... Ela lhe deu roupas, não eram roupas novas,bem... Eram roupas novas para ele e ele sempre iria ser grato a ela pelo presente. As roupas eram em tons marrons que combinavam com seus cabelos castanhos, castanhos que eram iguais aos troncos das árvores e realçavam seus olhos verdes.
"Seus cabelos lembram os troncos das árvores e seus olhos as folhas. As árvores vivem por várias e várias décadas absorvem da terra o que lhe é necessário para sobreviver e só! Presenciam fatores e acontecimentos que guardam para si e são boas conselheiras. Você lembra uma árvore e tem cheiro amadeirado muito bom, árvores são sábias. Outra razão para você ser um Sábio." Ela disse enquanto caminhavam pelas ruas da cidade em direção a parte mais rica.
... Nunca gostou daquela parte, seja por que nunca foi? Não. Ele sempre rejeitou essa parte da cidade, não se lembra o porquê mas evitava as pessoas que vinham de lá, encolhia o braço quando alguma passava por si e só estava mantendo seus passos, que estavam confortáveis nos sapatos marrons que ela lhe dera também porque estava ao lado dela, mesmo assim sua sensatez queria pegar sua mão para ter força o suficiente mas seu coração dizia que conseguia se quisesse e se esforçasse.
"Uma escolha sábia." ela disse como se adivinhasse sua decisão de não pegar-lhe a mão. Continuram andando a passos suaves, não lhe passava pela cabeça reparar ao redor, nunca lhe passou e mesmo tendo como ver claramente tudo com os óculos Vinny não queria ver as riquezas das decorações das casas, das lojas e das roupas nada chamava sua atenção além da garota ao seu lado, olhando para ela percebeu que a garota levava consigo um guarda-chuva vermelho, vestia roupas que deveria ser para um garoto de cinco anos, nela as calças ficavam justas, deixavam um pouco das pernas de fora,que eram cobertas pelas meias que usava, nos pés haviam botas vermelhas, era um terninho de criança de cinco anos que nela ficava justo mas parecia confortável de usar. A cor era cinza desgastado, quase como se fosse tirado de um baú depois de muitos anos guardado e comido pelas traças em alguns pontos, o que destacava em sua roupa era as botas, o guarda-chuva vermelhos e na cabeça uma cartilha de tamanho perfeito em sua cabeça, esse item era o que parecia ser mais novo.
"Aparências enganam, Sábio."
... Era verdade, olhando mais atentamente a cartola estava com rasgos, suja e comida por traças aqui e alí. Desviando o olhar para frente se deparou com a saída da cidade, uma extensão de estrada de terra com um amplo campo dos dois lados ia para frente para onde ele não sabia, mas ela queria levar para onde aquela estrada fosse, para quem a levasse.
"Plante elas" atraiu sua atenção e quando a olhou ela lhe deu sementes, as sementes da maçã "Irá crescer e uma linda macieira estará aqui esperando você quando voltar."
"Por que eu iria voltar pra cá?"
"A vida é como um círculo, ela para onde começa. Aqui começa sua caminhada então aqui termina ela." ela disse calmamente mas ele não queria voltar para a cidade, estava saindo dela e poderia encontrar onde viver bem e em paz, voltar não era um pensamento que ele queria ter.
... Falou sem pensar...
"Um círculo não tem começo e nem fim, ele é infinito. Minha caminhada começa aqui mas nada garante que ela necessariamente termine aqui." ela sorriu com suas palavras, ela via o Sábio falar, ouvia sua voz mas nem ela podia mudar isso, Vinny continuou "Um pássaro não morre no ninho em que nasce"
"Mas na árvore. O pássaro voa no inverno e volta na primavera. Pra desenhar um círculo você precisa partir de um ponto quando termina você para onde começou. Você começa aqui, terminará aqui."
... A forma como sua mão mantinha o guarda-chuva em pé com a ponta no chão e os pés na frente um do outro, a expressão séria e calma ao mesmo tempo e os olhos fixos nos seus o fizeram desistir de argumentar com ela. Com uma certa tristeza Vinny cavou um buraco com as próprias mãos e ali depositou as ementas que marcavam o começo do seu círculo, após fechar o buraco ele sentiu uma parte de si alí,como quando você corra e seu sangue escorrendo, atinge o chão e marca, quando você deixa a marca da sua mão no barro mole e ele seca, quando você deixa pegadas na neve ou na lama, foi assim que ele se sentiu que ali, uma marca sua estava uma parte de si na qual ele estaria emprestando como você empresta um livro e depois volta para pegar mas também como se deixasse o que o prendia a cidade sufocante e o libertasse para o mundo.
"Está pronto, Sábio." ele a escutou
"Estou."
"Então venha comigo."
... Viu a mão estendida para ele, o olhar brilhando ansioso, o sorriso convidativo. Mas e a volta? Ele voltaria rápido? Demoraria para voltar? Seria feliz na viagem? Ele era mesmo o sábio que ela diz que ele é? Olhando de volta para a cidade poderia caminhar de volta agora com seus presentes e tabela agora poderia ter uma vida melhor, mas ao olhar para ela com a mão estendida ainda e ele pegou receoso, mas ela sorriu.
... E lá se foi ele, um Sábio Mendigo e uma criança de mãos dadas pela estrada deixando uma cidade monótona e sufocante para trás com suas riquezas, rotina e tudo para trás.
... E ali já começava a nascer um bem miúdo e quase imperceptível broto.
... Bem ali onde o círculo começa.
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Our World,Vivi
Romance"Mas, e agora?" "Continuamos andando" "Para onde,Vivi?" "Para onde for preciso..." "Ninguém precisa de nós!" "Nunca saberemos se ficarmos parados. Como sabe que você não pode ajudar alguém? Como sabe se não vai ser você quem vai transformar a vida d...