[Karolina Sant'Ana]

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A luz do entardecer invadia o quarto pelas portas de vidro cobertas por um lençol.

Cinco horas? Será que ainda estava passando a Sessão da Tarde?

Sentei-me na cama e dei um grito. Sabe aqueles gritos que vem de dentro, daquele do monstro do desânimo, de tentáculos que impedem qualquer movimento, combinado com o do monstro da preguiça que te puxa de volta pra cama?

O que eu estou fazendo da minha vida?

Nada.

Desespero.

— Que isso, Karolina? — disse, dando tapinhas no meu próprio rosto. — Seus amigos vão vir, você precisa se arrumar, dar um jeito no quarto, organizar os comes e bebes...

Chequei o celular.

Alguns desejos de feliz aniversário no Facebook. No Instagram, uma selfie linda da Lu. Os cabelos ruivos presos num rabo de cavalo e um sorriso. Até no trabalho ela era linda.

"Ta linda amiga assim eu me apaixono ₍՞◌′ᵕ‵ू◌₎♡", comentei.

Mandei uma mensagem pra ela, mandando ela tirar o Léo da cama e arrastar ele pro karaokê, porque sabia que ele ia ficar de birra.

Latas de cerveja, jornais velhos, um notebook, papéis amassados, roupas sujas e embalagens de comida se espalhavam pelo chão.

Pera, cinco horas?

Agora era para valer! Caí do sofá e... decidi descansar mais uns cinco minutos no chão.

O que eu estou fazendo da minha vida?

A cena de Léo cantando A vida não presta do Léo Jaime olhando pra mim, fingindo que era uma indireta, me veio a cabeça. Foi muito engraçado. Ele sempre foi um menino fofo, era muito sem jeito com as pessoas, meio revoltado com a vida. E a Lu? Ela era tão divertida, tão... é... desastrada e de bem com a vida. Não tinha como não se sentir bem perto dela. Ah, o Rob. Sempre com seus comentários inteligentes, se achando o dono de todo conhecimento do mundo com suas listas infinitas e gráficos. Eu adorava aquele jeito convencido dele e admirava muto sua dedicação, coisa que nunca tive.

Meus amigos iam vir. Não tinha melhor motivação que aquela.

Como o Rob planejaria isso? Hmm... Provavelmente ele faria uma lista com as tarefas, com prioridade, duração e esforço necessário.

Anotei tudo o que vinha na minha cabeça num bloco de notas do celular e comecei a organizar a festa.

Coloquei Britney para tocar e, em tempo recorde, arrumei ou melhor escondi todo o meu lixo. Cheguei até a passar um aspirador e limpar as janelas. Tomei um banho de pia, uma experiência que não desejo nem para o meu pior inimigo. Além da água ser fria, lavar o cabelo é horrível. Horrível! E molha todo o banheiro. Coloquei minha roupa menos amassada, escovei os dentes, passei um desodorante vencido, pratiquei meu melhor sorriso amarelado no espelho e sai correndo para comprar as coisas da festa.

E o dinheiro?

Abri minha carteira... Setenta reais. Eu recebia duzentos reais por mês por ajudar no karaokê, mais a "moradia". Talvez eu ficasse um dia sem comer. Mas quem liga?

— Itekimasu! — disse, ao sair da loja. — Ah, hoje eu vou me encontrar com o pessoal, tudo bem?

— Ah, sim, sim, traz os meninos.

Voltei para a cabine e dispus os salgadinhos, lanches, bolachas e doces em recipientes — muito gourmet, eu sou — e, como não segui a estúpida regra do Rob de anotar tudo, esqueci que não tinha copos e nem bebidas.

Mas nada podia me parar naquele momento, pois a Luana, o Leonardo e o Robson estavam chegando e eu amo eles, do fundo do coração. Só o amor podia explicar aquela motivação repentina que movia meu corpo sem alma.

Eu não conseguiria imaginar minha vida sem nenhum deles.

zades.Where stories live. Discover now