Os gritos raivosos de seu pai e as lagrimas de desgosto de sua mãe ainda ecoavam na mente de Lúcio. Suas pernas já estavam cansadas de tanto andar pela cidade somado ao peso de sua mochila entupida de roupas pegadas às presas. Ele se sentou em um banco da rodoviaria com a mochila no colo. Era uma noite linda, a lua cheia brilhando no céu junto das estrelas sem nuvem alguma para atrapalhar, mas o jovem sequer olhou para o céu, estava distraido demais com seu proprios pensamentos. As luzes da rodoviária estavam acesas, porem, de portas fechadas, ou seja: seus planos de fuga foram frustrados. Sua cabeça estava explodindo pelos acontecimentos recentes. Lucio colocou a mão no bolso e puxou seu celular para ver as horas e notou que tinha recebido centenas de mensagens de seus pais, variando de mensagens como "filho volta pra casa, por favor!" para "É melhor que tu volte pra casa pq se eu te pegar com aquele muleque vcs dois vão ver!"
Ele pode ouvir passos rapidos ficando cada vez mais proximos dele. Ele ergueu-se para ver quem estava chegando, e era a pessoa que ele mais queria ver naquele momento.- Lucio? - falou outro jovem indo até ele
- Marco... - respondeu ele tão sem vida quanto uma rocha
- O que aconteceu? Por que você me chamou aqui essa hora? E...que mochila é essa?
Ele ficou calado por um certo tempo olhando para o chão com a face seria
- Eles descobriram...- disse ele cabisbaixo
- O que? Como assim?
- Meus pais... eles descobriram...- falou ele cerrando os punhos - Eles descobriram sobre a gente...
Marco se espantou por um instante
- Mas...como?
- Boa pergunta. Tão boa que eu nem sei te responder. Alguem tinha tirado uma foto nossa de quando estavamos no parque.
- Mas você tem ideia de quem tirou a foto?
Ele negou com a cabeça sem falar mais nada.
Marco notou que havia algo de diferente com seu amado, afinal, por mais grave que fossem seus problemas Lucio sempre se esforçava para manter um sorriso no rosto. Lucio estava sério e frio o que não era de seu feitio, sempre vivia alegre, tentando ver o lado positivo em tudo, e isso deixava Marco tanto curioso pela mudança subita de personalidade quanto preocupado com o que lhe acontecera com ele para ficar tão frio- Bem... e seus pais? Como eles reagiram quanto a nós?- perguntou o jovem
- Como eles reagiram?- disse Lucio rindo assustadoramente - Me chamaram de possuido, cara! Meu pai bateu na minha cara dizendo que aquilo era pra eu virar homem!- ele estava rindo mas Marco sabia que aquelas risadas eram um misto de pura preocupação e medo
- Lucio...eu sinto muito...
Ele foi se aproximando de Marco calmamente com um sorriso frio no rosto
- Não se sinta mal por isso, afinal teremos a vida toda juntos para nos sentirmos tristes - disse ele acariciando o rosto de Marco
- Bem...é...eu acho...
Lucio abraçou Marco pela cintura e ficou-o encarando
- Marco...você é a unica coisa que eu não tenho coragem de deixar pra trás nesse fim de mundo...
- Pera, como assim "deixar pra trás"? - perguntou Marco
Lucio pegou a mão direita de Marco e ajoelhou-se como se fosse pedir sua mão em casamento
- Marco Garcia dos Santos... eu te amo demais, por isso quero que fuja desse inferno comigo
- Fugir pra onde?
- Pra qualquer lugar! Pra um apartamento em São Paulo, pra um chalé em Minas Gerais, pra qualquer lugar que você quiser!
Marco entendeu finalmente o estranho agir de Lucio.
- Lucio... você, mais do que eu que nós não podemos...
- Como não? Já tenho 18, sou dono do meu proprio nariz! Sem falar que falta três meses pra você fazer 18! - falou ele já de pé apertando a mão de Marco de leve
- Lucio...
- Eu roubei o cartão de credito do meu pai! Dá pra nós virarmos até eu arrumar um emprego!
- Lucio...
- Pensa como seria bom viver em um lugar em que nimguem nos julgue! - a cada frase que ele dizia, sua voz ficava mais chorosa
Marco notou que Lucio estava forçando-se à acreditar em uma ilusão que ele mesmo sabia que não iria se realizar
- Lucio...- ele o-abraçou com força enquanto falava - você mesmo me disse uma vez que faz mal se auto- iludir
Marco seutiu algo quente cair em seu ombro. Eram lagrimas de Lucio.
Ele o abraçou Marco devolta com toda força que tinha. Lucio chorava silenciosamente, escondendo o rosto no ombro de seu namorado. Marco sentiu o peso de Lucio aumentar, e ele por sua vez foi o-segurando equanto ele se ajoelhava no chão.- Marco...- disse ele enquanto limpava as lagrimas - Não me faz voltar pra casa com meus pais daquele jeito...
- Você pode passar a noite lá em casa, e se quiser eu peço aos meus pais conversarem com os seus - disse ele segurando as mãos de Lucio
- Eles já sabem de nós?
- Eu meio que deixei escapar - falou ele com um sorriso envergonhado - Eles ficaram felizes que eu estava junto de alguem, mesmo sendo um garoto. Até minha mãe disse que eu tinha bom gosto
Lucio deu um pequeno sorriso em meio às lagrimas, porem dessa vez era um sorriso verdadeiro. Marco deu um abraço em Lucio, e ele por sua vez o-retribuiu.
- Marco, e agora? - falou ele um pouco triste - Como nós ficamos?
- Nós ficamos juntos, andando de mãos dadas pela rua sem medo de alguem nos pegar
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Viadagens
Short StoryContos e contas é um livro que reune alguns que contos de temas aleatorios mas que sempre tem uma pontinha Lgbt.