III

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‎As lágrimas saíam sem pedir licença, eu chorava pedaços de manhãs , tardes, noites e madrugadas, friamente olhava cada gota cair do rosto, colocava os cabelos para o lado esquerdo, balançando a cabeça para os lados, quase alongando. Depois de um tempo, uma fúria dominou meu corpo inteiramente, quase um surto, então adentrei até onde estava o chuveiro e olhando para cima senti a água gélida inundando-me.
‎Desde desse dia resolvi mudar, o que são os fins, senão recomeços? Pois se o veredito era o final, não poupava as chances de pôr ao ataque da mesmice uma mudança, porquanto os meus dias eram meus, e tinha nas mãos tamanho poderio para não acomodar-me. Passando perto da borracharia, me caiu as pupilas uma tinta preta no qual um pintor de jardineira jeans, cor de azul, pintava as paredes assombrosamente, pois o seu olhar chovia um ar grotesco, aquele indivíduo não era delicado como os outros , nem articulava as mãos com precaução, jogava a tinta na parede como se já não se importasse com o trabalho, foi quando acendeu-me a cabeça uma ideia insana, desejei me sujar ou empurrar o pintor, brevemente os passos me tomaram os pés, portanto outros pés rondavam a cidade, era Ricardo, solitário e com destino pronto, a camisa que não era xadrez, era branca, estava solta no peitoral, então o meu fôlego pareceu correr para as montanhas, uma turvação tomou a cena que me abatia aos olhos, não presenciava minha pessoa em mim, visto que, por um minuto transcendia, e internamente uma nuvem de sentimentos brigava sem pausa, creio que tudo acontecia em minha barriga, já não raciocinava outra opção para não acontecer - as borboletas que o diga. Aqueles lábios mansos chegaram até a divisão do meu espírito, quase me saindo as têmporas, levantei as sobrancelhas, já  não entendia o que ele tentava dizer-me.
‎- Moça, moça? Moça? - estava paralisada, depois de uns segundos consegui responder.
‎- Siii...iiim?
‎- Você sabe que horas fecha aquela sorveteria? - eu já não mexia o rosto, só saíam as palavras.
‎- É... É... Hmm... Às 11:40.
‎- Obrigado.
‎E essas foram as primeiras palavras que ele dirigiu a mim. Durante exatamente cinquenta e sete minutos sentei-me no banco da praça, com as mãos sobre as pernas, a coluna ereta e os olhos desapercebidos quanto ao espaço, o que eu pensava? Era exatamente em nada, nada pousava-me ao pensamento, sabia de uma música infinita em meus ouvidos , e quanto mais esforçava-me para ouvir menos ouvia.

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Amei Ricardo - Rani FerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora