IV

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‎ ‎Acordei às oito e quarenta e dois, segundo o relógio do meu criado mudo, e depois de entregar ao sono um tempo reflexivo da realidade, pus-me em pé. Não avistei nenhum rapaz gordo ou magro, que chegasse a ter me amado ou odiado,nenhum observador dos meus vestidos, mesmo porquê minha janela estava fechada, mas a linha imaginária do pensamento não. Praguejei uma ou dez palavras - uma para falar da minha calma, dez para ser antítese - e tomei meu café em uma xícara grande de cor laranja, os meus dedos tocaram a flor branca decorativa da frente da xícara, com a outra mão mergulhei uma rosquinha no café, deixando o paladar abismado com tamanha delícia. Não era de meu costume vestir calças compridas, assim como comer rosquinhas ou praguejar, não estava reconhecendo a pessoa na qual se hospedava em mim, entretanto em cinco segundos que me restavam a imortalidade, suspirei. A calça desbotada colava nos quadris, delineando meus ossos invictos de total façanha, entortei a cabeça para um lado do espelho, procurando encontrar motivos para não me vestir aquele modo, mas a verdade aos poucos tomou-me a sombra da incerteza , estava ótima daquela forma, o que me fazia pensar outra vez - assim como escolhia meus vestidos, queria fazer com minhas calças- calçei um par de tênis na cor preta e logo me apercebi de como eram grandes, antes que outra opinião viesse a mente, peguei um pincel e espalhei toda maquiagem barata no rosto. Os passos eram curtos, mas depois de aproximadamente seis minutos e trinta e cinco milésimos cheguei a biblioteca, dona Firmina me recebeu aos beijos, ela sabia o quanto eu a afeiçoava. Depois de um tempo longo procurando um livro que me agradasse aos olhos, escolhi - não julgava os livros pela capa, julgava pela descrição curta e resumida sobre o livro - era um romance, antes que a insegurança chegasse, segurei-o  e levei para casa minha esperança de aprender um novo vocabulário além da monotonia diária. Depois de folhear quatro páginas, comecei a ler, os olhos quedaram tristes mais uma vez, escorreguei os cabelos na cama encarando a parede fugazmente, todas as vezes a tinta branca dissipara o meu ser em acordes funestos, mas não pude reaver o que me escorava o peito, um punho fechado, incessante e escarlate. Então no primeiro segundo caiu de meus olhos uma lágrima, não mais que uma lágrima, e quando as horas me foram relógio desceram rios, tantas para uma tarde só, a dor vinha de alguma direção e transcorria em passos animalescos nos compartimentos do meu ser, e todas as vicissitudes me eram efêmeras postas ao apanhado rubro da solidão.

Amei Ricardo,
E não foi por simplesmente amar,
Foi para dizer a ti,
Que ame também Pedro, João ou Armando.
Mas esqueça Ricardos!
P.s: Não me refiro aos nomes.

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Amei Ricardo - Rani FerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora