• Capítulo Um •

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Dois anos depois (Narração de Odette):

Fecho os olhos tentando imaginar como eu vim parar neste lugar, que é completamente diferente de tudo o que já sonhei para mim. Bem, quando o dinheiro e o sustento de sua filha é o que está em jogo, então não há no que pensar, só em aceitar a primeira coisa que seja capaz de suprir as necessidades de seu filhote. Minha mãe sempre lutou por mim. Antes de morrer, ela dizia que filhos são como o bem mais precioso que temos. As vezes ele nem é planejado ou desejado, mas se dermos uma chance a nós mesmos o filho pode se tornar a jóia mais rara e preciosa que alguém poderia ter, o qual você lutaria e até mesmo mataria por ele. Antes eu não entendia o que minha mãe dizia, agora sei como é. Já estou vestida, mais uma noite nessa boate de quinta categoria. Estou aqui apenas para trabalhar e nada mais. Não se enganem, eu não sou uma prostituta, apenas dançarina de Striptease, ou seja, uma stripper. É claro que quando quero uma grana extra, faço uns trabalhos reservados. Isso  raramente acontece.  Apenas quando estou precisando de algo a mais para pagar alguma coisa relacionado a minha filha, e não é com qualquer pessoa. Geralmente eu sempre fico com o gerente de toda essa boate e quando ele está indisponível — com outra mulher —, então eu apelo para o subgerente. Ambos gostam de mim e sempre estão disponíveis, raramente um deles não está, mas sempre dou meu jeito e consigo a grana que está faltando, nem que tenha que implorar para que me dê um dinheiro adiantado e depois eu faço hora extra para compensar. A verdade é que vim até aqui porque não admito que minha irmã tenha que ficar sustentando minha filha, pagando suas saídas de escola, passeios, etc. Olho para o espelho, a próxima a estar lá sou eu. Sou conhecida como Silenciosa. Sou a favorita deles e acho que é justamente por ser a única mulher em que nenhum cliente possuiu até agora desde dois anos. Aqui existem meninas de dezoito anos que já sairam com mais de cem homens. É lamentável. Coloco minha máscara. Ouço meu nome ser anunciado no auto falante e saio, pegando a chave de meu camarim e entregando-a para o segurança. Continuo caminhando em direção ao palco, onde estarei como a dançarina principal no pole dance do meio e mais duas outras colegas de trabalho estarão nos outros, uma de cada lado. Já estamos atrás das cortinas. Meu coração palpitava, apesar de não ser com a roupa ideal eu gostava muito de dançar. Sempre tive essa vocação. O problema foi eu ter estragado minha vida quando me casei.

— E com vocês... Silenciosa e as diabinhas!!!

A plateia entrou em alvoroço. Hoje seria uma apresentação diferente, ensaiamos a semana inteira. É muito importante que mantenhamos as atenções de todos os clientes por um bom tempo, ou pode ser descontado dos nossos salários por não termos batido a meta estabelecida de cada mês. A música já começou a tocar, logo as fumaças começaram a sair e nós aproveitamos este momento para entrar e nos posicionar. Todos estavam completamente ligados no que estávamos fazendo, até que começamos a dançar. Eu sou a primeira a pegar no pole dance e fazer movimentos sensuais, seguidos por minhas colegas de palco que também dançavam muito, se pendurando ali. Jack, o gerente daqui sempre disse que tinha que colocar dançarinas muito boas comigo, para poder estarem a minha altura, pois nenhuma sequer chegava aos meus pés. Ele dizia isso porque sempre me quis como sua mulher, mas eu nunca o quis como meu homem, muito menos como marido. Essa história de casamento não vai se repetir em minha vida. Tudo o que quero agora é pedir o divórcio e ser novamente alguém livre. Perante a lei sou casada.

— Linda!

— Gostosa!

Era o que se ouvia desse tipo de público, elogios nada saudáveis para se fazer a uma mulher. E eu não poderia reclamar, afinal, foi esse o tipo de trabalho que escolhi para mim. Queria ter tido outras escolhas, mas isso foi a única solução quando recebi muitos "não". Neste momento sempre penso em Lucinda, eu não gostaria que ela viesse para um lugar como este apenas para ganhar dinheiro, mas eu faria de tudo para a agradar e dar tudo o que precisa e pede. Olho ao redor. Jack está me observando como se me quisesse esta noite, como se fosse um pedaço de carne. Para ele é isso o que sou. Hoje não vai dar, depois de dançar vou direto para casa para poder descansar e assim aproveitar o dia com minha filha, pois ela está fazendo dezessete anos de idade. Não posso e nem quero ficar com Jack está noite. Sim, tive minha filha com vinte anos e apesar de não parecer, tenho trinta e sete anos de idade e espero nunca mais ter nenhum filho em minha vida, pois já estou ficando velha de mais para isso. Faço um giro de ponta cabeça pendurada no pole dance e olho novamente para Jack, o provocando. Ele adora quando faço isso e acho que já temos intimidade o suficiente para fazer isso um com o outro. Sorri e pisca para mim. Neste momento vários outros homens gritam coisas que eu odeio escutar e começam a jogar dinheiro em minha direção, eu era a atração principal daquele evento. Era quem todos queriam ter, mas apenas um tinha. Logo a música acaba e nós nos retiramos, pois por sermos as estrelas principais, ganhamos o suficiente apenas com uma música e não precisamos de muito para bater nossa meta. Ainda vestida com minha lingerie caminho até a saída e as meninas conversam entre si com qual homem irão passar essa noite. Chegando ao salão, todos os homens me receberam com aplausos, assobios e elogios vulgares
Ignoro a todos e vou até Jack que está sentado conversando com outros homens amigos deles. Ao me ver ele indica seu colo e monto nele de frente para o mesmo que já pega firme em uma de minhas nádegas. Amo esse seu toque selvagem. Fico ali lambiscando e mordendo seu pescoço, enquanto ele está com a mão em meus cabelos e com um cigarro que passa entre seus dedo e sua boca. Ele logo me faz parar. Olho para ele confusa.

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