I
Reflito sobre o olhar,
Não gosto do que vejo,
Questiono o aproximar,
Por pouco apenas marejo.
Continuo evitando falar,
Torno alegre o percevejo
Que se esconde no palpitar
Arrítmico do meu desejo.
Invejo à sombra do olhar,
Gesto não benfazejo,
Mas difícil de evitar.
E sorriso é também arquejo,
Ira mais brava que o mar
Iluminado em tempestade por relampejo.
II
Para mim não é surpresa,
A chamada nem sempre conecta,
Embora eu espere com certeza
O ponto em que se intersecta
Vontade e alheia presteza
Afim de afastar o que infecta
A amizade em sua nobreza
E a reciprocidade em seu néctar.
Mas ao conhecimento não se segue
O extermínio da expressão,
Por mais que a ele me apegue.
E não é eterna a sublimação
Do desejo que me persegue
Em saudável persecução.
III
Pouco saudável me arrisco,
Reconheço velhos demônios,
Menores, mas ainda ariscos,
Melhores, mas ainda errôneos.
Apesar de soar místico,
Não engano um neurônio:
O sofrimento é também físico,
A metáfora é um pseudônimo.
E ainda assim espero,
Quando posso, evito,
Mas me torno áspero.
Patológico, admito,
E aos poucos tempero,
Bem aos poucos desisto.
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Vim Vi Escrevi
PoetryPercepções em verso de uma mente hiperativa após um tanto de reflexão.