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Encaro meu reflexo no espelho e suspiro

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Encaro meu reflexo no espelho e suspiro.

Retoco o carmesim em meus lábios com o batom, esquadrinhando meu rosto por tempo suficiente para constatar que as íris verdes parecem sem brilho, quase indiferentes. Isso não me surpreende; não é a primeira vez que encaro as janelas da alma apenas para ver que estou quebrada por dentro.

Os dias de verão correm como nunca para perto do fim e sei que estou longe de livrar-me da melancolia que tem me assombrado durante as noites em claro. Eu não sei mais o que é ter um momento de paz desde o último verão, principalmente agora, de volta a Santa Mônica, o lugar onde tudo começou.

Jogo o batom em minha bolsa de mão e coloco-me para fora do banheiro, alheia ao compasso que dita o evento ao redor. Esbarro meus olhos em uma garrafa de champanhe esquecida sob a mesa do bar e desvio de todos trajados à gala para pegá-la discretamente. Sei que será a melhor companhia para a minha fuga da festa. Ninguém notará se eu simplesmente sumir.

Eu não tinha planos de aparecer aqui esta noite e reencontrar pessoas que eu sequer me lembro de ter conhecido. Mas, após muita persuasão e negociação com minha mãe, me dei por vencida. Coloquei um clássico vestido vermelho de alças finas — cujo corpete aperta levemente minha cintura e meu abdômen e se abre em uma saia rodada e rendada até o fim das coxas —, saltos pretos e apareci como prometido.

Agora, as maçãs de meu rosto doem pelo sorriso falso sustentado por horas e meus pés se contorcem de dor dentro dos calçados. Preciso urgentemente de mais álcool para amortecer meus sentidos; bebidas fortes, e não o champanhe que tenho em mãos. Este é apenas para o começo da minha noite.

Sigo para a saída do baile e sinto-me mais elétrica a cada degrau da enorme escadaria deixado para trás. As madeixas, presas em um digno penteado no alto de minha cabeça, imploram para sentir a brisa calorosa. Os grampos e elásticos são abandonados um a um e balanço minha cabeça, sentindo os fios acobreados se acomodarem na pele a mostra pelo vestido.

A pálida luz da Lua ilumina o caminho vazio. Não há uma alma ou automóvel na rua. Ainda assim, não ligo para os possíveis perigos; com tanta tristeza acumulada em mim, passei a não sentir mais nada. Ironicamente, sentir demais foi o que me reduziu a cacos de vidro cortante.

Que irônica tragédia não saber mais amar, apenas machucar.

Ele havia me avisado.

Em síntese, eu não deveria me apaixonar por um cara quebrado. Veja bem, era isso o que ele era. Não um homem; não com esperanças de reparos.

O vazio dentro de mim é quase que merecido. Eu deveria ter percebido quando seus olhos praticamente berraram sobre os perigos por trás da fachada de uma pessoa descompromissada. Ele, com toda a certeza, tinha o toque estilhaçado, capaz de transformar qualquer um que se aproximasse em algo tão perdido quanto a si mesmo. E agora sou o que sou, uma semelhante dele.

Old Habits | #1Onde histórias criam vida. Descubra agora