Oito - O interrogatório dos santos

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Sentada na primeira fileira Alexandra Vanderwoods não consegue parar de fazer contas na cabeça

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Sentada na primeira fileira Alexandra Vanderwoods não consegue parar de fazer contas na cabeça. São 9h22 da manhã de quarta-feira, e, já 24 horas, Thomas Riddle participou da chamada pela última vez. Seis horas e cinco minutos depois, ele morreu. Dezessete anos, morreu assim, do nada. Essa conjectura banal que a morte faz quando quer nos unir. A morte dentro da minha cabeça sempre se correlacionou muito bem com a mentira. Calma, veja bem.

Há de se admitir que é no epitáfio que chegamos ao ponto alto da igualdade. Todos mentimos, todos morremos. Como é que George R. R. Martin diz? Todo homem deve morrer. Acho que posso adicionar mais uma coisinha nessa tão celebre frase: Todo homem deve morrer e todo homem deve mentir. É isso que nos torna humanos, né?

Alexandra escorrega ainda mais contra a cadeira, a gola do seu uniforme sufoca seu pescoço como uma corda. Todos parecem estar em uma espécie de transe absoluto. E também ela. O blog do Desperado faz atualizações por minuto querendo pegar pra si o título de justiceiros do apocalipse.

No geral, isso não incomodaria Alexandra. Mas havia nesse morte um ponto correlacionante e latente: Lyra e Andrômeda estavam na sala quando Thomas Riddle morreu, e ela sabia pela própria Andrômeda que o arrogante garoto tinha a informação que queimaria aquela cidade em caos. Nem o sistema do Desperado, acostumado a lidar com fofocas estava pronto para receber uma daquele tamanho.

— Você está bem? – Romeu estende o braço e dá uma leve sacudida no ombro da garota. – Que merda, ein? – Ele murmura parecendo excitadíssimo. Provavelmente tinha cheirado qualquer porcaria antes de ir pra aula. Romeu queria mostrar que era mais drogado e mais cult que qualquer um. – O que você acha que aconteceu?

Quando Alexandra abre a boca para responder, a professora de teologia, se levanta da mesa. Todos os alunos meio que acordam do seu transe, ela segura na beira da mesa. Funga e suspira algumas vezes. A morte e sua habilidade de fazer todo mundo que era ruim, magicamente ficar bonzinho.

— Tenho um anúncio oficial do reitor de Wisteria Royal School. Sinto muito em ter que ser eu a portadora desta terrível notícia. Na tarde de ontem, o amigo de vocês, Thomas Riddle, sofreu uma crise convulsiva. Os médicos de prontidão chegaram imediatamente ao local, mas, infelizmente, todos os esforços foram tarde demais para ajudar Thomas Riddle. Ele veio a óbito ainda nas dependências da escola.

A primeira reação de Alexandra foi levar os olhos até o seu celular. E ela sabe que metade da turma faz o mesmo. É o desperado que está arrancando e dando aos alunos doses exacerbadas de ficção que talvez não seja tão ficção. Há linhas e linhas de ataques a Lyra e Andrômeda, em especial.

— Parece que a coroa real deu uma estremecida. – Romeu sorriu colocando seu celular de volta no bolso. Havia um brilho de satisfação no seu olhar. Alexandra podia muito bem imaginar o motivo.

Ela sempre achou o blog do Desperado uma forma patética de criar caos naquele meio que normalmente priorizava brigas e trocas de informações. Mas quase nunca eles mentiam, e ninguém sabia quem era o dono daquele site. Todas as vezes que alguém o derrubava, o site voltava a tona e seguia levantando os tapetes onde as pessoas escondiam seus esqueletos.

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