Capítulo II

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A água bate em meu corpo com força fazendo todos os meus músculos relaxarem, alguns flashs da noite de ontem começam a apontar em minha mente me fazendo lembrar um pouco. Lembro que sair pra beber com minha nova colega de quarto Louise, com quem falei poucas vezes desde que me mudei pro alojamento do campos à duas semanas atrás, e suas amigas. Desde o início senti que ela não ia muito com a minha cara mas ontem, depois de me encontrar no quarto descabelada e chorando, me convidou pra sair e beber com um grupo de garotas que também frequentam a universidade mas que por algum motivo eu nunca havia as visto.

Percebo que me perdi em pensamentos quando a água começa a esfriar. Desligo o chuveiro vendo toda a camada de proteção que me impedia de recordar de minha bebedeira recente ir por ralo abaixo. Pego uma toalha secando meu corpo de forma rápida, pego meu vestido usado na noite do desastre e sinto um cheiro leve de flores, sorrio pensando nesse cara tatuado lavando o vestido de uma bêbada que nem se quer conhece. Ele foi muito gentil de ter feito isso por mim, mesmo com sua risada estressante e seu sarcasmo desnecessário, se não fosse ele só Deus sabe o que teria acontecido comigo. Percebo que enrolado no vestido tem uma escova de dentes ainda na embalagem.

— Parece que ele pensou em tudo — Digo pra mim mesma.

Escovo os dentes com um pouco de pressa e encaro meu reflexo no espelho, estou horrível. Meus olhos estão com olheiras terríveis, meus cabelos com estão tão embaraçados que decido fazer um rabo de cavalo.

Depois de mais 30 minutos tentando dar um jeito na minha notória cara de ressaca, saio do banheiro com minha bolsa já em mãos e procuro o cara cujo nome não sei até agora. O encontro na sala, sentado no sofá, com sua garrafa térmica que suponho ser café em uma mão e teclando no notebook que está apoiado no braço do sofá com a outra. Pela primeira vez reparo ao redor da casa, ou melhor, apartamento. É meio rústico, as paredes de tijolos aparentes dão um ar de velho e chique ao mesmo tempo, é bonito até, a não ser por copos espalhados ali ou blusas jogadas aqui...

— Ei... — sou tirada de meus pensamentos com ele já em pé ao meu lado e noto que vestiu uma camisa.

— Está pronta? — Faço que sim com a cabeça e saímos de seu apartamento.

No carro, o caminho todo é feito praticamente em silêncio, a não ser um "por aqui" ou "Próxima direita" que digo para sinalizar o caminho. Quando eu finalmente percebo o quão mal educada fui, sacudo a cabeça de leve.

— Desculpa, você praticamente salvou minha pele ontem e eu nem agradeci — Ele vira pra me olhar quando o sinal para e pela primeira vez observo seus olhos, são de um tom verde encantador que eu poderia admirar por horas e horas.

— Ah, relaxa. Você não é a primeira garota que bebe todas e desmaia num bar — ele solta uma risada sarcástica e toda pontinha de afeição que eu estava tentando construir por ele desaba nos fazendo voltar a estaca zero, e como de costume, reviro os olhos.

— De qualquer forma obrigada!

Vejo que já passamos pela entrada do campus e aponto indicando o prédio do meu alojamento, assim que o carro para eu pego minha bolsa e saio do carro. Espero que ele me impeça de sair com mais um comentário sarcástico mas isso não acontece. Ainda bem.

Sinto seu olhar em mim e me esforço para não virar e encará-lo, ainda ouço o motor do seu carro ligado e me pergunto o que ele quer. Procuro as chaves na bolsa antes de entrar no prédio e só então percebo que não sei onde está meu celular. Travo uma batalha interna se devo ou não pedir ajuda dele mas antes que decida, minhas pernas já estão dando meia volta até o carro. Ele abaixa o vidro e eu sorrio sem graça.

— É que... ainda não sei onde está meu celular, será que teria como me emprestar o seu pra eu ligar? — Digo com olhos suplicantes e ele sorri de lado pegando o celular do bolso e me entregando.

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