Bem, se vamos começar com isso devemos antes saber que aqui jaz a vida inacabada de um escritor triste, alcoólatra, com medo da vida e que aos 8 anos de idade já havia enfrentado mortes e exploração infantil.
Capítulo l.
Eu talvez não tenha sido uma criança fácil de lidar. Logo recém nascido, eu já gostava de coisas baratas. E bem, aquelas chupetas de 99 centavos pareciam a melhor coisa do mundo quando minha "madrinha" me presenteou com um balde de chupetas caras e eu neguei todas elas. Se hoje me perguntassem quantos amigos eu tenho ou tive, eu me lembrarei do meu melhor amigo que faleceu com seis ou sete anos, um outro garoto com grandes problemas de ego e sua irmã, que aparentemente adorava se esfregar em mim quando nossos pais não olhavam.
Eu vivia em uma comunidade no rio de Janeiro, sempre odiei aquele lugar, as pessoas e qualquer diversão que podiam rolar. Fala sério... Quem em sã consciência gosta de ficar em um lugar apertado, ouvindo música alta e ouvindo tiros a noite toda? Enquanto ainda não tinha conhecido aquilo que causaria minhas crises de pânico, eu tinha minha avó. Ela era conhecida por vender bolos, sorvete e tudo aquilo que comemos quando terminamos um namoro. (O estado de luto esfomeado.) Eu não tenho muita coisa para dizer dela, ela era uma santa e muitas vezes ouvi que se cuspissem ou a agredissem, ela apenas sorriria e iria dar um sorriso de resposta. Eu realmente não sei de onde minha mãe tomou esse gênio insuportável. Com a minha vó, éramos 6, eu, minha mãe, alguém que eu não faço a menor questão de chamar de irmão, minha tia e meu primo. Mas em algum momento da vida, ficaram apenas três. E eu acho que notei isso quando minha vó foi pro hospital e eu não tinha tanta idade para a ver. Eu podia apenas esperar no saguão do hospital enquanto todos a vissem. Um certo dia, eu e minha mãe acordamos pela manhã e fizemos nosso costumeiro pão frito com café com leite. E lembro que enquanto ela secava a frigideira, o telefone tocou e eu atendi, era minha tia mais velha. Como criança, eu tentei forçar a voz e fingir ser minha mãe, mas logo eu ouvi. "Passa logo pra sua mãe, allyson." E naquele momento, em questões de poucos segundos, a minha mãe passou de alguém aparentemente feliz, para alguém em completo desespero. Eu estava ali, parado. Vendo apenas minha mãe gritar desesperadamente e repetidas vezes: "minha mãe não, minha mãe não!" Esses gritos bastaram para todos os meus odiaveis vizinhos estivessem na minha sala, enquanto outros me tiravam dali. Nossa vizinha riso, me levou para junto de suas netas e eu não sei exatamente porquê, se foi um jeito de rebater a realidade ou apenas uma frase idiota, mas eu disse claramente. "Bem feito. Quem mandou fumar?" E todos me olharam.
A parti disso, minha vida se tornou algo diferente. Muitas vezes eu me pegava com uma tremenda falta de ar e pensando o quão ruim era morrer. O quão tedioso o "pra sempre" poderia ser. E mesmo agora, anos se passaram e eu ainda penso que a morte é terrível e ficar sozinho é pior que tudo. Tudo que eu mais me questiono é: Por que Deus permitiu que eu nascesse? Ou então, seguindo todo o mundo religioso, porque temos um depois?
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O estrago que ficou.
Non-FictionAqui poderemos ler sobre a vida de um escritor sozinho, que perdeu muito ainda novo e que busca apenas algo que preencha suas lacunas. uma história real e que traz consigo um estrago grande.