Capítulo 09: Maldito Filho

52 3 2
                                    


Marilene havia chegado bem cedo à sede da Secretaria Municipal de Assistência Social de Pedra Dourada. Ela queria falar com uma Assistente Social, precisava resolver de prontidão seu caso. 

Os cabelos da mulher estavam arrumados, presos num rabo-de-cavalo quase cuidadoso. Ela estava usando um vestido preto de um tecido quase transparente de tão desgastado. Uma bolsinha minúscula estava presa ao seu ombro, enquanto descansava em suas pernas. As mãos sobre a bolsa para tentar disfarçar a tremedeira. Ela não sabia se estava tremendo de nervoso ou por conta da abstinência.  "Deve ser a abstinência", ela pensou, "Maldito vício!".

- Podemos ir agora, dona Marilene? - a Assistente Social perguntou, estava parada à porta de uma das salas, que Marilene julgara ser a sala de atendimento dela.

Levantara-se e, em silêncio, acompanhara a Assistente Social até a tal sala, que fora trancada à chave logo em seguida.

Agora, já sentada diante da profissional, Marilene sentia-se acuada.

- Imagino que tenha vindo aqui para falar sobre sua filha, estou certa?

- Sim! - ela segurava uma mão na outra, estava tensa - Vim saber da pensão.

A Assistente Social erguera a sobrancelha.

Obviamente, aquela era uma situação bastante comum: parentes irem atrás de pensão por morte. Bastante comum mesmo. Mas, naquele caso especificamente, ela estava um tanto quanto impressionada. Alguma coisa no olhar de Marilene distanciava aquela mulher da mãe de uma jovem de 17 anos que acabara de ser brutalmente assassinada.

                                                                     * * * 

Dois Dias Antes do Crime...

O breu do quarto de Milly Emily fora quebrado às 6:20 da manhã. Marilene estava possessa. O cheiro forte de cigarro entrara no cômodo como se a casa estivesse pegando fogo. 

- Acorda, sua desempregada! - gritou a mãe puxando a coberta da filha - Vai procurar alguma coisa pra fazer!

Milly estava um tanto desnorteada. Via a mãe berrando à sua frente, mas, não sabia o motivo. 

- Você tá louca? Eu ainda tô no meu horário!

A mãe perdera o controle e começara a esbofetear a filha.

- E puta lá tem horário? Você vai agora trazer dinheiro pra dentro de casa, sua infeliz!

Milly dera um empurrão na mãe, que, perdendo o equilíbrio, caíra de bunda no chão.

- Sua desgraçada! - berrara a jovem, levantando-se - Você sabe de tudo que eu faço pra encher esse seu maldito bucho de cachaça?! Você sabe a dor que eu sinto? Sabe pelo que eu passo?

- Você não teria que passar por nada se os homens ainda me quisessem! - berrou a mãe, ainda no chão, lágrimas saíam dos olhos - Eles só querem saber de você, eles só pagam pra você. Eu não tenho outra saída...

- Você só está com o ego ferido. Você só pensa em você, nunca sequer me questionou se eu gosto dessa vida desgraçada que você me enfiou. E olha que surpresa: Eu não gosto, Marilene! Eu não gosto, eu detesto tudo isso! E pra mim, acabou, ouviu?! Eu não vou mais fazer isso pra você.

Marilene mudara de semblante. Era puro ódio. Aos poucos, ela ia se levantando. 

- Você só pode estar de brincadeira, Milly Emily! Você sabe que não temos outro meio de sustento, quer que a gente passe fome?

O Desaparecimento de Milly EmilyOnde histórias criam vida. Descubra agora