natal

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Um relógio deu a última badalada de um dia. Finalmente era meia-noite.

Se eles estivessem em outro lugar estariam celebrando o Natal, mas a ceia deles já havia sido mais cedo na praia, proporcionada por Hércules.

Zach havia carregado ela até ali. Estava sendo estranho ficar tão longe do mar, ela nunca havia passado por isso antes. Mas tinha sido ótimo ser carregada.

Agora eles estavam num quarto pequeno: só uma cama com duas mesas de cabeceira, janelas cobertas por uma cortina listrada de azul e branco e um banheiro, onde Alina estava na banheira com água gelada. Ela não sabia ao certo quanto tempo sua cauda suportava ficar fora d'água sem ficar ressecada, mas duvidava que fosse mais que cinco horas.

-Vocês comemoram o Natal? - Zach perguntou chegando no batente da porta.

-Claro que sim. - ela respondeu encarando o menino. - Mas não é do mesmo jeito que vocês.

-Como assim? - ele continuou perguntando, é claro que ele faria isso. Não existiam respostas vagas no mundo de Zach.

-A gente acredita que o solstício de inverno é o ponto de virada das trevas para a luz. O sol começa a ficar mais tempo no céu, é mais trabalho para Apolo, mas o dia passa a ser melhor. - Alina começou a se explicar. - Lá em casa, as comemorações começam de manhã, para aproveitar cada segundo do dia, então a gente faz uma ceia com os amigos e oferendas a Dionísio, que é o deus das festas.

-Não tem Jesus? - ele perguntou incrédulo.

-Não. - Alina respondeu. - Existem várias comemorações de Natal ao redor do mundo, numa variação imensa de divindades sendo celebradas. 

-Lá em casa, a gente monta uma árvore na sala: um pinheiro. E enfeitamos com bolinhas coloridas e enfeites nos galhos. - ele começou a falar empolgado. - Colocamos os presentes embaixo da árvores e só abrimos depois da meia-noite, nesse horário a ceia é servida e todo mundo come até não caber mais comida no estômago. As vezes tem uns corais de natal que batem na nossa porta, então a gente ouve e canta junto. É incrível e tem neve para todo lado.

-Neve?

-Água congelada. - ele respondeu coçando a cabeça - Um dia você vai ver.

-Você sente falta da sua família? - Alina perguntou mudando de assunto.

-Eu tento fingir que não, mas eu sinto. - ele respondeu cabisbaixo. - Eles devem estar se perguntando onde eu estou e por que não dei notícias nesse natal.

-Tem um telefone na mesa de cabeceira, tenho certeza que Hércules não vai te cobrar a ligação.

Um sorriso iluminou o rosto do menino. 

Ele não havia pensado em ligar? Que loucura!

Por isso que todo mundo concorda que garotas são bem mais espertas que os garotos.

-Obrigado pela ideia, Alina. - ele disse ainda animado lhe dando um abraço. - Eu tenho um presente para você.

Ele colocou a mão no bolso de trás da bermuda caqui e tirou algo, mas continuou com a mão em punho segurando o presente.

-É uma coisa improvisada, eu só queria dar um presente alguém especial hoje, já que eu não posso dar presentes para a minha família. - Zach falou baixo, mas ela estava perto o suficiente para ouvir.

Ele a considerava especial?

Zach segurou a mão dela e colocou uma coisa fria ao toque na palma de sua mão, e depois a fechou em punho afastando a mão dele.

Ela demorou um pouco para abrir a mão, mas quando o fez não pode deixar de sorrir. Ele havia lhe dado uma pulseira feita de vidro do mar. Era da mesma cor da parede do quarto dela, e é claro que ele sabia disso.

-Obrigada Zach. - ela respondeu dando um abraço desajeitado no menino. - Até que você não é tão insuportável.

-Você continua sendo chata, docinho. - ele respondeu rindo - Mas eu estou feliz por estar com você aqui nesse quarto minúsculo. 

-Eu não tenho presente para você. - Alina respondeu encarando o humano.

-Você já me deu a ideia de ligar para os meus pais, isso foi um presente ótimo. - ele respondeu.

-Se não for muito incomodo, você poderia cantar uma das suas músicas de natal?

-Você quer me ouvir cantar? - Zach perguntou sorrindo.

-Se o tal do Daniel queria te colocar como dupla dele você deve ser bom.

Zachary cantava como um anjo, uma música que ela não conhecia mas ela era boa. Ou talvez fosse boa porque ele a estava cantando. Ela não saberia dizer. A música falava sobre uma noite silenciosa e sagrada onde o Salvador havia nascido. 

Ela também dispensaria a sua dupla se ele cantasse com ela. A voz dele ecoava no banheiro como se fossem um coral de anjos.

Ela fechou os olhos para ouvir e a próxima coisa que ela ouviu foi a risada escandalosa de Zach no telefone. Provavelmente ela havia dormido no meio da música, o que era uma pena.

Então ela observou o menino no telefone de longe, animado e falante, como sempre.

-Feliz Natal, Zach. - ela sussurrou antes de voltar a fechar os olhos.

Ela sabia que ele não iria ouvir, mas precisava dizer.

 •••   

Oi, essa é a primeira vez que eu coloco uma nota da autora. Então OI e eu prometo que vai ser breve.

Esse capítulo não estava incluso na história, mas eu acho que precisava de um capítulo de Natal para aquecer nossos corações.

Feliz Natal e espero que vocês tenham gostado.

Beijos... 

Luísa

IN TOO DEEP [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora