Capítulo 12 - Dara e Gui

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Não é sem motivo que Dara é chamada de Bruxa pelas pessoas da Cooperativa. Os treinadores costumam dizer que, para os excêntricos, emoções podem ser muito mais úteis do que facas e espadas. O que se sente pode ser tanto uma defesa como um ataque. Nunca foi necessário frisarem que se as emoções não forem bem administradas, elas serão uma maldição. A impulsividade e o descontrole são os maiores inimigos que qualquer excêntrico pode ter.

Enquanto a ansiedade tomar conta da garota, tudo ao seu redor ficará subjugado às emoções que ela sentir. Se ela chora, chove. Sempre foi assim.

Vendo do topo do prédio da Sede, as montanhas são deslumbrantes. A sensação de pequenez que a experiência proporciona é sem igual. O vento balança os galhos das árvores e espalha as folhas pelo chão. Às vezes, dependendo da intensidade das emoções de Dara, nenhuma delas permanece no lugar de origem.

Os moradores que estão próximos ou longe perguntam-se como essa chuva se armou tão inesperadamente. Donas de casa tentaram se apressar para pegar roupas que estavam secando em varais, mas não foram rápidas o suficiente para apanhá-las antes que as peças molhassem. Não é possível ver o sol, pois a Bruxa chora.

"Sabe de uma coisa, eu esperava mais atitude da sua parte." Guilherme grita do topo da escada. "Odeio indecisão e covardia!"

Os olhos de Gui transmitem agora um brilho diferente de alguns segundos atrás. Assim que subiu o último degrau, ele deixou de ser simplesmente o carismático garoto de 16 anos. Tornou-se a audácia personificada. Sem medo do perigo ou do desconhecido. Um homem forte. Os pensamentos dele se tornaram rápidos e os sentidos, atentos a tudo em volta, tornando-o pronto para tomar atitudes.

Rapidamente, Dara se vira com surpresa. Se Gui fosse qualquer outra pessoa e não tivesse a habilidade que tem, o garoto sofreria ataques cardíacos e falta de ar ali mesmo, provocados pelo medo de Dara. Obviamente, ninguém pode odiar o desconhecido. O que o torna imune a qualquer efeito negativo que as emoções dela gerem.

Atson está ao lado do amigo, e não se surpreende mais com as mudanças de personalidades dele .

Dara tenta falar, mas as palavras estão presas na língua.

"Estou falando com você." Diz Guilherme apontando o dedo na cara da garota.

Os olhos de Dara oscilam confusos. Eles percorrem os rostos dos dois garotos tentando entender a situação. As lágrimas pararam de descer, e ela nem se deu conta.

Me acovardo, Dara pensa.

A maior vantagem de se ter um laço é a ligação que isso proporciona. Se essa ligação for alta, pode-se saber quando o laço está em perigo. Dara teve essa sensação de que, por algum motivo, Jéssica está em apuros.

Nada que Gui faz é à toa. Em momento algum, quando estava no quarto, ele pegou no sono. Mesmo de olhos fechados, ele estava atento. A concentração era tamanha a ponto de poder ouvir a conversa sussurrada no quarto ao lado.

"Eu ouvi a conversa que você teve com a Marcelle." Diz Guilherme. "Se sua amiga corre perigo, como ouvi você dizer, você tem que ajudar! Não importa se é apenas um pressentimento. Precisa ir lá e certificar, garota!" Atson e Dara olharam para Gui assustados com a ousadia. Eles nem se conhecem.

Marcelle não permitiu que a garota fosse auxiliar Jéssica e Adler. Você acabou de curar e desmaiou, dissera a chefe.

"Ainda bem que não sou seu laço. Você é patética, medrosa e fraca. Não importa se não te deixaram ir. Você simplesmente tem que ir. Eu pularia da janela do 10° andar se fosse preciso." Assim que diz isso, Gui se aproxima da garota e cospe aos pés dela.

"Me dá seu celular!" Pede Guilherme.

Atson não diz nada, pois sabe que o amigo não irá ouvir. Guilherme não é o mesmo por enquanto.

"Anda, sua inútil! Diz onde ela está! Se você não vai, eu vou! Pare de me fazer perder tempo!"

Dara tira o aparelho do bolso e o entrega.

Guilherme disca um número, e no primeiro toque é atendido.

"Ti?"

"Que é?" Com o passar do tempo, boa parte das pessoas da Cooperativa passaram a deduzir quando Gui estava fora de si. A voz aveludada e carinhosa que geralmente ele possui passa a ter um tom firme. Quase nunca há formalidades.

"Preciso que rastreie um telefone. Não faça perguntas." Ordena.

Em segundos, Tiago encontra. Graças a habilidade que possui, ele pode se ligar a todas as tecnologias a uma distância significativa. Informa o local. Antes mesmo que Tiago diga mais alguma coisa, Guilherme encerra a chamada dizendo um obrigado apressado.

"Parque das Palmeiras. 2° andar. Sala 7." Informa Guilherme virando-se para Atson.

"Não quero que você venha comigo. Você nos atrasaria." Guilherme diz, e Atson apenas balança a cabeça em concordância. Eles trocam um olhar de cumplicidade. As palavras parecem ser duras mas, os dois sabem que é a mais pura verdade. A habilidade que Atson possui não é necessária no momento. "Mas preciso que fique de olho no Claus até voltarmos. Você parece bem o bastante."

"Tudo bem."

Tira duas adagas da cintura. Atson nem percebeu quando o amigo as havia pegado no quarto. Guilherme sempre deixa as facas próximo de si, mesmo usando-as quando extremamente necessário.

Guilherme começa a se distanciar.

"Gui? Chama Atson.

Guilherme se vira e o olha nos olhos.

"Se cuida."

Os dois sorriem. Confiam um no outro.

"Anda, garota! Se quiser ficar olhando para a paisagem, não fazer falta." Hesitante, Dara o acompanha. "Não estou preocupado com o Adler, apenas com sua amiga. O Adler pode se virar melhor do que nós dois juntos."

Vão até o heliporto.

Ele destranca a porta do helicóptero facilmente usando a uma das facas. Os dois entram e sentam. Guilherme mexe nos botões.

"Nunca voei em um desses."

"Se acha que vamos até lá de helicóptero, sinto em te decepcionar." Diz ele apertando mais alguns botões.

"Mas o que então..."

"Olha bem pra mim." Pede. "Parece que você não conhece muito bem o Adler, e estou certo, não é?" Dara concorda, mas não diz nada. "Se tudo estivesse bem, ele e sua amiga estariam aqui e todos estaríamos na reunião que a Cooperativa planejou. Isso tudo tá ruindo, garota. As coisas aqui não estão tranquilas. Muita gente da Cooperativa tá traumatizada por causa das desvantagens dos poderes, e digamos que o Adler não tem apenas um inimigo. As pessoas dariam o filho que tem só pra vê-lo morto."

Guilherme sai da aeronave bate a porta. Caminha apressadamente em direção ao elevador. Dara faz o mesmo.

"Inveja é um sentimento deplorável. Eu entendo bem o que o Adler passa. Sabe como é. Não sou exatamente um anjo, querida."

Guilherme para.

"Vamos demorar muito se formos de elevador. São muitos andares pra descermos."

"Ah, que ótimo, temos um pássaro aqui. Você voa, então vai ser mais fácil pra gente. Podia ter dito isso antes."

"O que? Voar? Nada disso. Posso ser o que eu quiser, colega. Me acompanha." Diz ele correndo até a borda do prédio e pulando. 

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⏰ Última atualização: Jan 04, 2019 ⏰

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