Capítulo 2

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O jantar tinha fluído com uma naturalidade fora do comum, típico de quando estávamos todos juntos.

Devo realçar que a lasanha que a Dona Anabela, mãe de André e Afonso fez, estava uma delícia, e nos deixou bastante satisfeitos.

Agora, todos juntos no sofá, assistíamos a um filme qualquer que eu não estava a prestar atenção, uma vez que era de terror, e eu não era muito fã desse género de filmes.

Os meus pensamentos encontravam-se focados no moreno sentado ao lado do meu irmão, e eu estava a mil, por apenas não lhe ter dirigido uma única palavra durante o jantar inteiro.

Levantei-me e recolhi as chávenas do café vazias de cima da mesinha de centro, e dirigi-me para a cozinha, de modo a fugir um pouco à atmosfera monótona que se encontrava na sala de estar.

Respirei fundo e engoli as lágrimas que se ameaçavam formar nos meus olhos, por simplesmente não aguentar mais o ambiente instável entre mim e o meu melhor amigo. As coisas estavam totalmente fora do normal, e eu não sei se aguentaria aquilo por muito mais tempo.

Era angustiante estar perto dele e não poder o abraçar, por simplesmente sermos ambos infantis.

Suspirei e fechei a máquina de lavar louça, pronta para voltar outra vez para a sala.

Entalei um grito na garganta, quando avistei André encostado no batente da porta, de braços cruzados.

— Assutaste-me! — afirmei com a mão no peito.

— Desculpa, não era minha intenção. — proferiu, e eu assenti lentamente, enquanto ficava um pouco sem jeito, por não saber o que dizer. — Acho que nós precisamos de conversar, certo?

— Certo. Eu... Desculpa. Aquela discussão foi parva. E, muito do que disse foi da boca pra fora. Sabes perfeitamente que sempre te apoei na tua carreira, e nunca na vida iria pensar que só estás a desperdiçar o teu tempo no futebol, porque na realidade tu és espetacular, e o futebol é o que te faz feliz!

— Eu sei, Vi. E eu também te devo um pedido de desculpas, porque fui imaturo. Nunca devia ter dito que és incapaz de acabar a faculdade medicina, porque na realidade és mais do que capaz! Tu és capaz de tudo, Vi, tudo! — deu um ligeiro sorriso, que se reflectiu na minha face.

— Tenho saudades tuas. — confessei baixinho, e rapidamente André me envolveu nos seus braços musculosos.

— E eu tuas... — suspirou baixinho, e apertou-me nos seus braços.

Ficamos abraçados um ao outros durante alguns minutos, e no fim ambos puxámos uma cadeira, e sentámo-nos, falando sobre tudo e mais alguma coisa.

Era tão bom poder estar de volta ao que tínhamos antes, e embora a nossa zanga tivesse sido parva e infantil, ambos éramos bastante maduros para resolver a situação, embora às vezes a nossa infantilidade se sobressaísse.

— Vamos voltar para a beira deles? — perguntei com um ligeiro sorriso e o moreno assentiu.

André colocou o braço por cima dos meus ombros e regressámos à sala. Ao entrar na mesma, o olhar dos nossos irmãos foi dirigido a nós, e sorrisos radiantes apareceram nas suas faces.

— Ora, ora o que temos aqui? — Afonso indagou e eu revirei os olhos. Vai começar com as piadinhas. — Vejam só, o casal maravilha fez as pazes!

— Tá calado, puto! — André ordenou e atirou-lhe com uma almofada à cara.

— Vais dizer que não são um casal?

— Não Afonso. Nós somos amigos. Aliás, melhores amigos. Já há muitos anos. — respondi e ele revirou os olhos.

— Um casal de amigos, era isso que eu ia dizer, mas não me deixaste acabar! — exclamou e eu balancei a cabeça.

— Obviamente, Afonso! — soei irónica e logo o mais novo começou a rir.

Ocupei novamente um lugar, desta vez com André ao meu lado, que me envolveu nos seus braços, e eu deitei a minha cabeça no seu peito. Respirei o seu familiar perfume masculino, e sorri, porque sabia que estava onde sempre pertenci.

(...)

Senti um leve abanar, e abri os olhos, reparando que estava a ser carregada ao colo pelo meu melhor amigo. Provavelmente tinha adormecido a meio do filme.

— André? — perguntei sonolenta, e o moreno olhou para mim.

— Vou-te deitar na minha cama. O teu irmão já foi embora. — respondeu às minhas perguntas interiores, e de repente senti-me a ser deixada sobre algo extremamente confortável. — Vou arranjar-te qualquer coisa para dormires. Não creio que o teu vestido seja muito confortável.

Ri ligeiramente e assenti. Realmente um vestido não era a roupa mais confortável para dormir. Rapidamente o moreno me trouxe uma t-shirt e uns calções de desporto, que eu prontamente vesti. Logo de seguida deitei-me debaixo dos lençóis, com cheiro a André.

Alguns minutos depois senti a cama a afundar, e o rapaz deitou-se ao meu lado.

— Boa noite, Vi! — desejou.

— Boa noite, Dré! — sorri satisfeita, e logo me entreguei ao sono.

SAFE HAVEN | André SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora