Capítulo 2

76 16 14
                                    

— Oi. – Disse o rapaz, sentando-se perto de mim. Perto o bastante para que seu perfume de menta invadisse meus sentidos. – Me chamo Christopher Conner. – Disse estendendo a mão para me cumprimentar. — Mas pode me chamar de Chris, se quiser. – Completou com um sorriso em seus lábios.

— Samantha Michell. – Meu tom foi seco e não retribuí seu gesto, o que o fez retirar sua mão e rir um pouco desconcertado.

O que esse cara quer comigo? Só quero voltar logo pra casa da Emilly, tomar um banho e comer alguma coisa.

— Aquela música que você  cantou antes, nunca a ouvi. – Falou enquanto observava o movimento na Estação. — De quem é?

— Minha. – Peguei o case e guardei meu violão e a palheta, ainda sentada.

— É muito boa. Você tem talento. – Disse olhando para mim. Um olhar gentil e penetrante ao mesmo tempo.

— E você é o que, um produtor musical? - Falei em tom de deboche. Talvez eu esteja sendo chata demais. Estou?

Levantei e dei-lhe as costas pronta para ir embora, mas me vi obrigada a parar ao ouvir o que ele disse a seguir.

— Eu não, mas meu tio é. – Virei-me para encarar novamente seus olhos verdes. Franzi a testa e dei um rápido suspiro.

— Você está brincando comigo não é? – Falei duvidando de suas palavras. Cristopher sorriu e pegou um papel dentro de seu bolso.

— Não, não estou. – Disse me entregando o papel. — Quero saber um pouco mais sobre você. Talvez você seja a voz que estamos procurando. – Olhei para o papelsem entender muito bem o que ele estava dizendo e vi seu número de WhatsApp.
— Podemos combinar de conversar quando você estiver menos... Hum... apressada?

— Por que eu aceitaria sair com um estranho que acabei de conhecer? – Perguntei desconfiada de tudo aquilo. Cristopher passou por mim e saiu, me dando as costas.

— Porque esse estranho pode ajudá-la a ficar famosa. Me mande uma mensagem dizendo quando e onde posso te encontrar. – Falou, dando-me as costas e se dirigindo à saída, porém, depois de alguns passos virou -se novamente para mim.

— Até mais garota da estação! – Disse em um tom alto para que eu pudesse ouví‐lo.

— Eu tenho nome! – gritei de volta, mas ele já estava andando novamente e não deu atenção.

Mas o que foi isso?

Depois de alguns minutos caminhando e pensando na proposta de Cris, cheguei à casa de Emilly. O namorado dela, Daniel, estava lá.

— Cheguei! – Anunciei fazendo os dois olharem ao mesmo tempo para a porta. — Daniel, quando tempo! – O cumprimentei. Ele respondeu com um aceno e um sorriso rápido.

Daniel é o irmão mais velho de David, meu ex-namorado. Apesar de os dois se parecerem fisicamente, com seus cabelos pretos e olhos castanho-escuros, são totalmente diferentes no jeito de ser. David era o cara mais cobiçado da escola pois promovia as maiores  festas e jogava no time de futebol. Praticamente todas as meninas da escola sonhavam com o dia em que conseguiriam fazê-lo notá-las. Eu não.
Já o Daniel sempre foi estudioso e responsável e apesar de ser bonito como o irmão, nunca foi muito popular, a não ser com as meninas "nerds". Ele está no segundo semestre da faculdade de contabilidade e parece querer algo sério com a Emilly, diferentemente de David, que nunca quis nada sério com nenhuma das garotas com quem ficou, inclusive eu.

— Sam, que bom que você chegou! –  Disse Emilly, um tanto eufórica. — Daniel nos convidou para almoçar fora e depois darmos uma a um lugar super legal. Vamos? – Sua empolgação era evidente. — Meu pai e minha mãe foram almoçar com os sócios da loja, você não vai ficar aqui comendo sozinha.

— Não quero atrapalhar o programa de vocês, gente.

— Sem discussão, você nunca atrapalha. Vai tomar um banho que a gente tá esperando.

"Como dizer não a um pedido tão... 'gentil' não é mesmo?" pensei, já subindo as escadas para ir me arrumar.
Depois de 15 minutos eu já estava pronta.

— Vamos, eu estou morrendo de fome. – Disse Emilly ao me ver descendo as escadas.

Chegamos à um restaurante no centro da cidade e fomos a uma das poucas mesas que estavam vazias. O lugar era simples e aconchegante. As mesas e cadeiras eram de madeira na cor natural com o acolchoado vermelho e a decoração era rústica.
Enquanto esperávamos nossos pedidos, conversamos sobre os velhos tempos na escola. Rimos do fato de Daniel sempre ter gostado de Emilly enquanto estava na escola mas nunca ter tido coragem de chamá-la pra sair pois tinha receio em sair com uma menina mais nova, Emilly tinha 14 anos na época e Daniel, 17. Até que ela, que também gostava dele, finalmente tomou uma atitude e os dois começaram a sair. Isso apenas depois que Daniel havia terminado o Ensino Médio.

Depois do almoço fomos a uma exposição sobre moda na cidade vizinha, que Emilly estava louca pra ver. Foi nesse momento que me dei conta de que Emilly estava prestes a ir embora de Denton para cursar sua tão sonhada faculdade de Moda em Nova York. Eu estava feliz por ela mas, triste por termos que nos afastar.

....★....


Chegamos à casa da Emilly pouco depois das 18:00. Eu estava cansada, por isso joguei-me na cama e fechei os olhos. Foi quando me lembrei do Chris e de seu convite. Procurei o papel com seu número e resolvi mandar uma mensagem. "Essa pode ser minha grande chance. Não custa tentar né?"

"Oi, aqui é a Samantha. Que estava tocando na estação de trem hoje de manhã."

Enviei. Fiquei nervosa. Será que ele pode realmente me ajudar?Depois de uns dois minutos esperando ansiosamente, vi os tracinhos abaixo da mensagem ficarem azuis, indicando que ele viu minha mensagem, e logo em seguida a resposta:

"Você fala como se eu fosse esquecer de alguém como você, garota da estação."

Ele acabou de me dar uma cantada ou é impressão minha? Esse garoto está muito enganado se acha que eu vou ter alguma coisa com ele. Não quero me envolver com ninguém. Homens são todos iguais, mentem, traem e machucam.

A tela do meu celular brilhou. Era mais uma mensagem dele.

"Você está livre amanhã a noite? Podemos ir à algum lugar para conversarmos e comer alguma coisa."

Pensei por alguns instantes. "E se ele estiver mentindo?" Mas eu nunca vou saber se não arriscar.

"Tudo bem. Estou livre às 20:00. Te espero na lanchonete perto da estação."

Claro que eu não tinha nada pra fazer antes das oito e estava livre o dia inteiro, mas ele não precisava saber disso. Logo a resposta veio.

"Garota com atitude. Gostei. Até lá 😉"

Isso não está me cheirando bem... "Calma Samantha, garotos não perdem uma oportunidade de passar cantadas. Normal."

"Normal nada, quem ele pensa que é?" Respiro fundo e tento relaxar.

Emilly ainda estava lá em baixo com Daniel. Ela queria aproveitar o máximo de tempo possível ao lado dele, já que logo ele voltaria pra faculdade de contabilidade e ela começaria a sua de Moda, por isso me obriguei a ficar no quarto para não atrapalhá-los.

Tomei um banho e aproveitei o tempo sozinha para tentar escrever um pouco. Estava com uma letra em mente a vários dias e não quero esquecer. Passei tudo pro papael.
Peguei meu violão para tentar encaixar a letra com uma melodia que eu criei a um tempo atrás.

Além da foto de quando eu tinha mais ou menos 2 anos, no colo da minha mãe e meu pai ao lado brincando comigo, o violão era a única coisa que me restou dos meus pais. Minha mãe o adorava.

Ao pegá-lo me veio à memória meus pais biológicos. Apesar de ser muito nova quando eles morreram, ainda me lembrava de alguns flashes da minha mãe tocando e cantando pra mim e meu pai sempre tirando fotos nossas. Seria tudo tão mais fácil se eles estivessem aqui comigo...

Compondo Minha Felicidade [HIATO]Onde histórias criam vida. Descubra agora