Quem se descreve se limita

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I

O que sou? Não sei.
Se humano, quem sou?
Se nada, sonhei?
Se tudo, que sobrou?

Corro, andei,
Inocente onde estou,
Alheio, me formei,
Aonde? Só vou.

Sou, não sei,
Passei, voou
Aquilo que pensei.

Alcei, passou
O que experienciei,
Caiu, espatifou.

II

Quem descreve, limita,
Quem define, descreve,
Que se escreve, finita
O infinito, a verve.

Encapsula-se, habita
O entorno na pele,
Que expele, aflita,
Vontade e compele.

É diabo, é brita,
Ferida que não difere,
Diálogo que não conflita.

Não-destino, intempérie,
Formação, uma mentira,
Na medida em que confere.

III

Mas assume-se infinito,
Sem limite em possibilidades,
Ignora-se algo implícito,
Atribui-se a culpa a sociedade

Quando o fim é descrito,
Não mera possibilidade,
Não ficção em um escrito
Com pretensão de humanidade.

E segue-se desconhecido,
Indefinido em infinidade,
Contraventor explícito

Condenado a impunidade
Pelo pecado cometido,
Pela traição e insanidade.

IV

Não é bom, mas confortável,
Pelo menos de imediato,
Sem consequência palpável
Consecutiva ao não-ato.

Mas o caminho é instável,
O previsível, insensato,
A fundação, muito estável,
Inconsequente em seu plateau.

A mira vira um salto,
O julgamento, impossível,
A caminhada, série de infartos.

E aos poucos, a cada passo,
Turva-se mais ao invisível
O potencial agora falho.

V

Pode ser a sociedade,
Mas também o indivíduo
Consciente de sua validade,
Complacente e também assíduo.

Limitação não é maldade,
Tampouco um inimigo,
É inerente a humanidade
Invalidez nalguns artigos.

Não defendo imutabilidade,
Pelo contrário, a evito,
Estagnação é improbidade.

Autodescrição é um grito,
Exercício de liberdade
Ao saber quem sou, quem habito.

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⏰ Última atualização: Jan 02, 2019 ⏰

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