Of songs

O recado.

Eu dirigia em silêncio e apertava o volante com um pouco mais de força, cada vez que lembrava de para onde estávamos indo.

— Você podia melhorar essa cara, Luan. — estava demorando para a minha irmã abrir a boca.

Revirei os olhos e continuei em silêncio.

— Parece que está indo para um velório. — ela disse cruzando os braços e eu respirei fundo, controlando minha vontade de voltar para casa.

Bruna insistiu para que eu viesse ao aniversário da amiga junto com ela. O problema é que além de ser minha ex, Marília é a mulher que eu nunca deixei de amar.
Nos conhecemos na escola e mesmo não sendo a garota mais popular, ela se destacava entre as demais e provavelmente foi isso que chamou minha atenção. Ou talvez tenha sido a forma como ela sorria quando me via ou como seus olhos brilhavam cada vez que eu a elogiava.

Soquei o volante com força, fazendo minha irmã ter um sobressalto no banco do carona, ao lembrar que agora ela não era minha.

— Por favor, não surte. — o tom de voz da minha irmã era calmo, porém firme.

E eu sabia bem o que ela queria dizer com isso.

Nos últimos meses minha melhor companhia foram as garrafas de vodka. Para ser mais preciso, nos últimos cinco meses e quatro dias, o tempo exato em que Marília e eu tínhamos terminado.
Não era possível que seis anos de relacionamento fossem acabar assim. Seu primeiro beijo foi comigo, seu primeiro namorado fui eu e eu havia sido o único homem a tê-la na cama.
Pelo menos até o mês passado, quando eu soube que ela estava namorando um idiota qualquer.

Nós terminamos porque eu fiquei focado demais na porra do meu emprego e esqueci que eu tinha uma mulher linda me esperando em casa. Eu consegui uma promoção, porém perdi a mulher mais incrível que eu já havia conhecido.

Estacionei o carro em frente a casa dos pais da minha ex e respirei fundo antes de descer do carro.

— Você não precisa entrar, eu sei o quanto é difícil pra você. — Bruna disse segurando meu braço e eu arqueei uma das sobrancelhas lhe encarando.

— Se soubesse não teria passado o dia enchendo o meu saco para vir até aqui. — minhas palavras saíram mais ríspidas que o normal, mas esse era apenas um dos efeitos que a ausência de Marília causava na minha vida.

Haviam várias pessoas no jardim e provavelmente dentro de casa.
Eu só precisava vê-la e ter a certeza que ela realmente não sente mais nada por mim.
Eu só precisava disso e pararia de ligar para ela todas as manhãs só para ouvir sua voz sonolenta.
Eu iria embora se tivesse certeza de que ela não me ama mais.

— Alí está ela! — a voz empolgada de Bruna me tirou dos meus pensamentos.

Quando olhei na mesma direção que minha irmã olhava, eu tive a certeza de que eu não iria embora.
Minhas mãos começaram a suar e meu coração acelerou.
Marília ainda não tinha nos visto e isso me dava mais tempo para babar em cima da mulher que eu amo.

Como se pudesse sentir que eu a observava, ela franziu as sobrancelhas antes de olhar na nossa direção.
Eu conhecia cada expressão e cada gesto que ela fazia.
Eu sabia que as mãos dela estavam tremendo e por isso ela uniu as duas na frente do corpo. Sabia também que ela passou uma das mãos pelo pescoço porque sua pele se arrepiou e sabia que mesmo com minha irmã ao meu lado, seu olhar e sua atenção estavam focados em mim.