capítulo 22

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- O que acha desse?
- Hm... Eu prefiro o roxo.
- Eu também, mas acho que esse realça mais os meus peitos... Ou não?
- Só porque o decote é maior? Que pouca vergonha!
Eu e Bonnie estávamos em uma loja de vestidos, em plena terça-feira à tarde, para escolher um modelito para o baile de sábado. Isso mesmo, um vestido, o de Bonnie, porque eu estava disposta a cumprir com a tarefa de passar a noite comendo chocolate e vendo qualquer filme que estivesse passando na TV (e que, de preferência, tivesse vários homens gatos e poucas loiras no elenco). Não queria ter que assistir a mais cenas pornográficas entre Kelly e Klaus, e mesmo que Stefan estivesse bem para ir, preferia ficar com ele em sua casa ou algo do tipo. Qualquer plano que envolvesse distância daquele colégio me agradaria, e sinceramente, ficar longe daquele baile não era pedir demais.
- Tudo bem, eu me decidi – Bonnie suspirou, atirando o vestido vermelho que havia acabado de experimentar em cima de mim, unindo-o aos outros cinqüenta que ela havia provado e desaprovado logo em seguida – Vou ficar com o roxo. É o mais barato e o mais bonito.

- Adoro quando você tem essas crises súbitas de inteligência – sorri, sarcástica, pegando o vestido que havia caído sobre minha cabeça e colocando-o sobre a pilha de vestidos rejeitados em meu colo – Me faz crer que realmente existe alguma coisa dentro do seu crânio, por mais inativa que ela seja.
- Que tal você levar esses vestidos pra atendente antes que meu joelho vá parar no fundo da sua garganta? – ela retrucou, cínica, e mesmo estando apenas de roupas íntimas, ela realmente me amedrontou.
- Acho que vou te esperar lá fora – murmurei encolhida, carregando os vestidos rejeitados e deixando o cubículo. Coloquei as peças sobre o balcão da loja com um sorrisinho sem graça para a vendedora, e logo me reaproximei do provador, bem a tempo de ouvir a voz abafada de Bonnie falar.

- Você ainda não me contou o que aconteceu de tão sério nesse final de semana... Provavelmente estava esperando que eu me esquecesse disso, se eu ainda conheço suas técnicas falhas de fugir de mim.
Quase engasguei com minha própria saliva com aquela indireta mais do que direta e inesperada, ainda mais sendo tão cruelmente arrancada do mundo de fantasia no qual eu havia me forçado a mergulhar nas últimas 24 horas. Não pensar em Klaus (sozinho ou com Kelly, tanto faz) exigia um bom esforço de minha mente, e ser forçada a me lembrar de eventos como o fim de semana me desestabilizou.
- Não faço idéia do que você tá falando – despistei, tentando parecer o mais indiferente possível. Não adiantaria por muito tempo, mas eu precisava tentar enganá-la, se não queria compartilhar com ninguém os acontecimentos na casa de praia. Eles já eram perturbadores o suficiente pra mim, e olha que isso já era perturbação demais, acredite.
- Ah, tá – ela resmungou, e pelo tom de sua voz, soube que seus olhos estavam cerrados em sinal de ceticismo – E eu sou a rainha da Inglaterra.
Engoli em seco, sem saber o que responder, e comecei a admirar minhas unhas e o enorme estrago que aquele fim de semana havia provocado nelas.

- Bom, você é quem sabe se vai me falar agora ou depois – sua voz voltou a ecoar alguns segundos depois, quando Bonnie saiu do provador já com suas roupas no devido lugar – E eu tenho a vida toda pra esperar, dica.
Bufei, revirando os olhos e caminhando com ela até o balcão em silêncio. Ela pagou o vestido e rapidamente saímos da loja, chegando ao corredor vazio do shopping, devido ao pouco movimento às terças-feiras.
- Eu não quero falar, tá legal? – assumi, derrotada, quando ela me lançou um olhar intenso – Eu já estou me sentindo mal o suficiente por isso, não quero que você me dê uma bronca e piore as coisas.
- Por que eu te daria uma bronca? – ela perguntou, dando de ombros – O que houve, transou sem camisinha?
- Fala baixo! – sussurrei, mas minha vergonha era tanta que o som foi quase o mesmo de um grito – E não, não foi nada disso!
- Fez ele broxar? – ela voltou a perguntar, com a naturalidade de quem pergunta qual a minha banda favorita.

- Claro que não! Pára!
Olhei ao redor, com medo de termos sido ouvidas por alguém, e assim que virei meu rosto para trás, dei de cara com um senhor andando a uma certa distância de nós. Seu olhar estava fixo em Bonnie, e seu olhar era, no mínimo, horrorizado com nossa conversa. E olha que eu fui bastante educada ao utilizar um adjetivo tão leve.
- Fingiu um orgasmo? – Bonnie cochichou, quando voltei a olhar pra frente, quase explodindo de tanta vergonha.
- Pelo amor de Deus, cala a boca! – implorei, fincando minhas unhas em seu braço e sentindo o sangue deixar meu rosto completamente vermelho – Qual parte do “Eu não quero falar disso” você não entendeu?
- Nossa, foi tão grave assim que você não quer contar nem pra mim? – ela ignorou minhas palavras completamente, levando uma das mãos ao queixo e olhando para frente de um jeito pensativo – Tô começando a ficar assustada.

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