• Continuação •

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Dou uma tragada no cigarro enquanto olho o movimento fraco da água dentro da piscina da casa dos Walsh. Elizabeth e Roberto Walsh. Em pensar que quase morri afogada por várias vezes quando criança. Ainda assim gostava de piscinas e muitas das vezes ficava ali dentro até minha pele enrugar. Hoje sou uma fodida de uma stripper e prostituta pessoal do gerente de toda aquela porra de boate cheia de vagabundas de dezoito aninhos que já deram para mais de cem homens. Algumas atendem tantos clientes por noite que é até impressionantemente incontável. Minha filha tem quase a idade de muitas garotas por lá, apesar de não ser como elas, tenho medo que algum dia se torne. Não gostaria de ver ela assim. As vezes fico pensando em muitas mães que mandam suas filhas para a escola ou até mesmo que as deixa sair pensando que a filha é apenas a vendedora de bebidas no barzinho dentro da boate, quando na verdade sua filha é a própria prostituta daquela merda. Porque eles tem que aceitar pessoas tão novelas ali dentro? Tudo por causa do maldito dinheiro que lhes proporciona riqueza e poder. Desgraçados. Por este motivo as vezes me dá vontade de meter fogo em tudo aquilo, como podem permitir que essas meninas — muitas nem de maior são — sejam usadas como objetos sexuais? Muitas dessas gatotas nem sabe o que quer de verdade. Por isso aconselho muito minha filha a não fazer merda em sua vida, ela sabe que se for uma puta desgraçada, então meu esforço não terá valhido a pena, Lucinda é muito grata a mim e me prometeu que nunca se sujeitará a boates e homens que só pensam no que ela tem no meio das pernas. Um buraco para enterrar seus pintos cheios de AIDS é tudo o que eles querem. Muitas meninas ali dentro foram infectadas com essa doença, as vezes por a camisinha ter estourado e outros motivos mais. A vida delas nunca será a mesma e ainda que consigam viver uma vida a base de remédios, nunca serão completamente felizes, sempre serão a droga de pessoas consideradas como soropositivos. As vezes até penso que minha vida é tão fodida que não tem como piorar e então, me lembro dessas meninas na boate e tenho a certeza que tem sim como piorar.

Elizabeth se sentou ao meu lado, me fazendo sair de meus pensamentos sobre a boate. Nem ela sabe que trabalho neste lugar sujo e completamente cheio de homens de todos os tipos. Ela sempre quis ter um filho e eu ao contrário. Dizia que nunca iria engravidar, mas Deus não quis assim. Elizabeth tem o útero infantil e sofre muito com isso. Sempre disse que seu maior sonho era gerar o filho, já até tentou inseminação artificial. Descobriu que seu problema não estava em ovular, mas em gerar um filho. Elizabeth ovula normalmente, seu problema está no útero que não consegue segurar um feto por não ter se desenvolvido. A descoberta foi quase fatal para ela que até pensou em se jogar de qualquer lugar, tudo para deixar de existir em um mundo que seu sonho não se tornaria realidade. Aí eu lembrei a ela de que mamãe também teve o útero infantil é mesmo assim, conseguiu ter a nós duas. Seu marido também tem um sério problema e portanto isso torna para o casal tudo mais difícil de serem pais, mas não é impossível. Agora ela faz assiduamente tratamento para tentar desenvolve-lo.

— Lucinda amou seu presente.— Sorriu.

Minha vida estava uma merda, tudo o que estava acontecendo ao meu redor era simplesmente digno de nojo e ela só vem me dizer que Lucinda amou o presente. É claro que só disse isso, não sabe de nada do que realmente está acontecendo comigo e eu acho que se soubesse faria de tudo para tirar a guarda de minha filha de mim. Elizabeth sempre amou-a como uma filha, talvez até mais que isso. Certa vez até me disse que essa menina tinha que ser dela e que Deus foi injusto, dando filhos a pessoa errada. Se descobrisse que sua irmã é, na verdade, stripper, ela com certeza me tiraria a guarda da minha filha e a adotaria, impossibilitando de todas as maneiras possíveis a minha aproximação. Minha irmã é uma pessoa muito boa, mas sempre percebi que ela queria que Lucinda fosse sua filha. Eu jamais permitiria que me arrancassem meu anjinho, lutaria com unhas e dentes até que ninguém mais conseguisse a tirar de mim, nem que pra isso eu tenha que imigrar para outro país.

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