SETE

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Desde o momento em que Atena disse que tivera uma visão, e que precisavam salvar deuses menores de um lugar qualquer, ele pensou que não teria problema algum com aquilo. Quer dizer, invadiriam um local com segurança mortal. Não deveria ser tão difícil, e nem mesmo conseguia entender como outros deuses haviam ficado presos lá, precisando da ajuda de Atena para sair. Era, no mínimo, estranho, e o deus não conseguia parar de pensar que, talvez, as coisas tivessem saído do controle de uma forma maior do que ele imaginava, depois que deixara o Olimpo, e que tudo aquilo poderia ser sua culpa. Provavelmente era. Afinal, boa parte da força do lar dos deuses sempre viera dele, e sempre soube que sua ausência os colocaria em uma posição um tanto estranha.

Mas pensar que aquilo — e outras coisas que, talvez, ainda não soubesse — eram sua culpa, aquilo era péssimo. E ele nem sabia que podia se sentir desse modo por algo.

Exceto pela breve conversa com Atena no carro, à caminho do sul, o deus não falou muito. Passou a maior parte do tempo recostado na janela do veículo, brincando com os próprios anéis, mudando-os entre os dedos, os fazendo flutuar no ar. Um claro resultado do tédio. Até o determinado momento em que acabou por pegar Steve Rogers o encarando. Não soube identificar ao certo o que a expressão do soldado deveria transmitir, especialmente quando, mesmo notando que Zeus o encarava de volta, ele não desviou o olhar. Mas não parecia ser algo bom e, sinceramente, o deus não o julgava. Já havia muito tempo desde a última vez que alguém o olhou com uma verdadeira admiração.

Na maioria das vezes, quando alguém o olhava por muito tempo, era porque estava planejando uma forma de mandá-lo para o Tártaro. Mas duvidada que Rogers soubesse muito sobre o local para que quisesse mandá-lo para lá. Para o que chamavam de inferno, quem sabe. Seria mais provável. O pensamento o fez rir baixo, o que acabou desviando o olhar de Steven, que pareceu achar algo mais interessante para observar do lado de fora, embora o carro fosse a uma velocidade considerável. O deus acabou por voltar sua atenção — ou a falta dela, se pensasse que sua mente parecia estar em qualquer lugar, senão ali — para onde estava antes, até que chegassem no local em questão. Na verdade, há alguns quilômetros dele. Seria burrice parar o carro perto, a menos que quisessem que alguém os visse antes mesmo do plano começar.

Seria mil vezes mais difícil fazer o que deveriam fazer, e ainda teria que lidar com Atena lhe enchendo a paciência sobre precisarem tomar cuidado em seus planos, ao invés de agir como soldados de primeira viagem. Era o tipo de coisa que ele tinha a certeza absoluta que ela diria, caso falhassem. Para a sorte dos ouvidos do deus, ela não costumava falhar. Era um estresse a menos.

— Certo, o plano já foi passado. — A deusa da sabedoria suspirou, movimentando as pontas dos dedos sobre as têmporas. — Zeus, tem certeza que consegue fazer isso?

— Não entendi a pergunta.

— Certo, eu serei mais clara. Consegue fazer isso sem tentar ser um engraçadinho e acabar estragando tudo?

O deus abriu a boca, mas não conseguiu falar nada. Limitou-se a encará-la, incrédulo. Ela havia acabado de falar com ele como se fosse uma criança atrapalhada. Ou, na verdade, como o tipo de pessoa que não conseguia fazer nada sem tentar aparecer, causando uma confusão graças à sua necessidade de atenção.

Se ela estivesse falando com o mesmo sentido da segunda opção, por mais que não gostasse de admitir, ele não a julgava. Ainda assim, não dava direito algum de falar com ele daquela forma, na frente dos outros.

— Prefiro fingir que você não disse isso. De verdade. — Grunhiu, respirando fundo em uma tentativa de controlar a própria respiração. Não arrumaria discussão nenhuma naquele momento. Não podia. — Eu fico com o Rogers, certo?

zeus ── marvelOnde histórias criam vida. Descubra agora