PROLOGUE

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A TELEVISÃO e o rádio ligados ao mesmo tempo, a garota cantarolando e uma vontade imensa de não pensar era o que tornava aquele apertado quarto de um motel qualquer no norte da califórnia em um pequeno caos.

A música sympathy for the devil ressoava em volume consideravelmente alto pelo cômodo e a voz nem tanto afinada de Atlanta Reid acompanhava o som. No fundo um noticiário que só servia para a confusão, já que atenção nenhuma era direcionada para o pequeno aparelho precário pendurado na parede.

A chuva despencava barulhenta do lado de fora quando a garota deu o quinto -ou seria sexto?- gole na garrafa de vodka barata. Apesar de odiar aquele tipo de bebida e sentir vontade de botar seu estomago todo para fora com o gosto, havia lido em livros de literatura que álcool te deixava destemida, e ela precisaria de coragem para o que faria a seguir.

Também queria desesperadamente esquecer por alguns momentos, esquecer dos demônios que atormentavam desde exatos um ano quatro meses e treze dias atrás.

Começou a rir, rir de sua própria desgraça, começou a rir por que... não aguentava mais chorar, começou a rir por que não aguentava mais a situação em que estava agora.

Quando sua vida havia se transformado naquilo? Agora era livre, é claro, liberdade sempre foi o que sempre sonharam, entretanto, a que custo? Não valia a pena, e sabia disso, preferia estar de volta as instalações da F.E.N.I.X, preferia estar de volta com sua família. Liberdade não era tudo, afinal.

Grunhiu quando mais lembranças começaram a arrasta-la de vez para o fundo do poço -como se tivesse como piorar. Ela bebeu mais um gole, e naquele momento, sem mais esperanças, sem mais ninguém com contar e com a bebida alcoólica afetando seu julgamento Atlanta Reid encarou sua pistola CZ-PO9 como se fosse sua mais nova melhor amiga, ou pelo menos, sua única.

-Ora, não seja uma covarde - grunhiu, levando o cano da pistola a têmpora direita e fechando os olhos com força.

A verdade era que, todo a ambiente caótico que criara era para antecipar o que estava para fazer, a garota estava pensando sobre aquilo a semanas, não havia esperança, não havia por que continuar tentando, aquela parecia ser a única solução. Era a única solução.

E foi naquele momento, com a música alta tremendo as vigas de madeira no chão, a chuva fazendo parecer que o mundo acabaria a qualquer momento do lado de fora, com a garrafa de bebida em uma mão e a pistola carregada apontando para sua cabeça na outra, que Atlanta Reid estava pronta para seu destino, estava pronta para morrer.

Contudo, a vida nem sempre segue os caminhos que planejamos, afinal, toda sua existência se baseava nessa simples frase. Talvez seja por isso que Atlanta Reid abriu os olhos alerta, quando um nome chamou sua atenção no noticiário.

Pode-se dizer que foi o destino, a chamando para mais uma missão não concluída, para mais um desafio a sua frente. Pode-se dizer também, que fora pura coincidência, pura coincidência que aquela reportagem estava passando justo naquele canal, e justo naquela hora. Talvez fosse, talvez não, ninguém pode afirmar com certeza, o que se pode afirmar é que, naquele momento, aquelas palavras que corriam na tela da televisão enquanto a repórter mostrava as imagens filmadas no celular, definitivamente mudaram o destino de algumas pessoas.

Vigilante noturno é visto na cidade de Bludhaven. A comparação com Batman é inevitável, seria ele, discípulo do morcego ou apenas mais uma aberração encapuzada?

Atlanta Reid abaixou a arma quando leu as palavras pela segunda vez, soltando um suspiro de esperança verdadeiro pela primeira vez em muito tempo.

E naquele momento, Dick Grayson salvara sua vida pela primeira vez.

𝐀𝐏𝐎𝐂𝐀𝐋𝐘𝐏𝐒𝐄 ᵈᶤᶜᵏ ᵍʳᵃʸˢᵒᶰOnde histórias criam vida. Descubra agora