[Luana Faustini]

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Meu chefe, um homem cheinho de pele pálida, enxugava o suor com um pano de prato, enquanto quebrava os ossos de um frango.

— C-chefe, lembra que eu pedi pra sair mais cedo semana passada? — perguntei, morrendo de medo de respingar sangue em mim.

Ele se virou. Estava com uma cara feia. Inclinei o pescoço um pouco, sorri e coloquei os braços atrás do corpo.

— Okay. Mas vai ter que pegar o turno da madrugada amanhã, combinado?

Ninguém resistia a minha "carinha de gatinho", como o Rob dizia.

— Sim! Muito obrigada, senhor. Muito obrigada mesmo.

Troquei-me no vestiário, coloquei as coisas na bolsa e mandei um áudio pro meu irmão, mandando ele ir se arrumando, que eu já estava chegando.

Para variar, o metrô estava lotado e não dava para esperar outro se eu quisesse tomar banho, arrumar o cabelo, me trocar e fazer as unhas. Esprimi-me no meio das pessoas. Juro que meus pés não tocavam o chão.

"Leo: Não sei se vou não. Tenho que entregar uma parte de um sistema até segunda".

"Você: Vc vai sim!".

Guardei o celular, porque não dava nem para digitar de tanta gente que tinha.

Desci na estação São Joaquim. Estudantes com suas mochilas nas costas e fones nos ouvidos, homens e mulheres de negócio, pessoas com uniformes — as logomarcas estampada no peito. Sorrisos, risos, conversas e muitas "cara de nada" ou "saiam da minha frente que estou atrasado".

Ainda tive que dar uma caminhadinha para casa. Meus pés me matavam. Eu amava usar salto alto, mas ficar o dia inteiro de pé, indo de mesa em mesa era uma tortura.

Morrendo de cansaço, subi o último lance de escadas do meu prédio, que já deveria ter um elevador pela fortuna que pagávamos de aluguel, procurei a chave no molho cheio de chaveiros, entrei em casa e logo tirei os sapatos.

— Léo, cheguei! Já tá pronto? Deixa eu ver se aprovo o seu look — disse, procurando por ele. — Onde é que você se meteu?

— Aqui — disse uma voz abafada por alguma coisa.

Abri a porta do closet ou o "quartinho da bagunça" e lá estava ele, sentado num poof, cercado de cobertores e edredons e com aquele computador dele que ele nunca largava.

— O que tá fazendo aí?

— Nada, ué. Só trabalhando — disse ele, sem se preocupar em me cumprimentar. — Tem pizza na geladeira.

Cheguei do lado dele e me enfiei debaixo das cobertas. Ele não escaparia daquela tão fácil...

— Sai, me larga. Tá me atrapalhando.

Dei um beijo em seu rosto barbado pinicante e encostei o queixo no ombro dele. Era impressionante a velocidade que ele teclava. Dei uma olhada na tela e não entendi absolutamente nada do código. Parecia tudo tão perfeito, sem um erro sequer, seria uma pena se alguém estragasse aquilo...

— Ou, para com isso, Lu — disse ele, levantando o notebook para impedir que eu teclasse mais alguma coisa. — Eu por acaso vou na lanchonete ficar te atrapalhando?!

— Levanta logo daí, menino. Vamo, anda, anda — disse, imitando nossa mãe.

— Eu não vou.

— Vai sim.

— Não vou não. Pode ir sem mim. É sério, preciso entregar isso até sábado.

— O quê? Não era segunda? — disse, colocando as mãos na cintura. — Mentindo para sua irmã. Bonito isso, né? — Desfiz minha imitação de mama e suspirei. — Vamo, Léo. Faz quanto tempo que você não sai de casa?

Ele se escondeu nas cobertas mais ainda.

— O que eu falo pra Ka? — Saquei meu celular e mostrei uma mensagem dela para ele.

"Ka: Manda o preguiçoso do seu irmao levantar a bunda da cama e arrasta ele pra ca!".

"Ka: Foi muito chato sem ele da outra vez. Quero ver ele cantando a vida não presta bebado de novo (*⌒▽⌒*)θ~♪".

— Eu não vou sem você e tá todo mundo te esperando.

Ele se deitou no chão, rolou e deu diversos socos nos cobertores, como se a lembrança da cantoria bêbada doesse.

— Tá bom, tá bom, eu vou — disse, levantando-se, todo vermelhinho e com um leve sorriso.

Bati palminhas e agarrei seu braço.

— Yay! Me ajuda a escolher minha roupa!

zades.Where stories live. Discover now