Capítulo 2

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O interior da casa de meu avô estava completamente forrado por luzinhas e enfeites de todos os tipos, meu primo o havia enfeitado com a ajuda de sua namorada, essa sem dúvidas era a época do ano preferida dele, mesmo que ainda faltassem praticamente dois meses para o Natal. Me encolhi na poltrona e voltei a bebericar o suco de laranja, a caneca que me foi oferecida era a preferida de minha tia, mas ela não se importava em vê-la fora de seu armário pequeno que ficava no canto da cozinha.
Meus olhos pesavam, cada vez mais, a única coisa que me mantinha consciente e não me permitia cochilar ali mesmo, era a gritaria de meu avô e meu pai. Revirei os olhos mais uma vez, eu não entendia o motivo de tanta insistência, mas meu avô estava quase tendo um ataque.
Fechei os olhos decidida a me concentrar apenas na música, e é claro, em não dormir também. Algo dentro de mim dizia que minha família estava desmoronando, e toda a pequena estrutura que eles haviam construído durante esses anos também, e provavelmente era culpa minha, ainda que eu não soubesse direito o porquê.
De repente, Filipe surgiu em meu campo de visão, meu primo tinha a expressão séria e seus olhos estavam marejados. Ele avançou em meu rosto e puxou os fones de minhas orelhas, levando junto algumas mechas de cabelo, o que me fez resmungar

— Qual é, Nevaska? Você está vendo que os dois estão quase se matando por causa daquela maldita instituição e continua aqui fingindo que nada está acontecendo! Não pode simplesmente aceitar e ir pra lá? — Meu primo sacudiu os fones antes de arremessá-los para longe.

Me agitei na poltrona, e endireitei meu corpo em quanto o encarava indignada. Era minha vida e eu não poderia aceitar fazer isso por causa de um favor bocó que meu pai devia para um cara rico. Revirei os olhos após abrir a boca diversas vezes mas não consegui começar sequer uma frase para argumentar em minha defesa.
O barulho de vidros estilhaçados nos fez pular de susto, inclinei minha cabeça para conseguir ver o que acontecia no jardim dos fundos. Meu pai estava gritando e segurando um bastão de basebol, em quanto meu avô gritava e levantava o pedaço de um galho. Voltei a olhar para Filipe, ele ficava cada vez mais enfurecido e parecia prestes a voar em minha garganta, me levantei e corri em direção a porta de vidro que separava a cozinha do jardim onde os velhos continuavam a discutir, a abri e ao dar um passo para frente percebi que o chão estava cheio de cacos de vidro, com cautela passei por eles e então pude voltar a bater os pés de maneira irritada.

— Parem vocês dois! Parem! Já chega! — Cerrei os punhos e gritei o mais alto que pude.

— Saia daqui sua víbora! — Meu avô gritou apontando com o galho em minha direção.

— Vá para dentro, Nevaska! Isso não tem nada a ver com você! — Meu pai jogou o taco para longe e veio em minha direção tentando me empurrar.

— É claro que tem a ver com ela! Se vocês não tivessem aceitado aquilo... Isso não estaria acontecendo agora! Nossa família corre perigo por causa de uma pessoa que sequer faz parte dela! — Meu primo gritou saindo de dentro da casa.

Franzi o cenho e os encarei. Eu já havia desistido de entender essa história, já que em todas as vezes todos eles desconversavam, parecia algo muito mais complexo do que aparentava a princípio, e quando criança após a primeira briga de meu pai com minha mãe, comecei a me questionar sobre muitas coisas envolvendo meu passado e também o da família. "Nevaska, você é minha filha de coração, e nossa família ama você de toda forma, não importa se você não cresceu na minha barriga... Sempre vai ser nosso bebê", minha mãe dizia isso sempre, sempre que eu começava a me questionar sobre o quanto eles gostavam de mim, depois que descobri a adoção fiquei muito nervosa, foram os dias mais complexos da minha vida.

— Chega! Parem vocês dois! Vovô, solte esse galho, por favor. — Pedi caminhando em direção ao homem grisalho. — E você, Filipe, saia daqui  porque ninguém te chamou na conversa!

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