Quando veio à meia-noite, Natalie e Clarice chegaram a biblioteca a cavalo e foram até a porta dos fundos. Antes da princesa pegar a chave, um rato passou no pé de Clarice. Ela arregalou os olhos e soltou um grito. Natalie tampou a boca dela e pediu silêncio.
— Clarice, não coloque tudo a perder!
— Eu odeio ratos! São asquerosos.
Natalie revirou os olhos e depois pegou a chave embaixo do tapete da porta. Elas entraram sem fazer barulho e acenderam as luzes. Depois desse feito, sorriram por terem conseguido entrar e foram para a prateleira dos livros proibidos. Eram enormes, com letras pequenas e com as capas pretas. Os assuntos eram bem polêmicos, mas a Natalie pegou dois mais chamativos que discutiam sobre o Mundo Real. Com os livros em mãos, sentaram-se na mesa e ficaram folheando-os.
Ao começarem a ler, Natalie ficou entusiasmada ao saber sobre o amor entre mortais, mas a Clarice a alertou sobre os ciúmes em excesso e a violência. Também leram a parte sobre as crianças que passam fome e pessoas que vivem na miséria, sem dinheiro, casa, saúde e educação. Depois leram sobre a construção de uma família, o primeiro emprego, a primeira vez e etc.
De repente, a Clarice avistou o rato vindo em direção a ela.
— Natalie, me acuda! Ele está vindo até a mim para me matar.
— Deixa de ser medrosa, Clarice!
Clarice começou a tremer, e apareceu um gato preto que abocanhou de uma só vez o rato. Elas ficaram apavoradas com a cena, e o gato lambeu os beiços. Em seguida, o animal foi até elas e subiu na cadeira com uma expressão séria.
— Olá, gatinho! Obrigada por ter matado aquele bicho. — agradeceu Clarice.
A seguir, o gato preto transformou-se no mago Diógenes. Elas gritaram de susto e foram em direção a porta, mas o mago a trancou com a sua varinha mágica. As duas amigas ficaram o olhando, temendo o pior.
Ele sorriu e declarou:
— Meninas, não tenham medo. Eu não faço mal a uma mosca.
— E aquele ratinho? — lembrou, Clarice.
— Bem lembrado! Eu gosto de fazer um lanchinho mais diferente as vezes...
— Desculpe, mago! Nós só queremos... — interrompeu Natalie.
— Eu sei o que querem... Por isso, peço para que sentem a mesa para conversamos.
Elas sentaram à mesa, e ele guardou os livros pegos por elas, colocando em seus devidos lugares. Depois, sentou-se olhando-as nos olhos e falou para Natalie:
— Não pensei que fosse tão longe a ponto de envolver outra pessoa.
— Eu sei que foi errado entrar assim e pegar os seus livros, mas eu precisava saber sobre o Mundo Real.
— E o que achou? Porque pelo que vi, vocês devoraram os meus livros sobre esse mundo horrendo.
— Eu li que há coisas ruins, mas há coisas boas que eu queria muito viver.
— Sei...Tipo o quê?
— Tem tanta coisa... Eu sei que isso é um pouco estranho que deveria estar feliz aqui nesse mundo, mas percebi que há muito o que viver lá fora...Nós vivemos em um mundo, onde tudo pode acontecer, mas não é o bastante. Os mortais parecem ser tão livres e felizes com as suas vidas. Por que não experimentar isso? Eles vivem as coisas intensamente, pois um dia sabem que não existirão mais. E nós? Vivemos infinitamente aqui, sem saber ao menos o que é ser intenso. É claro que já foi escrito que seremos sempre felizes, mas será que somos felizes mesmo? Ninguém nos perguntou se isso era certo ou não. Por que para sempre? Por que não até um dia?
— Hum... E não gosta de morar no castelo do seu pai?
— Eu gosto, mas tenho que viver no Mundo Real, nem que seja por um tempo...
— Você é bem insistente! Sabe que lá tem lobos né? Mas não como o que tem na história da Clarice. Eu me refiro à mortais que são sem coração.
— Eu me arrisco! O senhor só tem que me levar até o Mundo Real.
Ele levantou-se e disse a ela:
— Bem, se é isso que deseja.... Eu concedo, mas com uma condição!
— Diga, por favor!
— Eu irei deixar você ir e só poderá ficar vinte e quatro horas no Mundo Real. Não poderá passar disso. Entendeu?
— Sério?
— Sim. Não pode viver lá para sempre como deseja, pois, nós somos seres fantásticos, por isso somos mais frágeis que os mortais e qualquer coisa pode colocar em risco as nossas vidas.
Natalie ficou sem palavras, e Clarice falou ao ouvido dela:
— Pelo amor de Deus, esquece isso! Você poderá morrer por lá.
— Fique tranquila, Clarice! Não vai acontecer nada comigo.
Enquanto isso, o mago pegou um vinho para beber e continuou:
— Acho melhor escutar a Clarice, princesa Natalie...
— Eu corro o risco!
— Ok. Amanhã à tarde, eu vou preparar tudo para que você possa ir...
Natalie e Clarice despediram-se dele e saíram. Durante o caminho, Clarice perguntou:
— Natalie, você tem certeza mesmo que quer ir?
— Sim, Clarice. Eu desejo muito isso, apesar de poder ficar por lá apenas vinte e quatro horas.
De repente, elas tiveram a impressão de serem seguidas e antes de chegarem na casa da vovozinha, o Lobovaldo apareceu na frente delas.
— Olá, garotas? Querem dançar com o lobão aqui?
— O quê? — perguntou Natalie.
Ele pegou a mão da Clarice e a ajudou a descer do cavalo. Em seguida, dançou um tango com ela. Natalie não estava acreditando no que estava olhando. Enquanto isso, Clarice observou os olhos castanhos do Lobovaldo, que estavam brilhando.
— Você é muito romântico! — elogiou Clarice.
— Sim. Eu sei, minha guloseima.
— Eu acho melhor eu ir... — declarou Natalie.
— Eu já vou, Natalie! — olhou para o lobo — Até logo, Lobovaldo.
— Oh my god! Mal posso esperar!
Ele foi embora correndo pelo o outro caminho da floresta, e Natalie disse a ela:
— Ficou maluca, Clarice? Ele é um lobo e pode te devorar.
— Claro que não. Ele é meu amigo, Natalie.
— Ok. Depois se virar jantar dele, não diga que não avisei. Se bem que não vai ter como você dizer mais nada para mim, né?
— Que isso, Natalie? Vamos esquecer isso e dormir?
— Vamos.
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A princesa e a camponesa (conto Natiese)
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