O Pai da Minha Melhor Amiga

A PROCURA DE LUCY

Heather

Lidar com a distância e a ausência física de Adam não foi tão difícil como eu imaginei que seria, pois graças à maravilhosa internet, eu conseguia falar com ele todas as semanas, seja por skype ou e-mail. Contava-me sobre o cotidiano e como a notícia do nosso namoro causou um burburinho entre os seus colegas, principalmente depois que souberam a minha idade. Não que fossem contra a nossa diferença de idade, mas sim por que jamais imaginariam que o tenente O'Donnell – o homem mais correto do mundo – se apaixonaria por uma garota com a idade da sua filha. Ainda tem o detalhe de eu ser amiga da Chloe!

Ele continuava a ser conhecido pelo mau humor, obcecado por disciplina e a boca suja, entretanto, mais um item foi adicionado a aquela lista enorme defeitos. Herói. Isso mesmo. Adam passou a ser um herói por não se importar com o que a sociedade vai pensar e se entregar sem restrições para a sua ninfetinha. Sempre acabo rindo ao pensar na careta que o monumento faz ao falar sobre o apelido que me deram pelas suas costas.

Desde o dia em que ele partiu, não mencionamos nada em relação ao conteúdo da caixa de presente ou a proposta do cartão, seguindo exatamente o plano de falarmos sobre o pedido apenas quando voltasse para os Estados Unidos.

Então a maior parte das nossas conversas era do nosso dia-a-dia, sexo e o ciúme sem sentido de ambos, que às vezes se transformava em uma conversa acalorada. A Chloe desaparecia do meu lado em frente a webcam nos primeiros minutos em que o pai rosnava algo pra mim e eu o respondia dez vezes pior. O amor é lindo, não é?

Tudo começou desde o momento em que anunciei que começaria a trabalhar na biblioteca da cidade junto com a Chloe, que estudava o máximo para conseguir uma bolsa em uma ótima faculdade. Enquanto eu me dedicava aos livros e a minha recente paixão descoberta... A escrita! Comecei a escrever sobre as lembranças mais felizes e inesquecíveis da minha infância, adolescência e os bons momentos que tive após conhecer a minha melhor amiga. Até mesmo as noites inesquecíveis com o Adam foram registradas.

Passei a me sentir como a vovó Lily se sentia sobre os seus diários... Todos os dias, para o bem da minha sanidade e alma, passei a escrever duas ou três páginas sobre o dia.

Não considero ir para a biblioteca todos os dias com a Chloe como um trabalho, mas sim uma sala de aula que me ensinaria tudo o que eu necessitava para me aprofundar na recente paixão e conversar com a minha melhor amiga, do mesmo jeito que acontecia no colégio. Só que o meu exagerado namorado não via por esse lado e fantasiou o ambiente cheio de garotos com os hormônios a flor da pele, como se ainda não existisse a internet com infinito acesso a informações sem precisar sair de casa. É claro que isso não lhe passou pela sua cabeça durante as crises dramáticas e explosivas dele. O único jeito de fazê-lo parar com a insegurança era mudar de assunto e perguntar sobre o esquadrão, se estavam todos bem como tanto afirmam nos e-mails que enviam.

Hoje não iria ser diferente, ajeitei os meus cabelos ondulados e sentei na cadeira giratória, sorrindo ao ver que o convite para a chamada de vídeo pelo skype já foi enviado por ele. Olhei mais uma vez para o espelho perto da escrivaninha e em seguida cliquei em "aceitar", me deparando com uma imagem que me desconcentraria no dia seguinte. A câmera me dava uma visão privilegiada de seu peito nu e parte do abdômen trincado, seus cabelos mais longos e a barba espessa o deixavam ainda mais atraente. Pelos olhos inchados, ele havia acabado de acordar e eu não perdi a oportunidade de caçoar:

- Por acaso perdeu o pente e o barbeador elétrico durante o vôo, amor?

Ele me olhou de forma ameaçadora e não economizou na ironia.

- Definitivamente era dessa forma que eu gostaria de ser saudado, querida!

- Onde está o seu senso de humor?