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Voltei ao segundo andar e me esbarrei com Helena novamente mas ela pareceu não se importar muito, entrei na Kozy Korner a senhora que cuidava do caixa me esperava.

- Suas compras estão atrás das cestas vermelhas, tenha uma boa noite.

- Obrigado, boa noite!

Voltei ao elevador, e um garoto de cabelo castanho escuro liso entrou comigo, coloquei as sacolas no chão e enfiei minhas mãos nos bolsos da minha jaqueta preta, notei que ele me encarava, virei meu rosto em sua direção, mas ele desvencilhou e apertou o botão do décimo terceiro andar, em seguida eu apertei o do décimo quarto. Ele usava uma camisa vermelha xadrez aberta e por baixo uma camisa branca com um disco de vinil estampado ao meio, além dos clássicos jeans surrados. Me abaixei para conferir as compras, me levantei e uma parada brusca do elevador me jogou contra o garoto acabamos caindo, percebi de perto o quanto ele era forte e como sua boca era rosada.

- Me desculpa, sério eu não queria... - na verdade eu não sabia o que dizer, não havia sido minha culpa.

- Não tudo bem, a culpa não é sua, isso sempre acontece nos invernos, alguns cabos de energia não resistem - ele se ofereceu para me ajudar a ficar em pé mas eu não precisava de sua ajuda, assim que levantamos tive noção de que ele era de fato mais alto que eu.

O elevador voltou a subir, pelo que parece não íamos ficar ali por muito tempo, segundos depois a porta se abriu era o décimo terceiro andar, ele me lançou um último olhar e disse.

- Tudo bem mesmo? Não precisa de ajuda ou... Não sei, qualquer coisa?

- Ah, não tudo bem pode deixar foi só um susto eu dou conta. Estou bem - ele saiu andando, parou por um instante e se virou.

- Qual o seu nome, mesmo?

- Eu não disse! - falei alto para que conseguisse ouvir do corredor - Me chamo - a porta do elevador se fechou - Emma.

Não sabia ao certo se ele havia escutado mas não tinha problema, eu o veria novamente principalmente vivendo onde estou. Entrei no apartamento, que agora chamo de casa infelizmente, Louise havia terminado de fazer sua mágica mas ainda havia muita velharia que eu particularmente jogaria fora, porque fizeram parte da vida e memória de outras pessoas que provavelmente não estão vivas ou que conseguiram sair desse lugarzinho pavoroso.

Coloquei as sacolas sobre a mesa,  e meu pai entrou em casa logo em seguida fechando a porta atrás de si, ele tinha um sorriso no rosto, e trazia consigo o que eu julgava ser também o jantar.

- O senhor pode me dizer, o que tem aí? - perguntei ironicamente, e comecei a bater o pé na madeira do piso.

- Posso sim senhorita, o que tenho aqui é o jantar! Comida japonesa - lancei um olhar de reprovação para minha mãe.

- Quer dizer que tive que conviver com pessoas a ponto de conhecê-las e de ficar presa no elevador com uma delas, para nada? - perguntei demonstrando um pouco de decepção.

- Desculpa amor, eu não sabia que seu pai iria trazer o jantar, mas se quiser podemos guarda-lo para amanhã.

- Não! - meu pai e eu respondemos ao mesmo tempo, no fundo eu sabia que o que ele trouxe era bem melhor que a minha opção de janta, então concordei na negativa - Não precisa afinal é comida japonesa - respondi por fim - Mas seria bom se alguém me dissesse que eles têm um restaurante aqui, e se não fui clara, senhorita Louise foi contigo mesmo que falei.

- Foi mal. Só descobri logo após você sair, e acontece que não havia a necessidade de ter saído também porque eles possuem um delivery.

- Como é que é? Eu poderia pegar meu lindo telefone e pedir comida sem nem precisar sair do quarto? - voltei a bater o pé no piso de madeira - Só vou te perdoar porque estou com fome, mas só por isso - disse ironicamente, e ela me abraçou encerrando a brincadeira.

- Okay, agora que vocês duas se resolveram, como assim você ficou presa no elevador? - pelo que parece somente meu pai se preocupou com esse ponto.

- Não foi nada demais, um garoto que estava comigo disse que isso sempre acontece no inverno.

- Os fios não resistem - completou meu pai.

- Sim, exatamente mas e você como foi seu dia? Meio que você chegou bem animado na verdade  - ele voltou a sorrir e eu acompanhei aquele sincero sorriso.

- Pois é Sr. Jonhson, como foi seu dia? - minha mãe surgiu na sala de jantar com as caixinhas de frango xadrez que meu pai havia comprado.

- Por favor me chame de Harry - meu pai continuou a brincadeira colocando lenha na fogueira que minha mãe criara, contudo, na real minha mãe só chamava o meu pai de Harry, a menos que ele fizesse algo que ela não gostasse, pois aí ela o chamava de Harrison mas não era muito comum ouvir o nome dele por completo por isso eu mesma o chamava de Harry. Mãe por outro lado detestava o seu apelido, então era sempre Louise há menos que a quisesse provocar porque aí eu a chamava de Lou - Mas continuando, bem... Vocês me perguntaram o porquê do sorriso? Vou pensar se respondo agora ou depois da comida.

- Não seja ridículo, Harrison.

- Okay, okay você venceu querida. Consegui o emprego.


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