Venha Oportunidade

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Respirei fundo várias vezes enquanto meus olhos vidravam o ícone azul do Skype.

Estava prestes a fazer uma grande loucura: uma entrevista de emprego; nesse ponto de vista não tem nada de louco, as pessoas fazem sempre isso para se mostrarem aptas para alguma vaga né. É, bastante normal!

A quem eu quero mentir? Isso é mesmo louco: serei entrevistada para um emprego num país asiático que eu só aprendi a escrever o nome a semana passada e ainda fico em dúvida se a língua oficial é mandarim ou coreano, ou coreano é quem é nativo? aff. Nem sei o porquê que não fiz essas perguntas todas ao tio Google, ele sempre sabe quem irá me dar a resposta - penso nisso enquanto levanto para ir lavar os dentes.

PLING PLING

O ícone começou a se mexer e o som de uma vídeo chamada a ser recebida ecoou na minha cabeça. Larguei a escova e apressadamente saí do outro compartimento, tropecei e a minha parte traseira teve um encontro com o chão não muito agradável.

Nem acredito que eu cai, isso não acontece desde que tinha 17 anos.

Recuperei e puxei o computador para atender de forma inconsciente.

- Good Morning Miss Luana - disse cordialmente a Senhora com quem falei no outro dia eu respondi e fui apreciando as pessoas que se encontravam na sala de reuniões.

Para além da Senhora tinham mais duas, um Senhor redondo que usava uma camisa descontraída e um par de óculos para corrigir a visão e um outro que parecia mais sério e tinha um cabelo super brilhante e liso e os olhos muito puxados por detrás das lentes presas por ma armação preta.

- Está tudo bem? Acordamos-te? - perguntou o Senhor redondo em um leve inglês respondi afirmativamente a primeira questão e olhei para as calças de pijama que vestia por baixo da secretária.

- Digamos que o entusiasmo me acordou - são 2h da manhã e pelo que eu entendi são 8h de diferença, ou seja dez horas da manhã lá.

- Como já sabes sou Shiu Doha e sou responsável pelo recrutamento de tecido humano valioso para a nossa Empresa. Do meu lado direito - o senhor de cabelo hiper mega saudável e brilhante - está o Lenzo Yoon que está a comando do negócio globalmente. E do meu lado esquerdo está o Senhor Bang Si-Hyuk.

- Prazer em conhece-la - disse o Senhor Si-Hyuk a acenar. O outro apenas concordou.

Ficou um segundo de silêncio e percebi que era a minha vez de me apresentar.

- Acho que esse silêncio significa que é a minha vez! - sorri e eles riram - Chamo-me Luana, perdoem-me porque não sei falar outra língua estrangeira para além de inglês. É muito gratificante que apesar de eu ter feito a candidatura de modo errado vocês tenham mesmo prestado atenção a mim, sinto-me muito grata pela oportunidade.

- Digamos que nós gostamos de trabalhar com pessoas um pouco fora do padrão. - respondeu a Senhora Doha. - A nossa empresa é uma empresa de entretenimento temos artistas conhecidos globalmente, e por isso mesmo precisamos de trabalhar com pessoas competentes de qualquer parte do mundo para que possamos sempre estar a par dar tendências mundias.

- Sim sim, Shiu tem toda a razão. Será que tens ideia do porquê que criaste tanto interesse para nós?

Pensei um pouco nas palavras proferidas pela Senhora Doha.

- Creio que para tentar criar abertura no mercado não só angolano, mas talvez africano visto que em termos de cultura somos muito diferentes e programas ou músicas asiáticas não são muito populares por aqui, ainda não firmaram o seu lugar no mercado. Ter alguém especialista em Marketing e conhecedora do meio envolvente seria uma óptima oportunidade para mudar esse quadro e criar ligações sólidas com empresas africanas neste ramo.

Os três olham para mim acho que a espera de um pouco mais. O senhor de cabelo hiper mega liso, saudável e brilhante falou:

- Porquê que queres uma mudança tão radical? Viver em um país que nem percebes a língua, os lugares são diferentes o teu lifestyle vai mudar. Parece que está tudo bem com a tua carreira porque estás numa empresa que é referência no teu país. Porquê a Big Hit? Porquê a Coréia?

Eu nunca tinha pensado nisso, mas é um bom momento para colocar o cérebro a funcionar.

- Eu me considero uma pessoa criativa e cheia de habilidades, mas não quero uma vida estagnada numa rotina ou não ter a oportunidade de novos desafios na minha carreira. Tenho apenas 25 anos e pretendo crescer a cada dia que passa e seria mesmo muito radical deixar tudo e partir não tendo a certeza que dará certo, mas a vida é incerta e eu creio que este é o momento que eu preciso para colocar todas as incertezas e arcar com consequências das minha vontades. Eu darei o meu melhor para me adaptar e estar ao nível do que me espera para que eu seja um elemento que agrega valor de forma positiva na empresa em detrimento de ser um custo irrecuperável.

- Permita-nos ter uma conversinha - o mesmo senhor pediu e começaram a conversar em outra língua, senti que me sai bem e mesmo se eu não conseguir o lugar posso estar orgulhosa de mim. O senhor Si-Hyuk de forma repentina faz uma pergunta, mas como não percebi pedi para que repetisse:

- Conheces os BTS? - neguei - Nunca ouviste falar? Nada? - voltei a negar porém com medo de que fosse alguma estratégia de Markting muito conhecida e que eu não fazia ideia, eles podem me reprovar só por ter respondido mal essa pergunta? Voltaram na língua oficial antes de se despedirem de mim.

- Daremos notícias fique atenta ao seu e-mail. Cuida bem de ti, e esperamos que tenha um bom dia. - disse a Senhora Doha.

- Muito obrigada pela oportunidade e votos de um dia ainda melhor.

Assim que desliguei a ansiedade foi como um balão que esvaziou. Deitei na cama e dormi.

***

Já faz uma semana desde que fiz a entrevista, falei com a Direcção sobre uma possível demissão e eles não aceitaram e nem queriam saber sobre o assunto. Por outro lado tudo pareceu um sonho e ainda não recebi notícias estou de volta a minha vida normal estou feliz por ter tentado, parece que há coisas que não são para mim.

Antes de voltar para casa passei no hospital porque a Tati estava lá com o filho. Levei-os para casa e fiquei com eles. O menino adormeceu e fui colocá-lo para dormir enquanto a Tatiana acabava de fazer o jantar.

- Então maninha, o que os pais acharam?

- Nada. - respondi.

- Como assim? Eu duvido se eles disseram "nada".

- Eu é que não disse nada para eles, então se eles não sabem têm uma opinião nula sobre o assunto. FIM. - ela revirou os olhos.

- É melhor falares agora ...

- Não quero alarmar nada. Pode ser que nem consiga a vaga.

- Só consegues pensar na parte mais fácil? E se conseguires como fica? Uma grande discussão com os pais até eles te convencerem a ficar como das últimas vezes? Parece até que tu é que tens medo de arriscar e só colocas as culpas neles.

Essa frase foi como uma faca no meu coração e meu olhos encheram-se de lágrimas que não caiam. Respirei fundo várias vezes.

- Eu vou andando Tatiana, fica bem. Cuida bem do Jorginho. 

A estagiária da Big HitOnde histórias criam vida. Descubra agora