IV

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OUR NO KISS LIST

Eu estava beijando Ji Myung Hee. Eu a estava beijando e não conseguia parar, não importava realmente a queimação presente em meus pulmões, porque os lábios dela eram muito mais importantes do que oxigênio. A pele do seu rosto era macia e seu cabelo tinha o cheiro familiar e aconchegante de cacau, encarando mais de perto pequenas e adoráveis sardas se espalhavam discretas pela ponte do nariz e pintinhas douradas brilhavam em sua íris castanha. Os traços alongados de Myung, seus olhos grandes e vivos, seus lábios convidativos em formato de maçã lembravam uma pintura de Modigliani, e eu jamais poderia contemplá-la de outra forma senão como uma obra de arte. A representação mais bela de uma força da natureza, de uma beleza selvagem e enigmática, mas ao mesmo tempo doce.

De alguma forma avessa e estranha, Myung e eu acabamos no sofá da sala nos beijando sem pressa, como se o dia seguinte fosse uma questão adiável. Não trocamos palavras, apenas olhares que ao meu ver significavam muito mais do que qualquer diálogo e naquele sofá permanecemos abraçados em nossa bolha de silêncio enquanto seu indicador desenhava uma arte abstrata em meu peito e minha mão passeava deliberadamente em sua coxa sob o tecido do moletom. Naquela tranquilidade adormecemos e de uma forma errônea acordamos embaraçados, muito embora despertar agarrado a sua cintura com uma de suas pernas sobre o meu corpo não fosse nem de longe desconfortável, as lembranças da noite passada amanheceram cobertas por uma resistente membrana de constrangimento e desculpas sussurradas. Myung tropeçou na borda do tapete antes de correr até o banheiro e eu quebrei uma xícara e deixei cair açúcar sobre a ilha da cozinha quando percebi sua presença ao meu lado.

- Me deixa fazer isso, Namjoon - ela tentou pegar a frigideira da minha mão, mas acabou esbarrando o pulso em uma garrafa de vinagre balsâmico que se quebrou em dezenas de pedaços e muito provavelmente manchou definitivamente o piso de cerejeira japonesa da minha cozinha - desculpa.

- Myu - a peguei pelos ombros e ela me encarou como se fosse uma criança - para de me pedir desculpas. Nós escolhemos uma hora horrível para decidir beijar como dois loucos, eu sei - meu polegar já estava sobre a sua bochecha desenhando círculos sobre a maçã do seu rosto - também sei que brigamos feito dois idiotas a cada três minutos e que ontem pulamos etapas importantes. Eu queria, eu ainda quero, te chamar pra sair, te levar na Seoul Tower e segurar a sua mão. eu quero te dar chocolates no white day, por mais que você passe o dia fazendo o melhor chocolate da Ásia, eu quero aprender a conviver com você e quero te fazer sentir o que eu sinto sempre que você está por perto, mas eu não quero deixar de te beijar durante esse processo.

Ela estava entregue, eu estava entregue, me sentia um soldado vitorioso encarando seus olhos de perto e meu medo de ser estapeado por Myung se dissipava ao passo que meu rosto se aproximava do dela para mais um ósculo perfeito quando um cheiro de pano queimado e uma fumaça pontual começou a tomar conta da cozinha.

- Namjoon! O pano de prato! - E Myung Hee escorregou mais uma vez entre meus dedos para salvar o maldito pedaço de trapo. Completamente frustrante, porque durante aquela manhã não houve mais nenhuma brecha para a aproximação.

Foi preciso coragem para passar pelas portas da doceria naquela manhã, em primeiro lugar porque estávamos juntos enquanto Myung Hee usava a mesma roupa do dia anterior, em segundo lugar porque Chang Wook me esperava encostado no balcão com um palito de dente entre os lábio e cara de torturador pronto para me matar lentamente. Entendam, poucas coisas assustam mais um homem do que um irmão mais velho ex-fuzileiro com cara de ódio, mas esse medo parecia assolar unicamente a mim.

- Posso saber onde e com quem a senhorita passou a noite? - Chang questionou a irmã , mas estava me encarando nos olhos, tentando arrancar todas as verdades escondidas na minha alma.

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