Capítulo 1

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— Estou indo embora. Não aguento mais viver nesse lugar! – Gritei enquanto pegava minha mala e meu violão. Bati a porta e saí daquela casa. Casa que nunca foi  minha casa.

Saí sem saber onde iria morar dali em diante, mas, para mim, qualquer lugar seria melhor do que o inferno de viver com uma "mãe" que vive me humilhando e descontando qualquer coisa em mim e um "pai" que antigamente parecia gostar de mim, me defendia, mas hoje quase sempre está bêbado e parece não se importar com mais nada nessa vida. Senti finalmente a liberdade. Sei que não será fácil daqui pra frente, mas eu farei de tudo pra seguir meu sonho e não vou mais permitir que ninguém me impeça.

"Agora preciso de um lugar pra ficar, pelo menos por essa noite.", pensei enquanto me sentava num banco de praça.
"Logo vai escurecer  e eu pretendo continuar usando meu violão pra tocar, e não como arma." Sorri involuntariamente ao me imaginar agredindo um maluco por aí com um violão.

Peguei meu celular e abri a lista de contatos. Liguei para a única pessoa que eu confiava e sabia que se importava comigo: minha amiga Emilly.

— Emilly, preciso de ajuda. – falei quando ela atendeu minha chamada.

— Sam? O que aconteceu? – Perguntou com um tom de voz preocupado.

— Desculpa mas, será que eu posso dormir na sua casa hoje? – Falei um pouco constrangida. Era a quinta vez que eu pedia isso naquele mês.

— Você não precisa se desculpar. Já te falei que pode ficar aqui sempre que precisar. – Respondeu-me docemente.

Emilly e eu somos amigas desde os 13 anos. Nunca fui boa em fazer amigos pois era muito tímida, então sempre estive sozinha. Até que um dia Emilly chegou na escola. Não me importei com sua chegada. Tinha certeza que seria apenas mais uma colega que não se aproximaria de mim, principalmente vendo que ela era do tipo "patricinha". Mas para a minha surpresa, ela me cumprimentou e sentou-se ao meu lado. Durante os intervalos, sempre puxava algum assunto, me incentivando a falar sobre mim. Hoje somos praticamente inseparáveis.

— Obrigada Emy. – Falei encerrando a chamada enquanto me dirigia ao ponto de ônibus e tentava esquecer tudo o que aconteceu naquela tarde. Como se não bastasse tudo o que aconteceu com o idiota do David. Será que o meu destino é sofrer?

                            ....★....

Tomei um banho e sequei meus cabelos. Quando saí do banheiro, Emilly estava me esperando sentada em sua cama, que era coberta por uma colcha cor de rosa e tinha vários bichos de pelúcia junto ao travesseiro. Peguei uma escova de cabelo em sua penteadeira, me aproximei e sentei ao lado dela e começando a desembaraçar meu cabelo.

— O que sua mãe fez dessa vez? – Perguntou quebrando o silêncio que havia se formado.

— Eu saí de casa Emilly. – Falei em um suspiro, ignorando sua pergunta. Não queria falar sobre isso no momento. — Saí e dessa vez foi definitivo. Não irei voltar pra lá. – Emilly arregalou os olhos e saltou da cama ao ouvir minhas palavras.
Ao contrário do que pensei ela não me disse que era loucura e que eu deveria voltar para casa.

— Sam, por que  você não fez isso antes? – Emilly abriu um sorriso me deixando completamente surpresa.

— O que? Você pensou que eu ia te dizer que você está errada e que deveria voltar pra casa? – Perguntou com a testa franzida e uma mão na cintura. Foi exatamente isso que eu pensei.

— Eu quero te ver feliz, Sam. E naquela casa você nunca seria. Fica aqui o tempo que precisar.

Sorri e fui até ela, que me recebeu num abraço aconchegante.

— Obrigada Emilly. – Falei num sussurro enquanto segurava uma lágrima que insistiu em querer rolar. — Por tudo. – Completei. Quando nos separamos Emilly sorriu, o que me fez sorrir também. Descemos e jantamos com os pais de Emilly.

Elizabeth e Michael nunca pareciam incomodados com a minha presença, ao contrário, sempre me disseram que eu era como a segunda filha deles, o que me deixava feliz pois eu também os considerava muito, principalmente depois que me ajudaram com o que aconteceu com o David. Mas isso não me impedia de  ficar constrangida todas as vezes que pedia ajuda.

Não queria incomodá-los e nem que se sentissem responsáveis por mim de alguma forma. Por isso preciso conseguir dinheiro e arrumar outro lugar pra ficar.
Depois do jantar, Emy e eu assistimos a um filme enquanto tomávamos sorvete. Isso já tinha se tornado uma tradição para nós.

— Emy, você se importa se eu for dormir agora? – Perguntei enquanto Emilly procurava outro filme.

— Mas já? – Disse fazendo bico.

— Sim. Preciso descansar um pouco. Mas você pode continuar assistindo seu filme.

— Tudo bem. Boa noite Sam. – Disse ainda triste.

— Boa noite.

Segui até o quarto de Emilly, coloquei meu baby dool azul florido, me deitei e logo peguei no sono. Amanhã seria um dia cansativo.

...★...

Na manhã seguinte, acordei bem cedo, troquei de roupa, peguei uma fruta na cozinha e fui fazer o que sempre fazia quando precisava de dinheiro: tocar na estação de trem da minha cidade. Fui a pé, pensando em todo o dinheiro que eu precisaria juntar se quisesse ter minha independência. Talvez só tocar e cantar não fossem suficientes.

Por conta do horário, haviam várias pessoas passando pra lá e pra cá, apressadas para chegarem em seus locais de trabalho.

Abri o case, retirei o violão e minha palheta preferida, de cor roxa e sem desenhos ou palavras escritas nela. Deixei o case aberto ao meu lado, pendurei o violão em volta de mim e comecei a afiná-lo.
Comecei com a música Perfect do Ed Sheeran, uma de minhas preferidas. Enquanto tocava as pessoas passavam e deixavam moedas ou notas de 5 dólares. Eu lhes agradecia com um aceno. Alguns, menos apressados, paravam e me assistiam por alguns minutos. As vezes até me gravavam em seus celulares. Foi assim durante quase uma hora.

Enquanto fazia uma pausa, comi uma maçã para hidratar as cordas vocais e tomei um pouco de água. Depois,  guardei o dinheiro que já havia ganho.
Aproveitei para mandar uma mensagem para Emilly, que já devia ter acordado e com certeza estranhou meu "sumiço".

"Oi Emy, desculpe ter saído sem avisar mas não quis te acordar tão cedo. Estou na Estação. Não sei que horas vou voltar para a sua casa. Não se preocupe, estarei bem."

Guardei o celular e peguei o violão novamente. Comecei a tocar uma de minhas músicas autorais, quando reparei que um rapaz que deveria ter mais ou menos a minha idade, me observava atentamente. Fiquei com im certo receio, mas devo admitir que ele é muito bonito. Seu cabelo é de um tom loiro não muito claro e seus olhos, verdes. Ele está usando uma calça jeans de lavagem escura um pouco rasgada, um tênis num tom não muito forte de vermelho e uma camiseta branca com uma jaqueta de couro por cima.

Depois de mais algumas músicas o movimento diminuiu, e, consequentemente, o dinheiro também, por isso resolvi que era a hora de parar. Não posso forçar minhas cordas vocais, é meu único meio de conseguir realizar meu sonho.
Sentei-me no chão para descansar um pouco antes de ir embora, quando me deparei com o garoto que me observava, se aproximando. Ele realmente ficou aqui esse tempo todo me assistindo?

Primeiro capítulo concluído com sucesso! Obrigada por ler. Não esqueça de clicar na estrelinha aqui em baixo. ☆★
Bjs♥♥♥

Compondo Minha Felicidade [HIATO]Onde histórias criam vida. Descubra agora