zeus já não poderia voltar ao seu lar, seria um grande erro.

Mas Rachel era a única pessoa realmente especial que surgira na vida do deus naquele pouco tempo desde que chegara na cidade. Tinha Hellen, é claro. A dona do hotel lhe fazia o maior dos favores, deixando o moreno morar em seu terreno, cobrando apenas uma pequena taxa no final do mês. Mas Rachel se tornou incrivelmente especial. Mostrou uma humanidade diferente para alguém que esteve acostumado com a divindade por séculos, experimentando do mortal apenas quando lhe dava a vontade de deixar a esposa de lado e provar algo novo.

zeus ── marvelOnde histórias criam vida. Descubra agora