Capítulo 3.

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— O que você está fazendo? - Harry repetiu, dessa vez em um tom mais autoritário.

Eu estava tão assustada que não conseguia formar uma simples palavra. Meu coração batia tão forte e acelerado devido ao susto, que eu achava que a qualquer momento ele poderia explodir.

Inspirei, tentando achar em algum lugar dentro de mim um resquício de coragem.

- E-eu.. - Gaguejei, ainda nervosa. - Estava apenas tentando..

- Eu sei exatamente o que você estava tentando fazer, Winters. - Styles me interrompeu.

Eu não tinha uma boa desculpa para o que eu estava fazendo, e por mais que a minha atuação fosse um tanto convincente, ele não acreditaria. Por isso, resolvi encarar as consequências das minhas ações.

- Para a sala da diretora. - Ele disse, ríspido. - Agora.

Levantei da cadeira bruscamente, irritada e ainda assustada com toda aquela situação. Os meus problemas haviam triplicado.

Deixei Harry na sala sozinho e caminhei pelo corredor vazio, indo em direção à sala da diretora, com o coração em mãos.

Não seria a primeira vez que eu ia parar na diretoria por conta de mau comportamento ou rebeldia. No entanto, andei evitando arranjar problemas já que era o último ano e eu não queria ficar no colégio durante o verão, sendo punida.

Dei três batidas leves na porta, rezando internamente para que a senhora Garcia não estivesse dentro da sala. Infelizmente, logo ouvi o seu "entre".

Avistei o meu pesadelo sentada em uma grande cadeira de couro, segurando alguns papéis. Os seus óculos ficavam um pouco perto do seu nariz, e ela prestava atenção no monitor do computador a sua frente.

- Ora, ora, o que temos aqui. - Ela falou, erguendo o seu olhar castanho e debochado para mim. - Sente-se, por favor, Alex.

Já éramos praticamente íntimas, então ela dispensava a formalidade.

- A que devo a honra da sua visita? - Perguntou.

Dessa vez sua atenção era apenas em mim.

Controlei todos os meus instintos para não revirar os olhos, ou no pior dos casos, voar em seu pescoço.

- Tive um pequeno problema com o professor de literatura. - Falei, tentando amenizar a minha situação. Eu também me recusava a pronunciar o nome do dito cujo.

Era por causa dele que eu estava nessa sala pequena, sendo intoxicada pelo perfume irritante de rosas que preenchia o espaço.

Por algum motivo, o cheiro das flores nunca me agradou. Deixavam-me enjoada.

- O professor Styles?

Assenti.

- Seja mais específica, Alex. - Ela suspirou.

- Vamos dizer que eu falei coisas não muito agradáveis para ele. - Falei a verdade.

Eu não precisava mentir para a senhora Garcia, o meu histórico escolar não permitia que eu mentisse. Além do mais, eu precisava virar o jogo ao meu favor. Se eu usasse palavras mais suaves, talvez a minha punição fosse menor.

- Posso saber o porquê?

- Ele me deu uma nota baixa em literatura porque não gosta de mim.

Ela riu. Uma risada seca.

Estremeci por dentro, mas por fora não deixei transparecer nada, mantendo a minha expressão entediada.

Eu já tive discussões verbais com alguns professores na classe. Em minha defesa, eu apenas expressava a minha opinião. Liberdade de expressão para todos, certo?!

No entanto, não era bem assim que eles enxergavam as coisas. De acordo com aquelas pessoas frustradas com a vida, eu tinha os desrespeitado.

Eu não tinha um pingo de medo da senhora Garcia. Eu sabia que as minhas atitudes no colégio não requeriam medidas drásticas, tipo expulsão. Porém, ela me conhecia muito bem, e sabia exatamente o que eu temia. Ou melhor, a quem eu temia.

Meu pai.

Na verdade, prefiro o termo "doador de esperma" ou qualquer coisa do tipo. É infinito o número de apelidos que eu criei todos esses anos só para não ter que chama-lo de algo "carinhoso". Eu não o respeitava, mas precisava mostrar que sim se eu não quisesse lidar com a sua raiva. Raiva por ter uma filha indesejada. Eu sempre soube que ele nunca me quis, e o melhor jeito que ele encontrou para se livrar da responsabilidade de ser pai foi "me dando uma boa educação."

Perdi as contas de quantas vezes eu tive que mudar de colégio. No começo, eu fazia as coisas apenas para chamar atenção, e também porque, no fundo, nunca gostei muito de seguir regras. Depois, percebi que ele simplesmente não se importava. Ele não estava a fim de bancar o papel de pai, e eu também já não estava mais a fim de bancar o papel de filha abandonada que não tinha uma figura materna. Por isso, após milhares de colégios, eu finalmente me "encaixei" em um.

Conheci Amy e tentei manter as boas notas. Vez ou outra, eu quebrava as regras, mas nada que fizesse com que eu tivesse que falar com meu pai novamente.

- Como tem tanta certeza que ele não gosta de você, Alex?

- Não seria nenhuma surpresa se ele não gostasse. - Dei de ombros. - A maioria dos professores não gostam. - Respondi o óbvio.

Dessa vez, ela tinha que concordar comigo.

- Bom, eu tenho uma solução simples para isso. - Ela retirou o óculos e o posou na mesa, enquanto eu esperava impaciente para o meu castigo. - Primeiro, você irá se desculpar com o professor Styles.

Revirei os olhos.

No fundo eu já sabia que teria que passar por cima do meu orgulho.

- E, claro, por tentar invadir o sistema do colégio, você irá ajudá-lo no que ele precisar.

- O que? - Perguntei, quase pulando da cadeira. - Eu não vou ser a secretária dele.

A senhora Garcia revirou seus grandes olhos castanhos e suspirou.

Eu apenas permaneci com minha expressão indignada.

- Você não será a secretaria dele, apenas uma ajudante. - Ela explicou, tentando amenizar o meu castigo.

- Não vou aceitar as ordens dele.

- É uma pena, Alex, porque eu tenho certeza que o seu pai não aprovaria esse seu comportamento. - Ameaçou.

Podia jurar que dois chifres de diabinho surgiram na sua cabeça. Ela sabia meu ponto fraco, e agora estava usando-o contra mim.

Bufei irritada, fechando as mãos para controlar a minha raiva e não voar em cima dela.

- Tudo bem. - Finalmente concordei.

- Ótimo, irei avisar ao professor Styles. É sempre um prazer falar com você, Alex.

- Queria poder dizer o mesmo. - Sorri cinicamente, levantando da cadeira e saindo da sua sala, batendo a porta com força para demonstrar toda a minha raiva.





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