A CHUVA, AS LÁGRIMAS E A COMPRESSA DE GELO

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Havia me desligado do mundo enquanto corria pela base, não escutava as pessoas falando e nem os carros passando, apenas o som da minha própria respiração ofegante devido aos 10 minutos de corrida intensa. A garganta, as pernas e o abdômen doíam muito, a qualquer momento eu poderia cair sem forças, no entanto, isso me distrai um pouco do motivo por estar chorando. Um sorriso apareceu ao sentir algumas gotas de chuva cair em meu rosto e segundos depois, a chuva se intensificou me deixando encharcada em tempo recorde. Mesmo assim, permaneci no ritmo acelerado e as lágrimas se misturaram a chuva, transformando tudo em uma total tempestade de sentimento.

Concluí que Adam e eu não daríamos certo, nunca teria coragem de contar para a Chloe de como sou uma péssima amiga. Adam merecia uma mulher e não uma garota que nem ao menos tem coragem de tornar seu relacionamento público.

HEATHER! – ouvi alguém gritar – ME ESPERA, PORRA!

Diminui o ritmo para virar o corpo e ver quem era o dono daquela voz abafada pelo barulho da chuva forte, me arrependi de imediato pelo movimento. O dono da voz era a mesma pessoa na qual eu fugia naquele momento, tão molhado quanto eu e possuía uma expressão preocupada, o que me fez voltar a correr feito uma doida para longe dele. Continue a ouvir seus gritos e ordens enquanto tentava pensar num plano de fuga, para que não me visse num estado tão frágil.

Numa atitude estúpida e irracional, entrei numa trilha da reserva que havia na base, onde ocorria algum dos treinamentos de resistência. O som dos meus pés batendo nas poças de lama era um misto de alívio e libertação, como se a minha vida dependesse daquilo. Eu me sentia viva em meio ao caos que estava o meu peito, a minha mente e a ao meu redor, a chuva era o reflexo da minha alma naquele momento.Permaneci firme na decisão de fugir dele, mesmo que corresse o perigo de ficar perdida no meio da mata e acabar morrendo, nada me importava mais do que continuar correndo.

- PARE DE CORRER, AMOR! – o ouvi gritar – VAMOS CONVERSAR E RESOLVER ESSE MAL ENTENDIDO, POR FAVOR, HEATHER!

Mais lágrimas se misturaram a chuva, enquanto ele continuou a gritar.

PELO AMOR DE DEUS, HEATHER, VOCÊ VAI ACABAR SE MACHUCANDO! PARE DE CORRER, PORRA!

- VÁ EMBORA E EU PARO DE CORRER... VÁ EMBORA, ADAM! – resolvi gritar em resposta.

Escorreguei um pouco ao pular um barranco, entretanto, não afetou nem um pouco a minha fuga e com medo, eu podia ouvir o som dos seus passos chegando mais perto. Me permiti olhar um pouco para trás e fiquei mais tranquila ao ver que ainda não podia vê-lo, quando voltei a olhar para frente já era tarde demais para pular um tronco de árvore no meio do caminho cheio de lama.

Para amortecer um pouco a queda, apoiei as mãos no chão impedindo meu rosto se arrastar, porém, isso não foi o suficiente para que me impedisse de torcer o tornozelo e bater a cabeça em um tronco próximo do qual não consegui saltar. A dor foi tão forte que gemi alto. Ignorando toda a dor e a ardência nas mãos, sentei apoiando minhas costas no tronco.

Gemi de novo ao tentar mexer o pé torcido e de uma certeza eu tive naquele instante. Adam ia conseguir me alcançar.

Foi questão de segundos quando o corpo imponente apareceu de repente, pulou o primeiro tronco e com os olhos cheios de preocupação em meio a chuvarada, se ajoelhou ao meu lado.

- O que tinha na cabeça ao entrar nessa merda de matagal? Você ficou louca? – tentou tocar meu braço, eu o impedi.

- Vá embora, Adam, eu não aguento mais ter que conviver com isso. - Pedi mais uma vez – Você não entende? Se continuarmos com essa loucura ou vou perder um, ou vou perder os dois.

O Pai da Minha Melhor AmigaOnde histórias criam vida. Descubra agora