Abrir os olhos parecia uma tarefa impossível, minhas pálpebras estavam pesadas como bigornas, finalmente vi os primeiros traços de imagens. Um quarto branco, as paredes e o teto continham partes descascadas de tinta e mofo, uma pequena lâmpada alaranjada clareava o ambiente, meu corpo parecia estar colado no colchão, e sobre meu corpo um fino lençol azul, olhei ao redor mais uma vez, tentando levantar agora, meu braço estava dolorido e só então percebi a pequena bolsa de soro ligada ao acesso venoso na parte de cima de minha mão.
— Ora, você acordou. — Uma senhora sorridente com uniforme branco entrou no quarto. — Foi uma queda feia, sorte a sua não ter acontecido nada mais grave... Além do vomito no sapato do corvo Ettore.
Ela segurava uma prancheta parecida com a do corvo de mais cedo, mas usava uma espécie de caneta para escrever coisas nela em vez de digitar. A mulher analisou o soro e soltou um pouco da pequena trava que controlava a quantidade a ser enviada para o fino tubo em direção ao meu acesso, a bolsa já estava quase no final. Permaneci em silêncio,
— Sou a enfermeira Patche. Você teve uma desidratação e por conta do serviço "pesado", com o qual a senhorita obviamente não está acostumada, e sua pressão é bem baixa não é mesmo? — Ela tinha um olhar meio mórbido, seus olhos esbugalhados me assustavam.
Balancei a cabeça concordando, minha pressão era baixa realmente, por isso eu não costumava ficar tanto tempo sem comer. Saltos grossos vinham em nossa direção, a enfermeira se aproximou da lateral da cama e apertou o botão que a fazia levantar, me sentei e estendi a mão para que ela tirasse aquela agulha de dentro da minha veia, ela franziu o cenho fingindo demência, revirei os olhos e abri a boca, estava tão seca que minha garganta parecia quase rasgar.
— O Senhor tinha razão, ela vai precisar mesmo daquele tratamento especial que ele havia mencionado. — A Senhora Adelaide surgiu na porta do quarto, segurando uma badeja prateada com xícaras sobre ela.
— C-como? — Murmurei antes de tossir.
A irmã se aproximou de mim e deixou sua bandeja sobre a mesa que estava ao lado da cama, suas mãos trêmulas seguraram uma das xícaras e ela a estendeu em minha direção, hesitei alternando meu olhar entre ela e o líquido com cheiro forte. De repente toda a pouca segurança que me restava desde que eu havia chego ali, se esvaiu em um rosto enrugado e olhos azuis cansados, pressionei meus lábios e neguei com a cabeça.
— Beba, é chá gelado. — Adelaide sorriu forçado. — Vai ajudar com a pressão baixa, depois vamos te levar para o seu quarto e poderá jantar lá.
Bebi um gole, o gosto não era tão mal quanto o cheiro, mas ainda assim me sentia incomodada. Observei a movimentação de ambas as mulheres, o lugar era frio e escuro apesar da luz, tinha um cheiro forte como aqueles de hospital, a enfermeira havia voltado a anotar coisas em sua prancheta, e então Adelaide se aproximou dela e começou a dizer algumas coisas, mas elas falavam tão baixo que eu mal podia ouvir. Limpei o canto de minha boca e me ajeitei na cama, puxando o lençol para o lado para poder me levantar.
— Anh... Que tratamento? Eu não tenho problemas de saúde, minha pressão apenas é um pouco baixa, não acho que precise de nada... — Coloquei a xícara de volta sobre a bandeja.
— Não não, querida... Não se preocupe, acontece que você foi solicitada pelo próprio senhor. Sua presença aqui o deixou mais que satisfeito, por isso, ele acredita que a senhorita merece um tratamento especial, um pouco diferenciado dos demais pardais. — A Senhora se aproximou de mim com delicadeza e sua mão tateou o colchão até alcançar a minha.
— Como assim, diferente? Em que sentido? — Franzi o cenho observado a mulher puxar sem cautela o adesivo que prendia a agulha em minha pele. Dei um espasmo.

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Alcyon Azul
Ficción GeneralO mundo se reconstrói aos poucos, ninguém imaginava que após tantos avanços tecnológicos todos iriam regredir de maneira drástica. Foram necessárias décadas para que a população restante pudesse voltar a viver em paz, e em uma cidade de grande impor...