POV LUNA
Mais um dia acordando com o barulho insuportável daquele trem, Pearland não dorme nunca. O almoço de domingo tinha sido bom, foi ótimo passar esse tempo com a dona Carla, tirando as várias tentativas de me fazer voltar para casa.
O clima estava frio e como morávamos em um trailer não tínhamos condições de comprar um aquecedor com o mínimo de decência. Deixei minha colega de quarto (trailer) dormindo e levantei para preparar o café. A Bruna estava mais para minha irmã na verdade.
Nossas mães eram vizinhas e muito amigas o que fez com que a gente se aproximasse ainda mais na infância. Digamos que ficamos amigas pelo desejo de ambas de quebrar as regras e sair explorando o mundo. Não tínhamos amigos na escola e nem fazíamos questão de ser populares, a sala da diretora era nossa segunda casa praticamente. Éramos as crianças mais atentadas da escola e todos tinham medo até de se aproximar e a gente se aproveitava da nossa "fama", a gente achava graça nisso tudo e, até hoje, fazemos questão de não perder nossa dita 'loucura'.
Nossas mães ficavam loucas porque a gente sempre estava aprontando alguma coisa, éramos umas pestinhas (de certa forma ainda somos). Quando conheci a Bru eu me vi nela, nas brincadeiras, nas travessuras e no jeito de ser. Eu costumo brincar com ela que nem o mais perfeito match no Tinder chegaria perto da nossa relação. Lembro como se fosse ontem a promessa que fizemos quando tínhamos apenas 15 anos: "Bruna e Luna pelo mundo e contra o mundo" e cá estamos nós, vivendo em um trailer e economizando para comprar uma casa mais digna. De certo modo, ambas trabalham no mesmo ramo. Sou tirada das minhas memórias com o grito da minha irmã:
-Luna, acorda! Tô te chamando a horas e você olhando pro nada com essa cara de retardada, você vai deixar o nosso café queimar!- reclama ela
-Bom dia pra você também Bruna! Vai tomar banho e para de encher o saco, quando sair a refeição da madame já vai estar pronta- faço uma reverencia sarcástica e ela dá um soquinho no meu ombro e se dirige para o banheiro.
A nossa "casa" não era um lugar muito espaçoso, mas era o que a gente podia comprar quando decidimos sair de casa e cumprir a nossa promessa. Não tínhamos sala, geralmente comíamos na escada do lado de fora, mesmo a 12°C, as manhãs eram frias.
Terminei de fritar os ovos, coloquei café em nossas xícaras e coloquei um pão para cada. Deixei o nosso café em cima da bancada e entrei no banho que que a Bru tinha saído. Ao sair vesti-me de acordo para o que estava por vir, coloquei uma calça jeans preta com uma camisa vermelha do Rolling Stones. Vesti uma jaqueta de couro e coloquei um gorro, calcei minhas botas e me dirigi a entrada do trailer onde Bruna já me esperava com o café:
-Nossa gatinha, já está pronta pro racha de hoje?- ela riu me entregando a xícara. Eu peguei e assoprei fazendo um vapor quente surgir.
-Claro, a gente tem que ganhar dinheiro- falei tomando um gole do café.
-A gente vai ganhar, a gente sempre ganha. Até o chefe elogiou a gente!- eu sorri em resposta.
O chefe do qual ela se referia era o líder da gangue do qual fazíamos parte chamada 'O Corvo'. Recebeu esse nome por causa do Charles, nosso chefe, ele é um homem alto e aparenta ter a mesma idade que eu, ele é realmente um gato. Está sempre de colete de couro, mesmo quando faz calor e sua barba por fazer e sua tatuagem da gangue no braço direito só dão um toque rústico a sua beleza.
Ele construiu a gangue com muito esforço e os mais antigos contam que ele teve de fazer coisas realmente sombrias para chegar onde está hoje, apesar da beleza todos temem ele, como se sua presença trouxesse mau presságio (assim como o corvo). Chefe Charles comanda um grupo de pessoas um tanto aventureiras. Ele promove corridas de racha diariamente nas rodovias mais perigosas do Texas. Seu negócio é sustentado pelo grupo de apostadores riquinhos que buscam fugir da sua realidade de gente milionária e seus corredores, como éramos chamados, eram pagos a cada vitória. Quanto mais difícil a pista, mais alto o prêmio.
Bruna e eu entramos nessa, inicialmente, servindo bebidas e petiscos aos espectadores que buscavam um pouco mais de adrenalina em suas rotinas e nos apaixonamos pelo "esporte". Aos poucos fomos ganhando espaço e a confiança do chefe e hoje, além de possuir nosso próprio carro de corrida, atualmente somos as corredoras que mais arrecadam dinheiro e apostas (o que causa inveja nos outros).
Somos duas das 5 mulheres que tem no grupo que é constituído mais ou menos por 150 homens, o ambiente é hostil, o que torna a ascensão na gangue ainda mais desafiadora e atraente. Para conquistar o respeito de todos esses caras foi necessária uma luta diária para evitar diversas cantadas escrotas e assobios. O respeito é conquistado e o medo é imposto, sendo assim, tivemos que impor limites e nos tornarmos temidas assim como na época da escola.
Poupem-me de julgamentos, eu sei que é ilegal e tenho consciência de todos os riscos, mas a sensação de estar em uma corrida a mais de 200km/h é surreal, eu me encontrei aqui e esse é a minha verdadeira liberdade:
-Você tá nervosa?- Bruna me provoca
-Não, é só que eu não tô mais afim de ficar morando em um trailer fudido-falei mordendo mais um pedaço de pão
-Ei, a gente está ganhando várias corridas. Estamos subindo na gangue e vamos conseguir comprar uma casa. Não vai ser uma mansão tipo a dos Wiselton, mas vai dá pro gasto - ela fala mencionando uma das diversas famílias influentes do Texas que sempre apostam na gente. Eles sabem o fazem.
-Não precisa disso tudo, eu só não quero ficar morando nesse cubículo- a gente riu e entrou para lavar a louça do café. Conduzimos o trailer até o parque onde o guardamos perto da estrada Brenda A e Bruna nos leva de moto para o local da próxima corrida: A Rota 66
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Os capítulos seram postado todas as sextas.Não esqueçam de curti e comentar para ajudar no feedback.
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Pelas estradas do Texas
AzioneQuem imaginária que numa cidade como texas nasceria uma amizade tão louca , profunda e sincera. Bruna e luna são a definição de que uma amizade verdadeira realmente existe. Elas são inseparáveis, o universo fez uma pra viver com a outra, elas passam...