Capítulo 8.

5.9K 502 265
                                    

Uma leve brisa corria pelo lado de fora, enquanto qualquer vestígio daquele ar era impenetrável para mim, já que eu estava protegida por uma grande janela transparente. Pousei o meu copo de café na mesa de madeira e folheei o meu exemplar já surrado, devido ao tempo, de "O amor é um cão dos diabos" do velho Bukowski.

Eu não era de rabiscar ou escrever em qualquer um dos meus livros, mas na primeira vez que eu li, achei um verso bem interessante, então tive que sublinhar:

"agora ela se foi
como todas se vão.
desta vez o negócio acabou comigo.
é um longo caminho de volta
mas de volta pra onde?"

Lembro que esse trecho ficou preso na minha mente por semanas. Era como se aquele verso definisse tudo sobre todo esse clichê adolescente de acharmos que estamos perdidos. Era exatamente assim que eu me sentia quando não me encaixava em nenhum colégio. Sentia como se eu fosse diferente. E o ciclo sempre se repetia. Eu fazia algo errado e acabava sendo transferida para outro colégio. Até que, eu finalmente achei um lugar para mim no interior de Londres. As coisas pareciam estar finalmente se encaixado.

Meus olhos desviaram a atenção das pequenas letras do livro e focaram na presença de Harry, sentando na minha frente.

Ele parecia muito mais relaxado do que da última vez que o vi. Talvez fosse pelas roupas que ele usava, que o deixava com uma aparência mais leve e confortável. Franzi o cenho, olhando para os lados por estarmos em uma cafeteria. Nunca chegávamos tão perto um do outro fora do colégio.

– Não sabia que você gostava desse lugar.

– Sempre venho aqui para ler. — Falei, ainda confusa com a sua presença. – O que está fazendo aqui?

– Estava vindo buscar um café e te vi sentada. Achei que era a melhor hora para te entregar isso.

Observei atentamente Harry retirar do bolso um papel, cuidadosamente dobrado, e entregá-lo para mim.

– O que é isso? — Perguntei.

– Seu teste. Revisei a sua interpretação do texto e mudei a sua nota.

Uma sensação um tanto estranha dominou o meu peito. Não sabia porque estava me sentindo desconfortável com toda aquela situação. Pra ser sincera, eu tinha me esquecido completamente daquele teste. Desdobrei a folha cuidadosamente e vi a mudança da nota.

Harry tinha me dado um A, mas mesmo assim, eu não estava feliz.

– Qual o problema? — Ele perguntou, claramente notando a confusão que permanecia estampada em meu rosto.

– Eu sei que vai parecer contraditório, mas..— Falei, tentando encontrar as palavras certas para continuar. – Eu não quero que mude a minha nota.

– Como assim?

Harry parecia tão confuso quanto eu.

Suspirei, sabendo que o que eu estava prestes a falar provavelmente seria a coisa mais estúpida e louca que uma pessoa poderia dizer. Semanas atrás eu estava invadindo sistemas e jogando todo o meu bom comportamento no lixo por causa de uma nota, e agora que consegui, eu não estava feliz.

– Quando recebi aquele D- eu fiquei completamente louca, e tudo o que eu pensava era em como você estava errado. Mas, depois de um tempo, toda aquela situação me fez refletir sobre o modo como eu enxergava algumas coisas. Não quero que mude a minha nota só porque tivemos algo, Harry. Quero a nota por merecimento.

– Não mudei a nota por você, Alex. — Harry disse, me encarando seriamente. – Mudei porque eu realmente fui injusto. Eu estava cobrando de você mais do que dos outros porque sei do seu potencial, mas talvez isso tenha atrapalhado tudo.

Teach me | H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora