Passeio

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- Sério? Você está tirando onda com a gente.    -Disse a Isa sem acreditar.

- É verdade.    -Disse em tom afirmativo.

   Antes que as férias entrassem estávamos a espera de um passeio que seria realizado pelo projeto, seria num campo aberto, na CAF. Todos estavam ansiosos. Na semana antes das férias ficamos sabendo que esse passeio seria realizado no mês de agosto numa quarta-feira. Imaginem só, a Fabrícia iria nos acompanhar, pois cairia justamente no dia da sua aula.

   Como eu havia faltado na segunda-feira recebi o meu bilhete na terça para minha mãe assinar, autorizando minha ida ao passeio. Chegando em casa a primeira coisa que fiz foi entregar minha mãe, que assinou sem nem olhar o que dizia. Não me importei só queria dormir logo para que o dia chegasse.

   Outra vez faltei a aula de manhã.

   Como eu não tinha muitas roupas, peguei uma calca jeans, e uma blusa da minha mãe escondido. Se ela soubesse bateria em mim.

   Cheguei no projeto mais cedo. Já fui logo entregando meu bilhete para a vice-diretora ou secretaria, alguma coisa assim. O nome dela era Marilda, ela nos tratava bem e tudo, mas era brava.

   Fiquei conversando com a Mika até bater o sinal e o turno da manhã terminar. A Mika trabalhava de vigilante lá do projeto e era uma figura, adorávamos ela.

   Vi a Fabrícia de longe mas fingi que não vi. Como eu disse, as vezes eu fugia dela sem nenhum motivo. Continuei conversando com a Mika, quando de repente ouvi:

- Oi Clara.     - Disse a Fabrícia com aquele olhar e aquele sorriso.

- Oi Fabrícia.     - Falei andando em sua direção e fui logo a abraçando. Nos falamos um pouco e ela entrou para sala dos professores.

   O turno da manhã já havia passado. Minhas amigas estavam chegando.

   A Fab... chegou, com ela me sentia mais livre, pois era um pouco tímida e ela sempre agitada e explosiva.

   A diretoria junto com a vice, recolhia os bilhetes dos alunos.

   De repente uma loira se aproxima da gente. Essa loira a gente chamava Luciana, a loira do PETI ou MC Sapão. Não por causa de sua aparência mas porque ela era sapo mesmo, vivia pescando nossas conversas. Na presença dela era apenas Lu. Ela era assistente social, hora ou outra estava lá nos acompanhando e observando-nos. Apesar de ser sapo ela era muito gente boa por sinal.

- Olá meninas! Fab, Clara.

- Oi Lu!    - Dissemos eu e Fab junto.

- E o passeio ansiosas?

- Claro. Sorrimos nos três.

- Eu também vou com vocês.

- Legal.

- Na verdade eu não ia sabe, mas a professora Fabrícia pediu para não ir no meu lugar. Ela vai ficar aqui com os alunos que os pais não deixaram ou que estão sem bilhete.      - Fiquei sem reação na hora.

Ela acabou de quebrar minhas pernas ao meio. Penso agora se não foi proposital. Fiquei sem palavras mas a Fab soube me disfarçar muito bem e pensou rápido.

- Legal.    - Disse ela respondendo por nós.

   Estava sem chão. E agora? O que vamos fazer? Queria ir no passeio porque ela iria, mas se ela não for, não existe razão para tal passeio.

   A vimos sentada no mesão almoçando. Fab me puxou pelo braço.

- Vamos lá.    - Me disse já andando em direção a Fabrícia. Eu estava triste.

- Olá prof... ? A Lu acabou de nós contar que você não vai ao passeio, é verdade?     - Disse a Fab, já que eu estava com o choro engasgado na garganta. Ela nos olhou e afirmou ser verdade.

   Sai deixando elas sozinhas fui ao banheiro. As lágrimas rolaram.

- Oh Clara não fica assim, vamos dar um jeito.    - Disse a Fab me consolando.

- Como? Já entreguei meu bilhete.

- Inventamos uma dor de cabeça aí a Taís vai deixar você ficar e eu fico com você, afinal somos amigas. - Sorri fraco e assenti com a cabeça.

   Estamos só esperando a chamada na mão da diretora. Ela olhava os bilhetes e nos olhava. Veio em nossa direção.

- Clara, onde está seu bilhete? Não o encontro aqui.      - Me olhando firme.

- Eu entreguei a Marilda, Taís.   -Disse em tom afirmativo.

- Marilda o bilhete da Clara está com você?

- Sim ela foi a primeira a me entregar.
Vou pegar, espere.     -Ficamos esperando. Ela volta balançando a cabeça negativamente.

- Não o encontrei, acho que o perdi.

- Sem bilhete ela não poderá ir, sinto muito.     - Meu rosto não disfarçava a felicidade mas me contive. Nem precisei mentir a dor de cabeça.

- Então eu vou ficar também não vou deixar a Clara sozinha.   - Imediatamente Marilda tirou-me a felicidade nos olhos.

- Taís tenho certeza que ela foi a primeira a me entregar. Deixa ela ir no passeio eu mesmo me responsabilizo por ela.    - Olhou para nós satisfeita. Coitada! Achando que estava fazendo o certo. A diretora assentiu e saiu.

A hora do passeio estava chegando e eu estava nervosa pois teria que mentir. E se descobrissem?

Estava tudo pronto, Taís havia feito a chamada e todos já estavam na fila única que havia se formado de frente para ela, menos eu e a Fab. Os ônibus haviam chegado. Todos entraram e nós duas ficamos para trás. De repente a Marilda vem.

- Vamos. Já está tudo resolvido.     - Eu não tive coragem de falar sobre a falsa dor de cabeça e acabei entrando no ônibus sem escolha.

De repente as lágrimas começaram a rolar, eu escondia meu rosto para que ninguém visse a minha dor.

- Ainda dá tempo, vamos descer?

- Não Fab vamos ao passeio, afinal ela sabia que eu iria se tivesse ao menos alguma consideração ela iria. Mesmo assim as lágrimas corriam em meu rosto. Ao chegarmos no Campo Da CAF não fiz nada a não ficar sentada olhando todos se divertirem. A Fab ficava comigo o tempo todo. Ouvimos um voz longe:

- Ah meninas, levantem-se e divirtam-se. - Olhamos para trás era a loira do PETI vindo em nossa direção.  Minha vontade era de falar com ela que a culpa era toda dela.

- Não, ta bom aqui. Disse a Fab quando ela se aproximou. Sentou-se com a gente e começou a conversar. Depois perguntou se podia espremer minhas espinhas. Assenti. Coloquei a cabeça no seu colo. Ela me olhava, conversava e espremia as espinhas.

   De repente uma pergunta inesperada:

- Você estava chorando, aconteceu alguma coisa?     - Só balancei a cabeça negando. Ela sem acreditar na minha resposta, insiste. Eu respondo que é por causa de algo que aconteceu em casa, problema de família e tal.

Ela diz:

- Será que é na sua casa ou você chorava por causa de alguém que não veio?      - Fiquei sem reação como ela sabia?

   Por isso nos apelidamos ela de "MC Sapão" ela era muito bico. De qualquer forma ela estava certa, mas eu não poderia confirmar. Disse então que realmente era um problema de família.

   Finalmente chegamos ao fim daquele passeio, eu não via a hora de chegar lá e ver a Fabrícia.

   Ao chegar no projeto ela já estava com sua mochila só esperando o fim de seu horário para ir embora. Ela me viu se aproximar dela, como se não tivesse me visto andou e desviou-se de mim. Não entendi porque ela havia feito aquilo, nesse dia ela não quis falar comigo na hora de ir embora parecia estar brava comigo e eu não sabia o porque.

"Ela estava brincando comigo, só pode."

Amor à Primeira VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora