Capítulo IX

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Tento me levantar da cama mas Dener puxa minha mão de leve fazendo eu me sentar de volta. Estou me sentindo humilhada, a vontade de chorar que havia sumido horas antes volta com força porém por um novo motivo. Devo ser uma piada pra ele, a pobre menina enganada e traída, virgem e que ninguém será capaz de amar. Tento pronunciar alguma palavra enquanto olho pro chão completamente envergonhada. O efeito do álcool praticamente se foi junto com minha dignidade. Sinto o olhar de Dener sobre mim mas não consigo encará-lo. Uma lágrima finalmente desce em minha bochecha e a maciez do toque de seu dedo quando vai secá-la me causa arrepios, de novo. Ele parece se dar conta do que falou e então diz:

— Não! Não foi isso que eu quis dizer... — Ainda não consigo encará-lo mas é claro que está puxando seus cabelos pra trás como sempre faz quando não sabe o que dizer ou fazer.

— Lisa, é óbvio que eu quero ... — Ele levanta de leve meu queixo me fazendo olhar em seus olhos — ... Porra, como quero!

Quando ouço essas palavras meu coração acelera, algo dentro de mim parece se acalmar e se revirar ao mesmo tempo. Odeio esse poder que ele tem sobre mim, mas amo também. O olho sem entender sua contradição e ele parece me decifrar bem.

— Você ainda está bêbada, nunca teve um namorado ... não de verdade ... — Percebo o cuidado que ele toma ao dizer as palavras — ... Além de ter acontecido todas essas merdas com você em menos de um mês. Não quero que faça algo que vá se arrepender depois.

Ele coloca uma mexa de meu cabelo atrás da orelha e eu finalmente consigo respirar. O alívio que toma conta de mim ao ouvir a explicação é reconfortante. Fico feliz com sua atitude na verdade, nem todo mundo pensaria dessa forma. Chego a imaginar que ele realmente se preocupa comigo. É estranho demais pensar nisso, que esse cara tatuado, misterioso, que mudar seu humor a cada minuto possa estar se preocupando comigo.

— Certo ... — Balanço a cabeça na tentativa de me livrar da vergonha — ... é melhor eu ir, está tarde.

Me levanto ainda um pouco zonza com o que aconteceu, ou talvez seja efeito do álcool. Tudo fica preto por uns segundos e quando recobro a visão o quarto parece rodar, preciso me equilibrar na cômoda ao lado da porta pra não cair e em poucos instantes sinto a respiração quente de Dener em minha nuca e arrepio quando ouço sua voz baixa.

— Você não tá bem pra ir embora, e eu também bebi então não posso te levar ... — Me viro para encarar o tatuado e suas mãos vão direto pra minha cintura me ajudando no equilíbrio — ... Fica!

Realmente não estou bem pra voltar e a ideia de dormir, ciente dessa vez, no mesmo apartamento que Dener faz meu coração palpitar. Embora suas justificativas sobre nosso beijo tenha me causado certo alívio, a vergonha não se dissolveu por completa, nem o álcool pelo visto.

— Tudo bem ... — É tudo o que consigo dizer, fixo o olhar em Dener mas não consigo decifrar sua expressão — ... Eu durmo na sala e saio bem cedo amanhã. Não deveria ter bebido, tenho aula.

Balanço a cabeça me castigando mentalmente por estar bêbada numa plena quarta. Ultimamente tenho feito coisas que nunca imaginaria. Ir para um bar, dançar com estranhos, vomitar em mim mesma, acordar num quarto completamente desconhecido, beber numa véspera de aula, contar meus segredos familiares pra alguém que conheci a menos de uma semana, beijar esse "alguém" e permitir com que ele mecha com meu coração de uma forma que ninguém nunca fez...

—Não, você dorme aqui... — Sou cortada de meus pensamentos por Dener.

Ele se afasta de mim quebrando a corrente elétrica que percorre meu corpo quando estamos perto, e anda até a cama. Começa à atirar algumas almofadas no chão e dobra o edredrom até metade da cama, reviro os olhos notando a bagunça que ele faz. Ele acende o abajour do criado mudo e então percebo, ele fez a cama pra mim.

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