Alcyon Azul

Capítulo 5

Eu podia jurar que havia acabado de fechar os olhos quando alguém abriu a porta de meu quarto com força, um barulho extremamente irritante ecoou pelo quarto após a maçaneta se chocar contra a parede. Apertei os olhos e grunhi, ainda sem ver quem estava ali, provavelmente a pessoa pensou que eu ainda estivesse dormindo mesmo com todo o seu escarcéu. Haviam me dito no dia anterior, que eu começaria a contribuir com os estudos, essas foram exatamente as palavras usadas para descrever o que eu faria naquele dia, de forma vaga e indiferente. Passei parte da tarde indagando Phoebe, Lisandra e as outras meninas sobre o que significava aquilo mas nenhuma delas soube me dizer, já que a única coisa que faziam ali na instituição eram as tarefas diárias.

— Ela vai para o  Alcyon Azul, número oito dois cinco. — Uma voz feminina e rouca, desconhecida aos meus ouvidos.

Esfreguei meus olhos e me virei na direção deles, dois homens entravam. Um era negro e magro, vestia roupas brancas e o estetoscópio pendurado em seu pescoço me fez acreditar que se tratava de um enfermeiro, o outro moreno e com barba, usava o uniforme dos controles e segurava consigo uma maleta vermelha. Ao lado deles estava uma mulher que também usava roupas brancas, ela tinha seu cabelo preso por um coque com uma redinha, e assim que me viu acordar, caminhou as pressas em minha direção e sem dizer nenhuma palavra.

— O que está acontecendo? — Perguntei confusa.

A única iluminação ainda era a luz alaranjada no teto, as cortinas brancas revelavam que ainda não era de manhã, estava completamente escuro lá fora. Uma nova movimentação começou, como se estivéssemos em um hospital e eu fosse uma paciente indo as pressas para a sala de cirurgia. Me sentei na cama ao ver a mulher sinalizar para que eu o fizesse, franzi o cenho e tornei a perguntar o motivo de tudo aquilo.

— Foi lhe informado que você irá participar das pesquisas não é? Você será a primeira a ingressar no círculo azul, um novo estudo sobre o sistema imunológico, será financiado pelo governo e pelo dono da rede de hospitais particulares do país. — A mulher morena e de batom vermelho parecia se esforçar para não dizer mais que o necessário.

— E por que eu? — Perguntei estendendo meu braço na direção do enfermeiro que se aproximava com um medidor de pressão, ele o colocou em meu pulso.

— Você foi escolhida para este estudo do mesmo modo que os outros são escolhidos para os estudos, com base no histórico de saúde, e intelectual. — Ela disse. Um pequeno broche prata em sua blusa revelava seu nome, Thania.

— Vão me usar como cobaia? — Arregalei os olhos.

O homem tirou o aparelho de meu pulso e o colocou sobre a maleta que agora estava na mesa, ele retornou para perto de mim trazendo um termômetro, bati em sua mão e puxei o cobertor para cima de meu corpo tentando me esconder, eu estava inquieta e os presentes ali começaram a se entreolhar irritados. Thania finalmente voltou a falar, agora sua voz era um pouco mais alta mas também estava mais calma, ela parecia forçar simpatia.

— Ouça, senhorita Vienna, não estamos aqui para te machucar. Mas tenha certeza de que o faremos caso se recuse a nos deixar prosseguir. — Com uma agressividade repentina, a mulher puxou o cobertor e o jogou contra a parede lateral à cama, colocando o termômetro sob meu braço trêmulo.

Após alguns segundos ele apitou e foi retirado. Não trocavam uma palavra sequer, apenas seus passos e suas ações transmitiam sons pelo pequeno e apertado cômodo. A maleta vermelha foi posta sobre a minha mesinha, e então o enfermeiro a abriu, revelando alguns frascos de comprimidos, uma ampola e uma espécie de seringa grande em formato de revólver, começou então a ajeitar suas coisas, essas que me pareciam muito abstratas, eu sentia o mesmo frio na barriga que crianças sentem quando estão prestes a tomar injeção. Thania voltou a se aproximar de mim, fazendo sinal para que as pessoas que estavam ali me segurassem, ainda um pouco sonolenta acreditei que se trataria de somente uma simples injeção.