bilhetes sob a porta

-05

Já era noite quando abriu os olhos totalmente confuso. Realmente era sempre uma sensação deslocada quando acordava depois de apagar durante a tarde, sua mente levava em média 5 minutos até se lembrar que estava fora de casa.

Sentia falta de seu apartamento aconchegante e pequeno, de sua cozinha zoneada e do bom cheiro de bolos da padaria do outro lado da rua.

Se levantou dos cobertores macios da cama e pegou o celular, ligando uma música calma enquanto limpava o lugar.

Abriu os armários sob a tv da sala, em busca de uma vela. Gostava da luz esvoaçante e do calor para dormir, mas se surpreendeu quando encontrou um álbum, grosseiro e antigo, mas com certeza um álbum de fotos.

Se sentou, curioso e ainda receoso por mexer nas coisas do tio, abrindo tal coletânea.
Um suspiro soltou vendo uma de suas fotos favoritas no mundo. Seu tio, sua mãe, seu pai e o irmão de seu pai, outro tio da família. Eles tinham a idade de Jungkook, 22 anos, e estavam em um acampamento de verão, próximo a praia.
Surpreendentemente foi naquela viagem que Jeon foi concebido. Também foi ali que seu pai comprou a prancha de sua mãe.

Mal sabia ele o que aquela prancha causaria 16 anos depois.

Lágrimas foram derramadas enquanto ele relembrava cada momento e presença de sua mãe.

6 anos antes Jeon Jungkook estava em uma cidade litorânea da Coréia. Estava cantarolando uma música da qual não se lembrava o nome, com os pés enterrados na areia.

Sua mãe passou correndo por si, gargalhava intensamente.

"Vem pro mar Kook!"

Ela gritava. Tinha sua prancha em mãos e estava pronta para surfar mais um pouco.

Ah se Jungkook tivesse aceitado o convite, talvez ele tivesse evitado o acidente.

Aquela vistosa e bela mulher alcançou o mar e logo estava sobre a prancha, gargalhando com a boa sensação do vento e pela felicidade dos bons dias que teve ao lado de seu marido e filho.
Tudo foi extremamente rápido.
Ele não teve tempo de se lembrar o nome da música.

Uma onda errada, a prancha virou. Submergiu, bateu a cabeca e se cortou próximo demais da jugular.
Sangue sob a prancha, não era mais possível enchergar os moldes de sua mãe.

Um grito, um apelo, correu pela areia em direção ao mar.

Nadou como o inferno, a alcançou. Tarde demais.
Sem vida, o corpo de sua mãe estava boiando, ao lado da prancha, que agora era tomada pela escuridão avermelhada.

As lembranças daquele dia cegaram Jungkook. Se encolheu em pânico, abraçando os próprios joelhos enquanto chorava como criança.
Ah como sentia falta de sua mãe.

Suas lágrimas foram interrompidas por um som novo no ambiente.
Papel.

Olhou para porta e se levantou em surpresa.

Será possivel que o garoto realmente decidiu trocar bilhetes sob a porta?