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Pov Duda

Me encontro no uber com minha ex ao meu lado. Não faço a menor ideia de onde vamos e se estou fazendo a coisa "certa", quando só penso em Luana e em como fui frígida, porque na verdade naquele dia queria passar a noite toda com ela...

-daria um doce para quem soubesse no que você está pensando Eduda..-fala Hisa sendo simpática e se aproximando mais um pouco.

-estou pensando no local em que você vai nos levar...- acabo mentindo e tento afastá-la da minha mente. 

-pois pode parar de pensar. Chegamos!

 Saio do Uber e acabo de perceber que estamos no Recife antigo. Só queria entender o que estamos fazendo aqui, porém eu decidi me permitir. Então, vou baixar minha melancolia e aceitar de bom grado esta noite.

-Eduda, para de pensar!- Hisa me tira do transe e sinaliza para irmos. 

-juro que nem penso tanto!

-então, você está assim por que brigou com alguma boysinha? Algo no trabalho?

-eu? tá louca hisa?-Inflo o peito- sou uma mulher solteira!- solto o ar e sorrio pensando em Luana e no que ela deve estar fazendo.

-certo, mulher solteira!

Falamos sobre a faculdade, Hisa está um período na minha frente. A universidade é como um buraco negro. Descobri que ela está namorando e como sempre que ela é uma pessoa leve que não consegue manter-se fixa em algo, ou seja, relacionamento aberto.

Conto sobre como estou na merda com o fato de ter ficado com a professora algumas vezes e percebo que o meu problema é sempre ser intensa nas coisas. Por fim, falamos de como tem sido morar sozinha. 

-Eduda, vamos tomar um café?

Balanço a cabeça afirmando e paramos no malacoff. O paço do frevo estava aberto, então depois que tomamos café subimos para relembrar dos velhos tempos em que saíamos para conhecer museus, enaltecer Recife.

-nossa, isso aqui sempre será lindo...

-se lembra quando fomos no mamam?

-sim, eu tinha um pseudo desafio para gravar um vídeo te dando um abraço.

-nessa época eu era uma babaca...-Hisa fala olhando os quadros.

-por que?

-Eduda, eu gostava muito de você e fingia que não, eu ficava com várias e pensava sempre em você...

-me lembro bem.. Porém são águas passadas!- falo sorrindo e me aproximando para observar o quadro que ela parou para admirar. -então você não gosta mais de mim?-falo sorrindo

-em tudo o que eu disse, você só prestou atenção nisso?

-parei!-falo sorrindo

-se lembra, noite estrelada?

-lembro...eu fazia círculos em segmentos de ondas e enquanto assistia as aulas. 

-eu jurava que você me detestava naquela época...

-como pode? eu te admirava, você sempre se destacando, citando Drummond...

-eu não pensava isso, teve uma vez que você fez um desenho do pequeno príncipe, a cobra engolindo o elefante que mais parece um chapéu. Eu citei o que era, você virou, me deu um sorriso sem graça e voltou ao seu foco. 

-ah! Hisa, ali eu estava completamente centrada na aula de física. Eu amo física!

-sempre te achei uma das  meninas mais bonitas da sala...

-por que você não veio falar comigo?

-pensei que você fosse hétero, até o dia em que pediram para levantarem a mão de quais eram as orientações sexuais de todas as pessoas  da sala e você levantou a  mão em bissexual. 

-verdade, eu levantei a mão passada de vergonha. Sempre fui meio introspectiva. 

-nem tanto..

Sorri e me aproximei dando um abraço bem forte nela, sempre tivemos o costume de conversar entre abraços, minha boca sempre ficando em seu pescoço. Dessa vez, como todas as outras foi espontâneo. Quando dei por mim, minha boca estava em seu pescoço. Pude sentir o seu coração acelerado e seus ombros caindo relaxando. 

Me senti com quinze para dezesseis anos novamente. Inalei seu cheiro e minha mente dizia para me afastar desse boicote de passado, mas meu corpo se recusava. A cada segundo nossos corpos pareciam que iam fundir-se. 

Demoramos bastante para poder desfazer o abraço. Eu não me sentia preparada. 

Me lembrei da música de Castello Branco, Céu da boca "Tenho categoria para amar quem não me acrescenta", me lembro que na época eu não pensava no amanhã e nem no ontem quando estava com Hisa, nos parques, nos museus. Era apenas o agora e aquele agora fazia-se mais vivo quando selávamos os lábios.

Era como trazer o carnaval em pleno mês de Maio. 

Fui devorada por tudo o que ocorria no passado e no quão covarde eu fui em não assumir o que eu sentia. Será que eu estava fazendo isso tudo novamente?

Hisa volta com um sorvete nas mãos e me entrega um de baunilha com calda de doce de leite

-Eduda, foi muito bom ter te encontrado hoje. Apesar de que eu estava com medo do que poderia acontecer...

-medo?

-é...

Saímos do museu e escutamos uns barulhos no fundo. Provavelmente deve estar acontecendo um show surpresa. 

-bora ver que barulho é esse?- pergunto curiosa

-vamos...

Seguimos o som e quando chegamos na multidão estava acontecendo um show de Liniker. 

-Quem diria, hein Eduda?

-puxa, que sorte!- sorrio empolgada indo para dentro da multidão

Estava tocando Fim de festa. Que é uma mistura de Belchior e D2.

-Hisa eu amo essa musica!

Ficamos lado a lado, porém chegou um momento em que apertou e ela teve que ficar atrás de mim. Neguei com a cabeça, ONDE É QUE EU IA IMAGINAR IR A UM SHOW DE LINIKER COM HISABEL ATRÁS DE MIM. AAAAAA ELA ME ABRAÇOU!

-Tá tudo bem, Eduda? - Hisa pergunta cantarolando a música e me abraçando, enquanto inala o meu cheiro.

Me viro e ela sorri me puxando pela cintura.

 encaro por longos segundo e sorrio em resposta. Me vem na mente a música de Cícero "Isabel a vida só vai melhorar dentro da sua cabeça". Me vi sendo a Isabel, afastei esses pensamentos e dei um selinho em Hisa. 

-ei...

Hisa me encara mais uma vez e essa música parece estar sugando meus miolos. Me aproximo e a beijo. A beijo porque devo isso ao meu antigo eu, devo isso as minhas noite tentando relembrar como eramos, devo isso aos momentos em que eu imaginava como seriamos se ela não estivesse em outro estado. 

O beijo tem gosto de passado e assim como no passado, minha antigas borboletas voaram e me levaram para longe. Eu estava imersa momentaneamente naquele mundo de Hisabel com "H". Parecia que eu estava sendo lida, seus lábios me devoraram.

Estava tudo tão confuso, eu não me permitia pensar. Não podia. 

Acabamos o beijo e eu a abracei. Seus abraços me envolveram e eu me deixei ser envolvida, eu precisava disso naquele momento.

Mi tormentoOnde histórias criam vida. Descubra agora