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Ele ainda era a porra de um nerd.

Estava na Coréia fazia quase um ano com promessas internas de que seria diferente mas seu vício por quadrinhos e séries ruins de TV ainda permanecia.

Star Trek passava toda semana no mesmo horário e ele junto a seus pais assistiam fielmente.

Estava entre os dois no sofá quando o telefone toca alto ao seu lado.

"Mark, é para você docinho." Sua mãe atende e logo lhe passa.

"Alô?" Fala sem tirar os olhos da televisão pequena que ficava poucos metros longe do sofá.

"É o Donghyuck." A voz falhada e alta do garoto soa do outro lado. "Deu merda aqui em casa, eu posso dormir aí?"

Donghyuck tinha uma família problemática, seu pai bebia demais e seus irmãos eram apenas ruins, as vezes no meio da semana ele ligava para Mark deixando os gritos em sua casa em evidência, mas essa era a primeira vez que ele pedia por algo assim.

"Ele machucou alguém?" Pergunta recebendo a atenção de seus pais.

"Sim."

"Você sabe o endereço." E desliga o telefone.

O garoto chega minutos depois com um machucado perto do olho e respiração irregular, Mark apenas o abraça com a intenção de solta-lo logo mas Donghyuck tinha outros planos.

"Mark..." Murmura contra a sua camiseta deixando algumas lágrimas cairem.

"Tá tudo bem agora."

[...]

"Cara, eu ainda não acredito que você é tão merda quanto eu." Donghyuck fala observando as paredes do quarto do outro garoto que eram cheias de desenhos do Homem-Aranha.

"Agora você sabe mais segredos meus." Da de ombros, ele confiava em Donghyuck.

"Caralho você tem todas as edições dos quadrinhos do Hulk também." Comenta passando os dedos pela coleção.

"Já entendemos que eu sou um merdinha que nem você que assiste Grease."

"Você absolutamente não pode contar isso para ninguém." Se joga no colchão que a mãe de Mark tinha posto no chão.

[...]

Quando Jeno e Jaemin entraram no carro não comentaram sobre o rosto machucado de Donghyuck, nunca comentavam.

Jaemin tinha os olhos fixos na janela e Jeno cantava baixinho batendo com os dedos na perna.

O clima do carro era pesado, sem um motivo aparente Mark dirigiu no mais puro silêncio até a escola.

Jisung dessa vez usava delineador dourado, era um dia feliz então. O garoto sorria enquanto falava animadamente sobre algo com Chenle que apenas concordava com a cabeça enquanto anotava algumas coisas em seu caderno.

"E então Lele, vai sair o filme de Star Trek..." Mark ouviu um pedaço da conversa sem querer, obviamente.

Um pequeno sorriso brotou em seus lábios, então Jisung também gostava de Star Trek.

Sicheng que ia a aula apenas algumas vezes na semana chegou atrasado naquele dia, levando junto com ele sussurros descarados quando Yuta o beijou na frente de todos na hora do almoço. Mark viu o jeito que Jisung olhou para eles, nenhum julgamento havia ali, apenas pura curiosidade e algo em si ficou calmo de repente.

Jaehyun que estava junto manteve seus olhos fixos em Jeno piscando para o garoto quando ele e Yuta voltaram a andar na direção oposta a que eles estavam.

"O que foi isso?" Jaemin pergunta baixo analisando a expressão de todos, Donghyuck parecia não ter visto nada, continuou fumando e olhando para o outro lado do muro, Jeno parecia patético com as bochechas vermelhas resmungando palavras de baixo calão e Mark apenas encolheu-se em sua jaqueta. "Jeno tem alguma coisa que você queira nos dizer?"

"Não." Fala fechando sua expressão e começando a caminhar em passos pesados. "Olha por onde anda, aberração." Esbarra em Jisung no caminho que deixa seu sorriso morrer sendo substituído por um piscar rápido de olhos que logo focam em Mark.

Mark sentia muito, sentia por Jeno ser um babaca, por ele mesmo ser um covarde, por tudo na verdade. Acima de tudo ele era um garoto sensível, sua mãe sempre lhe disse que a natureza o deu o dom da empatia, sim ela era uma hippie com direito a saias longas e tranças até a cintura e não, Mark não acreditava nisso.

"Por que ele é assim?" Mark é quem pergunta mantendo o olhar em Jisung como se tentasse pedir desculpa por Jeno.

"Meus pais vão na mesma igreja que ele, o pai dele é pastor e Jeno é tipo o filho perfeito." Jaemin responde.

Lee acena com a cabeça voltando os olhos finalmente para os garotos que pareciam quase pesarosos.

Jeno era um garoto complicado.

A escola em que estudavam estava na verdade cheia de garotos como ele, Chenle era um deles. Aos olhos dos pais eram praticamente divinos, como se Deus tivesse recolhido toda e qualquer qualidade e colocado em seus corpos mas para os outros eram um poço de defeitos, bebida e escolhas erradas.

[...]

So lonely tocava enquanto Mark esperava Donghyuck sair da aula de xadrez, com os pés apoiados no painel do carro e murmurando a letra baixinho.

Just take a seat they're always free
No surprise no mystery
In this theatre that I call my soul
I always play the starring role...

"Isso é um convite, Lee?" Era Jisung, óbvio que seria o garoto com seus dedos longos batendo de leve no vidro tendo um sorriso pequeno pintado em seu rosto.

Mark surpreendentemente ri, ri daquele jeito bonito em que suas bochechas ficam altas e seu rosto parece rejuvenescer alguns ano, uma criança ele era.

"Posso entrar?" Pergunta enfiando a mão entre seus fios azulados e deixando tudo uma bonita e pequena bagunça.

Mark não responde, apenas abre a porta sem olhar para o outro garoto.

The police ainda tocava enquanto os garotos permaneciam em silêncio, o cheiro dos cigarros baratos que Jisung fumava tomando conta do ambiente, Mark queria secretamente manda-lo embora dali, seus dedos tremiam para tocar no cabelo bagunçado do outro garoto, apenas pela curiosidade de saber se eram tão macios quanto pareciam.

"Por que você me olha tanto?" Jisung indaga devolvendo o olhar do capitão que lhe encarava também.

"Eu não sei." Ele realmente não sabia, talvez fosse apenas interesse em saber de que lugar algo como Jisung vinha, não parecia ser mundano. "Você é uma aberração?" Soou como uma pergunta, doce e influenciável Mark.

"Eu sou?" Jisung devolve não acreditando em uma palavra que saira da boca de Lee.

"É o que Jeno diz." Da de ombros.

"E o que você diz?"

Toda a calma que Mark parecia ter evaporou naquele momento, seu coração bateu levemente mais rápido e suas mãos suaram, ele não sabia a resposta para aquela pergunta. Nunca soube colocar em palavras exatas, Park Jisung era realmente uma aberração, um desvio de qualquer padrão, regra ou costume.

Não respondeu a pergunta, Jisung entendeu seu silêncio como uma resposta e Mark permaneceu com seus devaneios presos na garganta.

Donghyuck chegou poucos minutos depois que Jisung foi embora sem se despedir deixando um beijo casto nas bochechas de Mark que sentiu seu corpo congelar por alguns segundos antes de ficar inquieto novamente.

"Park esteve aqui." Não era uma pergunta mas Mark se viu na obrigação de responder mesmo assim.

"Esteve."

baby blue love - marksungOnde histórias criam vida. Descubra agora