babá

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Ao abrir os olhos, senti uma cama de molas sob minhas costas, encarei o teto branco do cômodo em que estava.

Hospital.

-Aurora! - minha mãe gritou chorando.-Você está bem tá, vai ficar tudo bem!
Ela passava a mão no meu cabelo, como se quisesse me acalmar.
Solto um gemido alto ao sentir dor por todo meu corpo.

-Não se mexa meu amor, o médico disse que você tem que descansar.- minha mãe disse com calma, mas seus olhos ainda lahrimejavam, ela segurava uma de minhas mãos com força, como se aquilo me manter se acordada.

-Onde...onde está...-eu comecei, mas estava tão fraca que era difícil falar.

-Josh?- minha mãe sugeriu- ele foi buscar almoço para nós querida.

Almoço?

-Quanto...tempo...- gaguejei.

-O acidente foi ontem querida, Josh disse que discutirão, e por isso você saiu correndo, não percebeu o carro querida, mas está tudo bem, você vai ficar bem.- ela disse.

Queria perguntar o que aconteceu com meu corpo, estava doendo tanto que eu nem me atrevi a mexer. Olhei para baixo, apenas movimentando o pescoço, nenhum gesso nas pernas, nem nos braços. Mesmo assim tudo está doendo tanto. Ao fechar os olhos, percebi que a dor maior estava concentrada na coluna. Vértebras.
As minhas vértebras doem mais.

Abri os olhos, Josh estava atrás da minha mãe, me encarando, estava com uma expressão de preocupação, paralisado ali, eu senti vergonha por ter sido tão tola ao ponto de não olhar ao atravessar a rua.
-Aurora.- Ele sussurrou.

Não parecia bravo, só assustado e preocupado.

-D-Des...Desculpe- consegui dizer alto e claro, minha mãe e Josh permaneceram calados, me encarando, contei 8 segundos até Josh explodir.

-Como pode fazer isso comigo? Sabe o quanto você é importante para mim Aurora! Eu deveria ter te tranca...-ele percebeu o que iria dizer e rapidamente  mudou sua fala.- Isso nunca mais vai ocorrer. Eu prometo para você Aurora, e a sua mãe.

Minha mãe desabou em lágrimas, neste instante uma médica entrou.

-A nossa sortuda acordou cedo! Gostaria de almoçar senhorita?- ela falou sorrindo. Simpática.

Fiz que sim com a cabeça.

-Muito bem, eu trarei seu almoço, e pedirei para o médico vir te examinar ok? - ela disse já saindo do quarto.

Queria saber...qual a situação do meu corpo.

Josh e minha mãe começaram a discutir sobre como me manter "segura". Eu seria com certeza mais vigiada pelos dois depois disso.

Derrepente  o tal médico entrou junto com a moça simpática, me fez algumas perguntar e ficou mexendo da maquina estranha do lado da minha cama. Eu praticamente engoli a comida como se fizesse semanas a minha última refeição.

-Você vai ficar bem.- ele disse por fim.

Josh e minha mãe suspiraram de alívio.

-precisa de bastante repouso, terá de seguir a risca essas instruções que eu anotei.- Ele estende um papel em direção a minha mãe que não excita em agarrar o pequeno papel branco dobrado ao meio.

-Garanto que em 8 a 12 meses já estará totalmente melhor.-ele disse.- eu também indiquei uma pomada para os hematomas espalhados pelo corpo que fará as dores diminuírem.

-Alguém...m-me explica- eu gaguejei.

- Você teve uma fratura na coluna sem lesões na medula espinhal, nada que o colete de Jewet não resolva.- ele se virou para Josh e minha mãe.- eu aconselho a levarem ela a um psicólogo, pois pode ter causado algum trauma.

Coluna...minha coluna. Eu estava paralisada, encarando o médico como se ele tivesse falado a mentira mais cabeluda do mundo.

-Vou...p-poder andar?- estava um pouco mais fácil de pronunciar as palavras a cada tentativa.

-É contra indicado, pode afetar mais sua coluna com esse esforço, a um número de telefone...- ele se virou novamente para minha mãe- atrás do papel, é de uma empresa, vocês podem alugar uma caverna de rodas por um ótimo preço.

Pelo jeito que disse, poderia fazer comercial para a tal empresa, foi uma fala totalmente automática.

-Em relação a escola?-Josh deu um passo para frente olhando fundo nos olhos do médico. Sua expressão seria como sempre.

-Quando ela melhorar, teremos de esperar no mínimo uma semana para ela voltar aos estudos. As datas e horas das consultas estão no papel também.

Um papel tão pequeno, mas tão importante e cheio de informações.

- Muito obrigada doutor!- minha mãe que havia parado de chorar já estava com os olhos lacrimejando novamente.

Puxa! Como sou uma péssima filha! Eu senti vontade que abrisse um buraco no chão, que me engolisse.

O médico foi gentil,mas meio...despreocupado.

-Precisam de uma cade...- o médico parou de falar quando Josh me pegou no colo. Gemi com a dor.

-Agradecemos por sua ajuda doutor!-Josh já foi saindo pela porta. No instante em que ele me pegou no colo, senti o tal do colete de Jewet e já estava me incomodando!

Josh beijou minha testa no meio do caminho. Minha mãe vinha atrás com sua bolsa e a tal da marmita que Josh hora buscar em uma sacola.
Fechei meus olhos ao apoiar minha cabeça em seu peito, estava relaxada em seus braços. Espero mesmo que ele tenha me perdoado.

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Logo depois que saímos do hospital fomos atrás de uma cadeira de rodas da qual Josh fez a gentileza de alugar.

Minha mãe e Josh fecharam um acordo. Minha mãe tinha de trabalhar, só aparecia pro almoço, e chegava as 7 da noite, então Josh cuidaria de mim das 7 às 7, todos os dias, ele só me levaria para minha casa para dormir.

No primeiro dia , minha rotina era basicamente descansar, ir para casa são de Josh, tomar remédios, almoçar, ter uma conversa com Josh do qual ele chamou de "terapia", mais remédios. Josh me carregava para lá e para cá em seu colo, eu disse a ele que preferia assim, mal usava a cadeira, apenas quando precisava ir ao banheiro, Josh trocava o assento da cadeira e eu eu sozinha.
Josh brigava comigo quando me esforçava "demais". Josh virou minha babá. Tudo bem, até a hora do banho.

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As três da tarde Josh me importunada para tomar banho.

-Não é necessário Josh, minha mãe me ajudara no banho!- eu exclamei.

-Sua mãe só chegará às 19 horas Aurora! Precisa lavar o cabelo, se lavar a essa hora da noite pegará uma gripe!- rebateu Josh.

Revirei os olhos.

-Está bem, está bem.- eu disse. Alguém tinha que ceder, Josh não cederia, e estou evitando brigar com ele.

-Ótimo!- disse, já se virando e tirando uma de suas camisetas de seu guarda roupa, logo depois ele me pegou de sua cama nos braços, e me levou ao banheiro. Fechou a porta atrás de si.

-Se fizer algo estranho comigo, juro que te bato com as últimas forças que me restam!- eu disse. Estava comendo de três em três horas, pouco, ainda sim não me sentia tão forte quanto era antes do acidente.
Josh me colocou de pé no meio do banheiro, seu banheiro era médio, da forma de um retângulo, tinha aparentemente três metros a parede mais extensa, e dois as menores.

Ele tirou a camisa.

...

Paralisei (não que eu pudesse me mexer muito) por alguns segundos depois de me dar conta do que estava acontecendo. Josh estava prestes a mexer ajudar a tomar banho, Josh me veria pelada!

Talvez minha expressão tenha entregado meu súbito apavoro, pois Josh olhou-me nos olhos e disse:

-Lembre-se, sou apenas eu, não lhe farei mal algum.
Por mais incrível que parece, suas palavras suaves como plumas me acalmaram, ao olhar no fundo de seus olhos, estava certa de que poderia confiar nele.

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