Capítulo Final (Repostando)

682 29 19
                                    


Respire.
Mantenha a calma.
Pense.
Tudo vai dar certo.
Agora... Hora de reagir.
Voltei a fixar meus olhos na diretora, e entrei na sala, fechando a porta atrás de mim. Caminhei rapidamente até a cadeira vazia, que graças a Deus, ficava na ponta, ao lado da de Klaus. Pelo menos eu não precisaria ficar perto de Stefan, muito menos de Kelly.
- Imagino que saibam por que estamos aqui, certo? – a diretora Scott disse, olhando para mim e para Klaus, que assentiu – Não deve ser surpresa para nenhum dos dois o fato de que o professor Salvatore fez algumas acusações a seu respeito, então.
Engoli em seco, vendo-a nos encarar incisivamente. Um silêncio tenso caiu sobre nós, até que Klaus o quebrou.
-Ainda assim, eu gostaria de ouvir o que o professor Salvatore tem a dizer – ele falou, extremamente sério, e ela ergueu uma sobrancelha, como se achasse seu pedido uma perda de tempo – Receber uma punição sem ouvir as acusações seria o mesmo que assinar um contrato sem lê-lo.
Após alguns segundos de reflexão, a diretora pareceu convencer-se.
- Por favor, professor Salvatore, repita o que me disse há pouco – ela assentiu, voltando seu olhar para Stefan, assim como todos nós. Ele me lançou um rápido olhar antes de começar a falar, e eu me senti estranhamente enjoada.
Talvez prevendo o que viria.

- Eu fui ameaçado.
Franzi a testa, sem me recordar do momento em que tal fato havia acontecido.

Talvez porque ele não tenha acontecido.

- Ela sempre teve essa obsessão por mim, desde que comecei a dar aulas para a sua turma – Stefan prosseguiu, e eu senti que precisaria de muito esforço para que meu café-da-manhã, ainda sendo digerido em meu estômago, não fosse parar sobre a mesa da diretora – Eu sempre tentei evitar qualquer tipo de aproximação desnecessária, até o dia em que ela se cansou de meu comportamento profissional e ameaçou me acusar de abuso sexual se eu não aceitasse um relacionamento íntimo.
Meu rosto estava congelado numa expressão incrédula, ultrajada e revoltada. Eu só podia estar delirando... Não havia outra explicação plausível.
- Eu preciso do emprego, não tenho a vida ganha – ele continuou, com a expressão inocente, e minhas mãos se fecharam em punhos em torno dos apoios laterais da cadeira – Por isso, temendo que ela realmente me denunciasse, eu aceitei sua condição, mas sempre pensando numa forma de fazê-la voltar atrás e retirar sua ameaça. Felizmente, após algum tempo, convencida de que eu jamais poderia retribuir seus sentimentos, ela me libertou de sua chantagem. Infelizmente, porém, seu foco desviou-se para outro professor.
- No caso, o professor Mikaelson – a diretora disse, e Stefan assentiu. Meus olhar estava inconscientemente cravado nele durante todo o seu falso depoimento, e eu não me surpreenderia nem um pouco se ele e Kelly começassem a pegar fogo dali a alguns segundos devido ao meu ódio. Olhei rapidamente para Klaus, vendo-o encarar a mesa com o rosto isento de expressão.
Ele já esperava truques baratos como aquele. Eu também já. Mas não tão baratos como simplesmente jogar toda a culpa para cima de mim. E ainda por cima, trazer Kelly, cuja presença eu ainda não entendia.
- Não foi muito difícil para ela fazê-lo corresponder seus sentimentos, já que seu histórico entre as alunas do colégio sempre foi bastante comentado – ouvi Stefan falar, e decidi adotar a tática de Klaus e não olhar mais para ninguém; mantive meus olhos baixos e o maxilar trancado, recusando-me a assistir àquele momento deplorável - E honestamente, diretora, eu não creio que seja esse o tipo de profissional que uma instituição de ensino tão renomada queira ter em seu corpo docente. Além do fato de que a srta. Forbes claramente necessita de suporte psiquiátrico, afinal, ninguém em seu perfeito estado mental faria o que ela fez.

Vai pro inferno, desgraçado, minha consciência dizia, e eu respirei fundo para não externar as palavras. Virei meu rosto na direção oposta à de Stefan e todos os outros presentes, sentindo meu corpo inteiro queimar de ódio. Filho de uma senhora puta.
- O que os senhores têm a dizer? – Maggie perguntou alguns segundos depois, e nem precisei olhá-la para saber que se referia a mim e a Klaus. Ele suspirou, preparando-se para falar, porém as palavras simplesmente irromperam de minha boca, sem que eu sequer me desse conta de que elas estavam subindo por minha garganta.
- Se eu dissesse que é tudo mentira e que quem precisa de suporte psiquiátrico é ele, a senhora acreditaria em mim?
A diretora piscou algumas vezes, surpresa com a minha resposta rápida, e eu a encarei com determinação. Se ele achava que conseguiria nos afundar sem que eu lutasse contra isso, estava muito enganado. Ele podia ter sua determinação, mas ela nem se comparava à minha.
Eu tinha por quem lutar. Ele só tinha a si mesmo.

BiologyOnde histórias criam vida. Descubra agora