O segundo círculo

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... Velha. Era o que o Triste diria. Começo, era o que ela diria e Bela é o que o Sábio pensava e ele estava certo era uma bela casa, humilde e bela.
... O teto de madeira merecia reparos urgentes, as paredes de pedra parecia que iriam perecer a qualquer minuto, a porta de madeira simples mantinha-se fechada como fora deixada. Estava velha e bela. O Sábio via os tempos de alegria da casa, ouvia os risos e sorrisos, a música dela. A voz suave acompanhada pela flauta...
... Os fios daquela casa eram azuis, vários fios azuis ligavam-no a casa e ele sentia a tristeza daquele lugar. Ouvia as discussões, choros e várias vezes o coração dela quebrado, os fios apertavam seu corpo com força pois tudo era culpa dele, a casa, os fios, a tristeza...
“Deixe isso pra trás” ouviu a voz do Sábio “Não deixe eles te sufocarem, deixe-os para trás.”
... Sim, ele o fez. Com os fios azuis apertando-o Triste pegou a caixinha de música e como tinha fios ao seu redor, muito mais que subiram por suas mãos e braços em um aperto tão forte quanto os fios da casa ou até mais. Andando lentamente Triste deixou a caixinha ao lado da porta no chão, onde tinha mais fios do que nunca, tão perto da tristeza que ele causou, tantos fios o envolvendo e o sufocando desde o pescoço até os pés.
“Liberte-se. Está arrependido então liberte-se”
... Escutou a voz suave como uma brisa, uma suavidade sutil mas ainda sim suave. Como aquelas que te induzem a desapegar de tudo para agarrá-las, não era ela, não que ele soubesse pela paz que transmitia (também por isso) mas pelo fio vermelho que o envolveu afastando os outros fios, um fio vermelho vivo inconfundível do Sábio. A suavidade, a paz que vinha daquele fio afastava todos os outros, tão sutil... E ele se agarrou aquilo com força, com muita força e viu com alegria os azuis fugirem dele como uma lebre foge do lobo, virou-se para os dois que ali estavam olhando atentamente o fio ligando ele ao Sábio apertava ele mas de força carinhosa como um abraço aconchegante e ele seguiu o fio indo até o Sábio Mendigo.
... O Sábio observava os olhos castanhos claros de Triste com compreensão, ele mesmo já sofrera e fizera ela sofrer, ou assim pensava pois ela nunca o culpou pois fora por ele. Fora um sacrifício.
... O fio vermelho agora flutuava entre e ao redor dos dois, Triste então percebeu um segundo fio, um fio marrom escuro saindo de si e entrelaçando com o vermelho, sabia que estaria ligado ao Sábio a partir de agora mas aquilo ele sentia ser mais forte...
“Está pronto” o Sábio disse
“Nós estamos” ele respondeu
“Vocês estão” ela disse
... Então sem muita demora ela pegou-lhes a mão e seguiram estrada a frente com calma, ela entre os dois, um trio um tanto incomum: uma criança pequena, um mendigo alto e um rico magro de cabelos castanhos escuros e altos andando de mãos dadas.
... Ninguém disse nada, nem precisou, ele viu nos fios, mais exatamente no fio vermelho...
... Aquela casa estaria esperando por ele quando voltar, aquele era seu começo e seria seu fim... Onde o segundo círculo começou...


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