Capítulo 3

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Percebi que teria de fazer alguns ajustes na letra para combinar com a melodia, mas isso vai ficar pra outro dia. Comecei a guardar tudo quando Emilly entrou no quarto e pude ver que ela estava triste.

 — Está tudo bem? – Perguntei, mesmo já sabendo a resposta.

— Não quero me afastar do Daniel. Nem de você, da mamãe, do papai... – Falou enquanto uma lágrima rolava em seu rosto.

Respirei fundo e pensei no que falar para ela naquele momento.

— Emy, isso vai ter que acontecer caso você queira fazer sua faculdade em Nova York. – Falei com calma. Emilly já estava soluçando nesse momento.
- Você e o Daniel vão se falar todos os dias por mensagem, chamada de vídeo, comigo também, com sua mãe e seu pai também... – A abracei tentando confortá-la. – E mais, tenho certeza de que o Daniel vai te visitar sempre que puder. – Completei.

— Eu sei... – Ela saiu de meu abraço, se jogou em sua cama e fechou os olhos por alguns segundos. — Mas não é a mesma coisa. – Disse abrindo os olhos e deixando mais algumas lágrimas cairem.

Deitei-me ao seu lado e ficamos em silêncio por alguns instantes.

— A vida é cheia de mudanças, Emy. Elas servem para nos mostrar o que fomos, o que somos e o que desejamos ser. As vezes machucam pois nos tiram de nossa zona de conforto, mas nos levam a lugares novos, pessoas novas que precisamos conhecer. – Falei encarando o teto acima de nós. Não tinha certeza se minhas palavras eram para Emilly ou para mim mesma. — Tenho certeza que vai dar tudo certo entre você e Daniel. Ei sempre vou ser sua melhor amiga e seus pais estarão sempre te apoiando. – Lhe dei um sorriso que logo foi retribuído.

— Obrigada, Sam. Tenho muita sorte em te ter como amiga. Queria ser forte e corajosa como você...

— Não precisa agradecer, amiga. Você sabe que pode contar sempre comigo. E quanto a ser forte e corajosa, ninguém nasce assim. É uma coisa que você adquire enfrentando o que te assusta.

Fiquei imaginando, se existisse uma máquina do tempo e eu pudesse contar à Samantha de alguns anos atrás, tudo que lhe esperaria no futuro, da amizade com Emilly, de como finalmente teria coragem de sair daquela casa e começar uma nova vida... tenho certeza de que ela não acreditaria em uma palavra sequer.

— Quem sabe um dia eu consiga ser assim... – Disse Emilly, um pouco desanimada.

— Claro que consegue. Mas eu gosto de você assim. Na verdade eu a admiro por conseguir demonstrar o que sente tão facilmente, ser tão explícita.

— Você expressa os seus sentimentos com suas músicas.

"Mas nem todo mundo entende" Falei isso apenas em meus pensamentos.

Depois de alguns minutos em silêncio deitadas, resolvi contar sobre Cris e a maravilhosa oportunidade que poderia estar surgindo em minha vida. Contei sobre o encontro na estação de trem e sobre as mensagens.

Emy arregalou os olhos e saltou da cama se contendo para não gritar, assim como imaginei que faria.

— Calma, eu nem sei se ele estava falando a verdade. – Tentei esconder a euforia que eu também sentia.

— Por que ele mentiria, Samantha? – Disse Emilly tentando me contagiar com sua alegria, mas sem muito sucesso.

— Talvez ele só esteja arrumando um protesto pra sair comigo. – Falei baixo, um pouco constrangida.

— Você tem que se permitir sonhar, Sam! – Emilly me sacodiu pelos ombros me assustando. — E se for apenas isso, é uma coisa muito boa também. – Completou, se afastando e se pondo em minha frente com um sorriso malicioso.

— Não começa, Emy. – A adverti. — Você sabe muito bem que eu não tenho interesse em me envolver com ninguém.

Por mais que eu tente, é difícil confiar nas pessoas, principalmente nos garotos, depois de David ter me usado, traído e tentado me manipular daquela maneira.

— Ok, ok. Tudo no seu tempo. – Ela levanta as mãos em sinal de rendição. — Agora o mais importante é escolher uma roupa pro seu encontro. – Disse me puxando da cama.

— Não é um encontro! – A corrigi. Emilly revirou os olhos.

— Que seja. Anda logo.

Não pude trazer muitas roupas quando saí de casa então eram poucas as opções. Emilly me ofereceu um de seus vestidos emprestado mas logo recusei. Não faz o meu estilo e eu definitivamente não tenho modos o suficiente para usar um vestido. Prefiro minhas calças e shorts.

No final, Emilly deixou que eu mesma escolhesse, o que me deixou aliviada. Não quero ficar "produzida" demais.
Escolhi uma calça jeans azul escura, uma blusa branca de tecido leve, com mangas curtas e um cacto bordado em lantejoulas e meu inseparável All Star vermelho.

— Pronto, assim está ótimo. – Falei dobrando as roupas e procurando um lugar para as colocar. — Na verdade eu poderia ter deixado pra escolher isso na hora de sair.

— Você, sempre relaxada... – Disse Emilly balançando a cabeça em sinal de desaprovação, mas rindo.

— Prefiro o termo "despreocupada".

Descemos para jantar com Sr. E Sra. Benson. Eu gostava muito da companhia deles. Me fazia sentir um pouco da sensação de ter uma família.

Depois do jantar assistimos alguns episódios de "H2O - Meninas Sereias" no YouTube como fazíamos quando tínhamos 13 anos e por volta das 23:00 fomos dormir.

...★...

O dia passou bem rápido hoje. As pessoas na estação pareciam mais generosas. Ganhei uma boa quantia.
P

or volta das 19:00 horas comecei a me arrumar para o encontro (que não é um encontro) com o Cris. Tomei um banho e vesti a roupa que havia escolhido. Emilly insistiu tanto para que eu passasse um pouco de maquiagem, que acabei cedendo.
Fiz algo bem natural. Passei um corretivo, uma base, máscara de cílios e um gloss. Emilly queria que fosse um batom vermelho, mas não aceitei dessa vez.

— Me deseje sorte. – Falei enquanto me despedia de Emilly. Ainda não confio muito no Cris, mas estou com uma sensação de que minha vida está prestes a mudar, e eu não estou com medo de descobrir se será para melhor ou pior.

Deixei a casa e fui de Uber ao encontro do rapaz loiro que já me esperava no local combinado.

— Oi. – O cumprimentei rapidamente enquanto me sentava .

— Olá garota da estação. - Franzi a testa ao perceber que ele não pararia de me chamar assim.
— Eu estou muito bem, obrigado por perguntar. – Disse sarcasticamente chamando a garçonete para nos atender.

Não me contive e acabei rindo do que disse, mas não me desculpei pela minha falta de educação.
Fizemos nossos pedidos; eu, um x-salada e uma Pepsi, e ele, um hambúrguer, fritas e uma coca.
É, parece que encontrei alguém mais esfomeado que eu.

— Você parece minha avó, Samantha. – Declarou depois de alguns minutos em silêncio e fazendo-me encará-lo com as sobrancelhas arqueadas esperando uma explicação para aquela comparação. — Ela está sempre de mau humor. Mas eu sei que no fundo é uma ótima pessoa. – Completou.
Revirei os olhos, mas sorri.

Até que a companhia dele não é tão ruim assim. Talvez nos tornemos amigos...

Compondo Minha Felicidade [HIATO]Onde histórias criam vida. Descubra agora