I - ūnus

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''Nascestes à meia-noite

E a mais bela voz do mar terás

 Um grande fardo esse presente carrega:

Na superfície nunca cantarás''

Primeira estrofe da maldição de Alina


Alina subiu até a superfície atrás de Molly, sua amiga de quarto. Era uma noite chuvosa e raios iluminavam o céu enquanto trovões causavam um estardalhaço. O mar estava agitado e as ondas estavam cada vez mais altas. Mas isso não era um problema para as duas.

-O que você está esperando? - Molly perguntou cruzando os dois braços - Pode começar!

-Você sabe que eu não posso fazer isso. - Alina começou a se explicar - Tem a minha maldição.. E seria muito mais sensato não cantar na superfície.

-Isso é uma besteira! - a amiga disse desferindo um tapa na água que ainda estava inquieta - Quanto mais cedo você se der conta de que essa maldição é falsa, melhor será para você. Finalmente você vai poder vir comigo e as meninas aqui pra cima e cantar ou falar sobre os sereios lá da escola.

Parecia uma ótima proposta. Durante os seus dezesseis anos de vida, ela havia perdido todas as excursões para a superfície, as rodas de conversa com as meninas onde todas as fofocas eram colocadas em dia e não havia assistido ao que as pessoas chamavam de ''pôr do sol''. É claro que ela já havia subido até as rochas antes, mas ela sempre vinha com os pais que a vigiavam tanto para não cantar, que nem permitiam que ela falasse alguma coisa.

Ela nem sabia ao certo se as palavras da profecia estavam certas! Ela cresceu ouvindo aquelas duas estrofes, mas além dos pais, ela era a única que acreditava que elas eram verdade. A profecia havia sido dita a sua mãe, quando a Sibila foi visitá-los, e ela nunca errava. Mas poderia ter sido um engano, não é? Todo mundo erra, até mesmo os deuses.

-Tá bom. - ela disse sorrindo e se sentindo confiante - Qual música eu canto?

-Qualquer uma, mas anda logo. - Molly disse batendo palminhas animadas - Eles vão sentir nossa falta nos dormitórios.

Alina olhou em volta para ver se havia qualquer tipo de embarcação em volta, mas não enxergou nenhum mísero bote. Mas o mar estava agitado demais para ela ter certeza absoluta que só havia ela e a amiga ali. 

Ela cantou sobre um lugar distante e a vida que nunca seria dela: uma donzela que morava perto de montanhas, corria na praia e o vento a carregava. O sol brilhava sobre sua pele trazendo vida e calor. Ela tinha tesouros mais valiosos de moedas de ouro e descobria coisas que iam além de terras longínquas.

-Nossa, cara! - uma voz masculina gritou se levantando de trás de uma das rochas atrás da amiga - Essa foi a coisa mais linda que eu já ouvi.

E então ele pulou na água e começou a afundar rapidamente.

-Por que você não me disse que havia uma ilha atrás das rochas? - Alina perguntou gritando, mas não esperou a amiga responder, pois voltou para debaixo da água em busca do homem.

Quanto tempo um ser humano consegue ficar sem respirar? Ela não saberia responder ao certo, então nadou o mais rápido que conseguia para alcançá-lo. A menina começou a repassar as palavras tão conhecidas da profecia na mente enquanto ia cada vez mais pro fundo.

''Motivo da perdição de um homem sua voz seria

Apenas o beijo da sereia o salvaria

IN TOO DEEP [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora